36. Perder

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Perder | v.

per.der

Uma palavra. Duas sílabas. Seis letras. E um corredor sem saída.

 E um corredor sem saída

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Anna

Meus joelhos fraquejam, como se tiros reverberassem em meus ossos. Mãos me amparam de todos os lados, arrancando o irmão de Ken de meus braços. O mundo brilha em vermelho e tem gosto de lágrimas, muitas lágrimas. Pessoas demais me chamam, porém eu não escuto nenhuma delas de verdade. Eu sei onde meu pai está, é tudo que consigo pensar.

— Anna — Gabriel chacoalha meus ombros —, precisamos sair daqui.

Ele me puxa, mas eu me desvencilho do toque, cambaleando de volta para o túnel de sombras.

— Não posso ir embora sem meu pai. — Me afasto dele. — Eu sei onde ele está. Só preciso ir buscá-lo.

Ken se aproxima, seus braços brilhando em chamas.

— Vocês são os últimos, Anna. — Aponta para mim e para seu irmão encolhido nos braços de Petra. — Não sei por quanto tempo vamos conseguir segurar os guardas. Temos que ir antes que fique mais perigoso. Libertamos quase todos.

Quase todos, as palavras ecoam em minha mente. Quase todos. Meu pai não está entre eles.

Nego com a cabeça, o que nubla minha visão. Pisco com força.

— É loucura voltar para lá — Gabriel continua, apontando para os túneis. — Vamos para a base da Rebelião. Podemos traçar um novo plano depois para resgatar seu pai.

Mas a Rebelião jamais se arriscaria apenas para salvar papai. Eu não posso deixá-lo.

— Ela precisa tentar — Petra diz e aperta minha mão. — Vá salvá-lo. Vamos atrasá-los pelo maior tempo possível.

Fito Matteo ao meu lado, seu braço firme ao meu redor, me impedindo de cair. Uma vontade avassaladora de abraçá-lo me toma, porque ele está vivo.

No lugar que apenas o sangue de alguém como você pode abrir, as palavras de Ayla retornam com força. Pergunte a Matteo.

— Preciso ir para a Cidade das Trevas. — É tudo que digo.

— Nós precisamos — Gabriel me corrige, apontando para si e para Matteo. — Não vou deixar você de novo, Anna. Não posso perder você também.

Também, um nó apertado se forma em minha garganta, porque sei o que essas palavras implicam: Teresa está morta.

Não tenho tempo de dizer nada, pois Gabriel pega minha mão, me puxando em direção ao túnel de sombras. Os gritos de reprovação de Ken são abafados pelos tiros e pelo bater de meus sapatos contra pedras.

Cidade dos Corações Sombrios | Livro 1 | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora