10. Rebelião

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Rebelião | s.f.

re.be.li.ão

Uma palavra. Quatro sílabas. Oito letras. E o início de uma revolução.

 E o início de uma revolução

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Anna

Meus olhos e os de Gabriel têm olheiras mais escuras do que nunca, como uma prova da noite passada. Depois que as lágrimas secaram, nos deitamos no jardim, observando estrelas que um dia já foram mais brilhantes. Naquele instante, eu imaginei se meu pai já fazia parte delas, mas parecia cedo demais para acreditar.

Nossos vultos se misturavam às sombras, que abraçavam minhas pernas como boas amigas. Gabriel não tentara espantá-las, e então, com seus dedos entrelaçados aos meus, eu procurei me esquecer delas. O garoto parecia não ter medo de que algum guarda nos encontrasse, com o negrume para nos esconder.

O ar dançava ao meu redor. Pela primeira vez em muito tempo, eu deixei que ele se libertasse. Gabriel não parecia se importar com os poderes ou temê-los. Na verdade, ele até mesmo ria quando o vento bagunçava seus cabelos.

— Você acredita nos mitos? — perguntei, observando sua silhueta sombreada. — Acredita em todas as histórias sobre Tempo?

— Sim — ele respondeu, apertando minha mão. — Você é uma prova de que elas são reais, não? Pelo menos uma parte delas.

— Às vezes, eu queria que elas fossem mentiras. Queria que nosso mundo fosse uma grande e horrível mentira. Eu queria poder acordar do pesadelo antes que fosse tarde demais.

Gabriel deslizou os dedinhos por minha mão e a beliscou suavemente.

— Você acordou? — perguntou, voltando seus olhos para mim.

Ri de sua expressão leve e de seu sorriso doce, negando. Meu estômago se contorcia a cada risada, porque eu ainda sentia o gosto do chá que ambos bebêramos. Um chá amargo sem o açúcar e perfeito para mascarar uma poção.

— Então acho que não é um sonho. — Gabriel apertou meu nariz antes de voltar a se deitar.

O observei, tentando ver se o elixir já fizera efeito, embora soubesse que era cedo demais.

— Sabe, Anna — ele murmurou, virando-se para mim ao se apoiar nos cotovelos —, você não precisa carregar tudo sozinha. Não precisa tentar equilibrar o peso de todos os mitos nas próprias costas.

Gabriel se aproximou e deu um beijo em minha testa. Sua mão voltou a encontrar a minha, e seus dedos deram batidas suaves em minha pele. Eu estou aqui, eles quase sussurraram no silêncio. Então eu repeti, batendo na palma de sua mão. Eu estou aqui.

A memória não poderia estar mais distante agora, como se apenas as olheiras fossem capazes de recordá-la. O mundo volta a ser negro quando o rádio que Gabriel consertou chia durante o café. Esperamos até que o chiado diminua, mas não é voz grossa do interlocutor de notícias que preenche a sala, e sim, uma gravação robótica:

Cidade dos Corações Sombrios | Livro 1 | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora