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- Sn - acordo com o meu nome sendo chamado em meio a gritos.

Antes que eu possa processar a sombra que vejo com minha vista embaçada, a água presa nos meus pulmões sai rapidamente, sem o meu controle.
Começo a tossir insaciavelmente até a sensação horrível de sufocamento diminuir. Quando sou capaz se abrir os olhos vejo que estou na praia, com um garoto loiro ao meu lado.

- desculpa sn, me desculpa de verdade - ele diz em meio a soluços com o olhar marejado, não está chorando, apenas assustado, muito assustado.

Me esforço para lembrar seu nome, ou qualquer vestígio que possa me dizer da onde conheço aquele garoto, ou se é que o conheço.
Ele nota minha expressão confusa quando pergunta:
- o que foi? Acho que a prancha te atingiu com muita força.

- que prancha?

Me esforço para entender do que ele está falando, ou onde estou, mas nada, nenhuma memória, apenas meu nome ecoando no vazio da minha cabeça.
Sua cara fica ainda mais aterrorizada, e em um ato de desespero ele me levanta.

- vamos Sn, sem brincadeira, antes que o furacão venha.

Furacão? Cada palavra que saia da boca daquele menino à minha frente me deixava mais confusa.

- Não - me retraio de seu toque, caindo no chão - não vou com você a lugar nenhum.

- Sn, qual é? - Vejo esperança nos seus olhos para que eu esteja encenando, mas por que estaria?

- Sn, por favor - a fala quase não sai de sua boca, o seu nó na garganta estava o impedindo de falar comumente.

Não sei o que fazer, não sei absolutamente de nada, apenas o meu nome, Sn! Repito para mim mesma, diversas vezes. Tento, me esforço muito para lembrar de qualquer outra informação, qualquer que seja, não consigo... Quanto mais penso, mais vazio encontro no meu cérebro. A sensação de desespero começa a tomar conta do meu corpo, não sei onde estou, quem é este garoto na minha frente implorando para que eu vá com ele, não faço ideia do que está acontecendo, ou até mesmo quem eu sou.
Repito Sn, Sn, Sn, Sn incontáveis vezes em meio aos soluços e lágrimas que derramo. Repito tantas vezes que meu próprio nome começa a perder sentido, parece apenas sílabas combinadas, o repito mais algumas vezes, e as sílabas se transformam em meras letras embaralhadas aleatoriamente, mais algumas repetições e meu nome se transformou apenas em sons emitidos pela minha boca.
Gritos, Gritos de desespero escapam entre meus lábios, a minha cabeça que estava vazia, agora está atordoada, gritos escapam de uma pessoa que entendo como eu, porém não sei com se parece, gritos escapam de lábios que sinto com minhas próprias mãos, mas que nunca vi antes. Gritos, gritos e mais gritos até que minha voz não sai mais, a voz que eu nem sabia como era até minutos atrás.

O garoto minha frente continua implorando pela minha calma, para que faça silêncio e o acompanhe. Só noto que está chovendo quando confundo o molhado de minhas lágrimas com as gotas de chuva. Meu cérebro alterna entre silêncio e tormentos, toda vez que me faço a mesma pergunta: Quem sou eu?

Fico em silêncio, por alguns segundos, minutos talvez, quem sabe, horas. Meus olhos se cruzam com os azuis do menino, ele continua, continua falando desesperadamente, palavras que meu cérebro não processa. Não ouço nada que seus lábios estão dizendo, apenas sei que está falando pelos movimentos repetitivos e contínuos que ele faz com a sua boca.
Seus olhos espairecem desespero, quase rio quando vejo que ele está tão desesperado quanto eu. As lágrimas param de rolar pelo meu rosto enquanto fico me perguntando o porquê dele estar tão aflito, seus olhos tentam me dizer alguma coisa, alguma coisa que não consigo entender.

E, subitamente, sou invadida com turbilhão de memória, repentinamente me lembro de tudo, da prancha atingindo minha cabeca, em uma região que lembro ter aprendido como córtex pré-frontal, na aula de biologia, no 8º ano. Do meu corpo caindo sobre o mar, da sensação de desespero por tentar me mover, mas meu cérebro não responder aos meus extintos. Da água fria e salgada do mar finalmente invadindo meu pulmão após a minha luta silenciosa contra isso, até o momento de apagão, onde minha consciência decidiu ir embora, levando minha memória consigo.
Lembro de tudo, muito mais do que lembrava antes do incidente, minha memória nunca fora tão eficaz, cada detalhe, sorriso, lágrimas que na dei, cada sentimento que ja senti, cada segundo da minha existência, tudo isso invadindo meu cérebro em fração de segundos, não... Fração de milésimos.
E me lembro do nome do garoto que está a minha frente.
- JJ - grito em direção aos seus braços, sua boca finalmente para de se mover, quando me afasto de seu abraço, observo seu cenho franzido, ele está completamente confuso.

- Vamos logo, antes que o furacão venha - volto a dizer, guiando-o pelo braço em direção à rua.

- Você está bem? - ele fala me puxando de volta a si.

- Sim - minto.

Não estava nada bem, completamente o oposto disso, todos meus traumas invadiram meus pensamentos de uma vez só, e a mesma força que fazia para lembrar deles minutos atrás, estou fazendo para esquece-los.

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Dois episódios seguidos gente, que felicidade.
Oi gente, esse capítulo ficou menor do que gostaria, mas estou bem satisfeita, deem o feedback nos comentários por favor.
Essa perda de memória vai ser sim um conflito a mais na história, pois trouxe os traumas de volta a vida de Sn.
Deixem sugestões ai nos comentários.
<3

Life in Outer Banks - S \ nOnde histórias criam vida. Descubra agora