Quarto dia
Ed WarrenCheguei em um estado que não me reconheço mais. O desespero tomou conta de mim, minha mente só consegue imaginar cenas do que minha esposa está passando, flashes daquela noite, revivo momentos que vivemos juntos.
Estou no inferno, queimando vivo.
Não consigo nem mais esconder meus sentimentos e, quando noto, lágrimas caem por meu rosto, todo o tempo.
As palavras de Padre Gordon continuam ecoando em minha cabeça. Seria mesmo possível?
"O maior medo dela pode ter tomado vida através de alguma visão. Ela pode ter visto algo acontecendo com Judy. Ou até mesmo com você."
Não sei se a teoria de Padre Gordon estava correta, mas faz todo o sentido. Lorraine é tudo para mim e vice-versa. Se eu visse, sentisse ou sequer imaginasse algo acontecendo a ela, não sei dizer o que seria capaz de fazer.
Para Lorraine, todos os sentimentos tinham o dobro de reação. Ela conseguia sentir além do que qualquer outra pessoa e aquilo a derrubava. Muitas vezes, ao voltarmos de alguns casos, percebia que ela ficava mais amuada, mais quieta, mas nunca chegou ao ponto que estamos hoje. Já se completam quatro dias desde que voltamos do caso e Lorraine se trancou em nosso quarto.
Mais cedo preparei o jantar para Judy e eu. Deixei um prato de comida para Lorraine do lado de fora do quarto, na esperança de que ela sentiria o cheiro e tentasse comer algo. Sem sucesso.
Tentei distrair Judy e a mim e passamos algumas horas jogando os jogos de tabuleiro que comprei para ela. A menina se divertiu muito e fiquei feliz de ter sido a pessoa que colocou aquele sorriso em seu rosto. Brincamos até que a pequena não aguentava o olho aberto, de tão cansada.
– Venha, meu bem. – Estiquei a mão para pegar a da menina. – Vou preparar o seu banho.
– Estou cansada, papai – Disse a pequena, esfregando os olhos.
– Sei que está, mas precisa tomar um banho antes de deitar, para relaxar durante o sono, está bem?
– Pode ser bem rapidinho? – Perguntou e fingi estar pensando.
– Mas amanhã cedinho vamos acordar pra lavar seu cabelo antes de ir pra escola, tá bom? – Fiz um trato.
– Tudo bem. Só quero dormir. – Bocejou. – Hoje foi um dia cansativo.
Estávamos conversando enquanto eu deixava tudo pronto no banheiro e ela se preparava para entrar no banho.
– Ah é? E o que fez de tão cansativo? – Entrei em seu assunto.
– Tive Educação Física e a professora fez todo mundo participar dessa vez. Tive que ficar correndo em círculos pelo ginásio, igual um ratinho na gaiola. – Dei risada da comparação que a garota fez. Ela com certeza puxou o humor da mãe.
Pensar em Lorraine doía em meu peito. Sem saber o que minha mulher estava sentindo, quando voltaria a conversar conosco e sairia daquele quarto. Quando iria partilhar comigo seus pensamentos novamente. Era quase como se eu a tivesse perdido.
Preciso lutar por ela. Urgente.
– Está me ouvindo, papai? – Judy me chamou a atenção.
– Claro que estou. Você falava do seu dia na escola hoje. – Falei, torcendo para não ter perdido alguma parte da história.
– Na verdade eu estava perguntando se posso dormir na casa da minha amiga amanhã. Vamos fazer uma festa do pijama.
– Ah, isso... – Pensei no que Lorraine diria caso Judy lhe pedisse isso. Acredito que ela não teria problemas e acharia ótimo saber que nossa menina está fazendo amigos. Sabemos que nossa carreira impacta diretamente na vida social de Judy. – Acredito que não tenha problema. Você precisa chegar que horário na casa dela?
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Feels Like Forever
Lãng mạn"Tudo o que a Lorraine vê, sente e toca ajuda as pessoas, mas isso causa danos a ela. Um pouquinho de cada vez. Alguns meses atrás, estávamos trabalhando em um caso e ela viu algo. Foi muito desgastante. Quando chegamos em casa, ela entrou no nosso...