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- você não pode ficar me ignorando a tarde inteira - fala, com um sorrisinho no rosto, jogando a bola na parede e esperando ela voltar em suas mãos.

Faz meia hora que o resto do grupo foi embora e estamos em silêncio até agora, eu já tinha desistido de ficar brava com o JJ antes deles irem, queria ficar brava com ele, eu deveria ficar brava com ele, mas ele continua fazendo comentários engraçados e percebi que se eu ficar irritada com ele mesmo depois de rir de suas piadas bobas vou parecer uma tola.

- Claro que posso - minto, não podia, mesmo que tentasse.

- Claro que não, não fiz nada pra você - ele novamente joga a bola que já havia voltado pra sua mão.

- eu to dando o troco - faço meu máximo para segurar a risada.

Ele sabe que não estou mais brava, só está querendo me irritar, mas é divertido mesmo assim.

- desculpe, troco pelo o que? - fala sarcasticamente, imitando um sotaque britânico.

- Por você ser um chato - digo, provocando.

- não sabia que ficar sem fala comigo ia te deixar de tanto mal humor - ele faz uma pausa - gatinha.

Suas palavras ditas de maneira brincalhona são mais que o suficiente para me fazer corar, ele não me encara diretamente, mas sinto seu olhar pesar sob mim de canto de olho. Sei que ele sabe que estou vermelha, só quer observar a cena.

- Porque não estou, estou mais do que de bom humor - jogo a almofada nele, fazendo com que derrube a bola.

- Ei! - ele diz irritado - estava batendo meu recorde sn.

Finjo uma cara de surpresa, que só serve para provoca-lo mais, e vou até o banheiro, tomar banho antes que a tempestade derrube a energia ou sei lá. Ele pega a bola e continua arremessando-a na parede.

• • •

- Sn - JJ grita do lado de fora do banheiro quando desligo o chuveiro.

- Oi -  respondo na mesma entonação, me enrolando na toalha.

- Vou até a praia rapidinho, pegar umas ondas.

- O que? - grito abrindo a porta do banheiro, e me deparando com a sua figura.

- vou até a praia rapidinho, pegar umas ondas - repete após uma espiada sutil em mim.

- Tá maluco JJ? - pergunto ainda com o tom alto - tá acontecendo um furacão lá fora e você quer ir surfar?

Estou indignada com a falta de senso dele, surfar? no meio da tempestade? No que ele esta pensando?

- Não vou atravessar a tempestade, só surfar, o furacão ainda nem chegou, fica fria.

- Não vai mesmo, perdeu a cabeça?

- Não lembro de ter pedido sua permissão - diz saindo da minha frente e andando em direção à porta.

- Então me espera, que vou junto.

Não queria ir junto, não queria nem sair de casa para começo de conversa, mas não posso ficar aqui sozinha. Nem morta vou deixar ele ir, sem ninguém, se ele for, vou junto.

- tá - ele revira os olhos - então se arruma rápido.

- você é insano, JJ - ando apressada até minha mala, pego qualquer peça de roupa, não me importo com o que vou vestir, sei que não vou ganhar a discussão e essa é minha única opção.

Ele é um idiota, um grande idiota, um burro, repito isso varias vezes enquanto volto para o banheiro para me vestir. Não acredito que estou me sujeitando a isso, não acredito, se pudesse colocar meu ódio em palavras, tenho certeza que ia ser uma carta de homicídio.

- pronta? - pergunta o garoto sentando no sofá a minha frente.

- O que você acha?

Ele se levanta e caminhamos até fora da casa, o vento estava horrível, mas ele não hesita, pega sua prancha, que foi largada no chão por ele mesmo mais cedo, enquanto passava parafina.
Pego a prancha de John para mim, e ele sorri pra si mesmo, enquanto enfia aquele maldito palito entre os dentes. Ele não acredita que vou surfar com ele, sei que acha que não vou entrar no mar com ele, mas claro que vou, não irei dar para trás, quero que ele perceba o quanto é burrice surfar no meio da tempestade.

- Qual é? vai ficar com essa cara de emburrada? - JJ me pergunta após 15 minutos andando em silêncio, ja estávamos com o pé na areia.

- Claro que não JJ, eu to feliz pra caramba.

- Esse é o espírito - ele diz, mesmo entendendo meu sarcasmo.

- Você vai mesmo fazer isso? - pergunto, depois de ver o mar agitado e ficar preocupada com a falta de hesitação dele.

- Por que não?

- Por que sim? - questiono sem acreditar na imbecilidade de suas palavras.

- não tenho nada a perder, muito menos você.

Ele observa meu silêncio quando acrescenta:
- não precisa entrar se não quiser.

- eu sei disso - é óbvio que não preciso entrar se não quero - se você vai, eu vou.

- você nem sabe surfar.

- E daí? Não tenho nada a perder.

Na verdade, tenho sim, minha vida, e apesar de não a mínima vontade de por meus pés na água, eu vou. Quero que ele saiba que o que está fazendo é ridículo, e está pondo sua vida em risco, mas ele parece não se importar, não importa o quão óbvia é a situação.
JJ corre para o mar, eu o acompanho, antes de entrar, ele para um segundo para observar a vista. O mar estava maluco, ondas muito maiores do que eu se quer já cheguei perto, não sou boa com números, mas chuto 2,5 metros para aquilo. É loucura, loucura total, só de estar em frente ao oceano em meio a tempestade, sinto calafrios por todo meu corpo. O furacão ainda não estava aqui, não sei se vai passar por cima da ilha, mas a ventania é tanta que meus cabelos já estão uma bagunça, assim como os de JJ. A areia voa em direção aos nossos olhos e tive que proteger a área para não ficar cega.

Então JJ entra no mar, eu sigo cada movimento que faz, leva a prancha, remando, até um pouco antes de onde as ondas começam a se formar, e eu reflito seus movimentos, como um espelho.

- Já estamos no inside - grita alto, para que possa escutar sua voz em meio aos fortes ventos barulhentos - agora é só subir na prancha e remar.

Assim como dito, JJ sobre na prancha quando uma grande onda vem, não tenho tempo de acompanha-lo, então apenas o observo sendo levado pra mais perto da superfície. Espero uma onda boa chegar, para eu usar os poucos de conhecimentos que adquiri sobre surf nesta última semana.
Subo na prancha com velocidade e muita dificuldade quando uma onda não muito grande vem, tenho dificuldade em manter equilíbrio mas logo consigo, me mantenho em pé, sentindo a briza forte do vendo sob meu rosto, até cair no mar próxima ao JJ.

- Divertido não? - ele me pergunta.

Apesar de ter gostado, não darei esse gostinho a ele, essa ideia ainda é maluca e quero dar logo um fora daqui.
O mar fica mais movimentado a medida que o vento ganha força. Já está bem difícil se movimentar contra a correnteza.

- JJ vamos embora - peço sem muita esperança que aceite meu pedido.

- Só mais uma Sn.

Começa a remar de novo para a região que ele se referiu como "inside" mais cedo, não faço a menor ideia do que significa, apenas sigo-o.
Uma onda grande vem, e o garoto não perde tempo, sobe no seu equipamento tão rapidamente que não consigo acompanhar com os olhos.
Olho para trás e vejo uma onda se formando, sem pensar muito, me preparo para pega-lá, JJ diz ser a última, quero ir logo embora daqui.
Quando subo na prancha, vejo que a onda está um pouco mais intensa do que imaginei. Não estou conseguindo manter me em equilíbrio, meu pé escorrega da prancha e vejo ela subindo em minha direção.

Life in Outer Banks - S \ nOnde histórias criam vida. Descubra agora