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- Sn, o que você tá fazenda aí? - o carro de alguém para ao meu lado, iluminando a estrada vazia.

Dou meia volta e acelero meu passo, está muito tarde pra ficar conversando com os estranhos.

O carro não perde tempo para fazer a curva e da ré em minha direção.

- Sn? É o Rafe!

Ótimo, ótimo, ótimo, ótimo.
Desejava que fosse um estranho no lugar dele, o que esse babaca quer?

- que foi Rafe? - paro em frente a ele, evito a todo custo contato visual, não quero que ele me veja chorando, mas a voz embargada não ajuda.

- entra aí! - ele diz, batendo na parte de fora do carro, que provavelmente é do seu pai, já que ele não tem responsabilidade nenhuma.

- não - dou de costas para ele e continuo andando.

Ele acelera o carro e vem atrás de mim.

- Entra aí logo - ele nota minha resistência e continua - sabe que você está indo pro figure 8 né? A casa de John b é pra lá - ele aponta pro lado oposto da caminho que eu seguia.

Perfeito! Estou há pelo menos quarenta minutos andando pra direção errada, pra melhorar.

- Não Rafe, não estou afim disso hoje, só quero ir pra casa - na verdade, não quero ter que ir para a casa de John, preferia mil vezes dormir na rua.

- Se quiser chegar lá viva... - ele faz um gesto para eu entrar - eu não vou ficar aqui parado esperando, essa é a última vez que ofereço.

Percebo sua impaciência e entro no carro, sei que vou me arrepender depois, mas não posso ficar andando sozinha na rua.

Acho que Rafe nota meu desconforto e não olha para mim, quer dizer, não diretamente, as vezes seu olhar cai sobre meu rosto, mas diferente dos olhares que já me deu, de raiva ou até de desejo, esse olhar é semelhante ao dia que ele viu "meu" teste de gravidez, é um olhar estranho, preocupado.

Quando finalmente chegamos a vasa de John, noto as luzes da sala acesas, indicando que alguém, além de John, ainda está por lá.

Ficamos alguns minutos parados em silencio diante a casa, até algum de nós dois fala.

- Não vai descer? - Rafe pergunta impaciente.

Faço que sim com a cabeça.

- Será que tem como me deixar em algum hotel?

Não quero entrar lá com a cara enxada depois de  chorar, não quero ter que lidar com ninguém agora.

- Você me fez dirigir até aqui por nada? - ele aumenta o tom da voz, quando nossos olhares se cruzam, ele diz mais calmo - desculpa, hã... você tem dinheiro? Pra pagar a diária do hotel?

- Sim - minto.

Ele nota.

- Tem algum lugar pra ficar? - ele não recebe resposta - pode ficar lá em casa - suas palavras me surpreendem tanto que não sou capaz de dizer nenhuma palavra - ou então fica chorando no carro.

- Você não consegue falar uma frase sem ser babaca? - pergunto, indignada.

Boto a mão na maçaneta abrindo a porta do carro quando ele me interrompe.

- Vai, da um desconto - ele pede, me puxando para dentro do carro - estou tentando.

Sei que ele está tentando ser uma pessoa "legal", mas isso não anula as merdas que falou. De qualquer jeito, meu dou por vencida já que não tenho uma opção melhor do que ir com ele.

Life in Outer Banks - S \ nOnde histórias criam vida. Descubra agora