Terceiro dia - Ed Warren

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Terceiro dia
Ed Warren

– Sim, Padre, eu sei. Desde que começamos a trabalhar juntos, sempre soubemos que o exorcismo é perigoso para todos ao redor. – Suspirei alto. Eu havia ligado para Padre Gordon a fim de questionar se ele teria alguma ideia do que estamos vivendo, se ele sabe o que pode estar causando isto. – Não entendo o que pode estar acontecendo e preciso de um auxílio.

– Eu estou com a agenda livre na parte da tarde. Posso ir até a sua casa, para conversar com você? – Padre Gordon ofereceu.

– Pode vir, por favor. – Eu disse. – Judy volta da escola depois das 17h da tarde, acredito que será ainda melhor. – Garanti, mesmo que a pequena não nos atrapalharia.

– Estarei aí, não se preocupe – Ele respondeu – Ed.

– Oi, Padre.

– Tenta descansar. Por você e por Lorraine, é o que você pode fazer neste momento. – Suspirei. – Até mais tarde, filho.

Coloquei o telefone na base novamente e fui para a cozinha me servir um grande copo de café preto. Descansar, como sugeriu Padre Gordon, é uma das poucas coisas que não vou conseguir fazer enquanto não falar com Lorraine.

Da cozinha, observei o tempo do lado de fora. Nublado, assim como eu me sentia. Uma fagulha de sol tentava aparecer, porém sem muito sucesso com todas as nuvens que estavam ao redor, pesando o clima.

Lavei o copo usado após beber todo o líquido e fui para o meu escritório. Alguma coisa estava passando por meus olhos sem que eu conseguisse enxergar. Me lembro apenas do momento em que estava ajudando o Padre, segurando Maurice na cadeira enquanto ele prosseguia com as orações, no próximo minuto o homem já tinha capturado os braços de Lorraine. O grito que saiu de sua garganta foi intenso e partiu meu coração em pedaços. Eu nunca a vi gritar daquela forma.

Corri para minha esposa, mas Frenchie me empurrava com uma força absurda. Quando finalmente consegui soltá-la, levei ela para longe do homem e a abracei. Eu estava morrendo de medo, mesmo sem saber o que ocorreu, o que Maurice pode ter feito com ela. Olhei por seu braço e até onde meu olhar chegou, não encontrei nenhum hematoma. Menos mal.

Segurei seu rosto entre minhas mãos, procurei por qualquer sinal em seus olhos, mas como poderia esperar, Lorraine mostrou o quão forte é e nos mandou cuidar de Maurice. Assim fizemos, mas o rapaz já havia tirado a própria vida, ali, ao nosso lado.

Se pudesse voltar atrás, certamente o faria. Não consigo pensar em nenhuma outra explicação racional para o que aconteceu e todas as teorias em minha cabeça soavam loucas demais para serem realidade. Minha esposa é a mulher mais forte e corajosa que conheço, mas desta vez os danos parecem irreversíveis. Não posso deixar de me sentir culpado por tudo aquilo, afinal eu a convenci de que deveríamos ajudar aquele rapaz.

Cercado pela culpa, não pude evitar pensar no que Lorraine deve estar sentindo para se trancar daquele jeito. Senti lágrimas descerem pelo meu rosto copiosamente. Eu preciso ajudá-la, mas principalmente, respeitar seus sentimentos; se ela deseja ficar sozinha por um momento, assim será. Preciso deixar claro para ela que estou por perto, não importa o que aconteça, mas deixar que ela entenda o que está sentindo sozinha - por mais difícil que isso seja.

Aproveitando o momento em que estava sozinho – Padre Gordon ainda não chegara e Judy está na escola –, ajoelhei-me próximo ao pequeno altar que temos em casa e rezei. Rezei para que o que estivesse atormentando Lorraine se dissipasse e sumisse de nossas vidas, rezei para que minha mulher volte para mim e não sofra mais, rezei pelo meu casamento e a união que tenho com ela.

– Meu Deus, eu o imploro. Ajude Lorraine a resolver esta questão que está a atormentando. Me ajude a ser forte o suficiente para quando ela estiver pronta para se abrir novamente e que eu seja o suficiente para que ela se sinta segura. Guie-nos por esse caminho tortuoso e nos mostre a luz mais uma vez. Precisamos de ti. – Eu clamava.

Feels Like ForeverOnde histórias criam vida. Descubra agora