capítulo 24

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Eu estava paralisada. Já era o dia de me encontrar com meus pais e a ansiedade falava por si só. O sentimento de medo da verdade era difícil de esconder. Eu não sabia como iriam me explicar o fato de terem me abandonado. Quando Georgina chegou ao apartamento, Alex estava lá. Ele já sabia quase tudo sobre ela, já que eu contei muitas coisas da minha vida. O mesmo não foi com a cara da minha ex melhor amiga, dava para notar, mas ambos saíram para me deixar a sós com meus pais.
Quando eles entraram senti um arrepio. Era como se eu fosse saber quem eu era. A história da minha vida estava prestes a ser contada. Eu ainda não sabia se queria ouvir, mas mesmo assim dei a cara a tapa. Nunca me importei com eles. Uma coisa qual aprendi desde pequena era que eu não deveria sentir nada por aqueles que haviam me deixado. Queria poder seguir essa regra com outras pessoas além dos meus pais, mas obviamente eu não conseguia.

- Esperamos muito uma resposta sua. Ficamos felizes quando sua amiga nos comunicou que finalmente havia aceitado nos ver. - disse a mulher aparentemente emocionada.

- Sente-se por favor. - respondi engolindo seco.

Os dois se sentaram no sofá amarelo que existia no meio da sala e eu me ajeitei em uma poltrona. O silêncio de início foi constrangedor, mas logo resolvi adiantar aquela situação incômoda.

- E então? - pausa - Querem começar a me contar?

- Claro. - ela assentiu - Eu sei que nada que eu possa dizer vai mudar o que aconteceu nesses anos, mas eu queria muito que soubesse que nunca deixamos você por não te amarmos.

- E então me deixaram por qual razão? - franzi a testa.

- Nós éramos muito pobres. A vinte anos eu trabalhava numa casa de família rica, mas me pagavam muito pouco. - pausa - Seu pai e eu não éramos casados e nem namorados. Apenas ficamos por uma noite.

- E nessa noite eu me declarei a sua mãe, mas ela me rejeitou depois de passarmos uma noite ótima juntos. Eu não entendia, mas soube quando ela me disse que estava grávida. - o homem disse.

- Vocês não ficaram comigo porquê não eram um casal? - bufei - Não poderiam cuidar de mim separados? - me revoltei.

- É mais difícil que isso querida. - continuou - Eu era muito jovem. Tinha a sua idade quando engravidei. Com dezenove anos naquele tempo eu não tinha independência. Eu tinha que viver naquela mansão e infelizmente, acabei aceitando muita coisa calada. - disse soltando algumas lágrimas.

- Onde você quer chegar? - perguntei cheia de farpas.

Eles se olharam e o homem segurou firme na mão dela. Eu percebi que vinha alguma coisa muito pesada daquela troca de olhares intensa entre eles.

- Eu estava presa. Eu sofria abusos do meu patrão diariamente. - abaixou a cabeça - Quando ele soube sobre minha gravidez imaginou que pudesse ser dele e me obrigou a abortar. Ele ficou maluco achando que isso acabaria com o seu casamento e a sua família. - raspou a garganta - Ele já tinha uma filha e disse que não teria outra, muito menos com a empregada.

Fiquei impactada em saber que aquela mulher, a minha mãe, sofria abusos. Aquilo me deixou ainda pior. Talvez eu fosse fruto de um estupro. Ou talvez aquele que estava dizendo ser meu pai ao lado da mulher fosse o meu pai. Eu estava confusa.

- Você não podia fugir?

- Dele não. Eu fiquei extremamente frágil e presa. - soluçou.

- Eu já não trabalhava mais na mansão quando ela teve você. Eu estava preso por roubo. - pausa - Mas não, eu não roubei nada. Ele fez isso pra me manter longe da sua mãe. Ele era maníaco e obcecado por ela. - disse o homem.

- E então, quando você nasceu, aquele homem te tirou do meu colo e me fez assinar um papel. - chorou - Ele me fez te entregar a adoção!

Eu não sabia ao certo o que pensar. Estava tudo um grande e intenso branco na minha memória. Primeiro eu tinha que lidar com aquela mulher me dizendo sofrer abusos, depois tinha que lidar com ela ser obrigada a se desfazer de mim e depois ainda tinha que cogitar ser fruto de um estupro. Minha cabeça se desligou por alguns segundos.

- Sua mãe não teve escolha. Quando ela se livrou daquele maldito, acabou me procurando e me disse tudo, mas já haviam se passado três anos. - pausa - E então começamos a procurar você. Procuramos por todos esses tempo, mas nunca tivemos respostas. Até chegarmos no seu orfanato e nos depararmos com sua amiga. Dissemos a ela que nossa filha se chamava Camila. Sua mãe deu esse nome quando aquele maldito Wayne te levou.

A história toda era chocante demais. Eu estava tentando entender onde aquilo daria. Eu era filha daquele homem que se casou com a minha mãe ou eu era filha do patrão abusador e filho da puta? Era isso que pairava a minha mente.

- Eu me culpo todos os dias por não ter sido mais forte quando ele te levou pra longe de mim. - abaixou a cabeça.

A mulher chorava desesperadamente. Eu não conseguia dizer nada. Aquilo tudo estava me enojando e me deixando indagada. O homem segurou a sua mão e apertou firme lhe passando alguma força.

- Quem é o meu pai? - perguntei direta.

A mulher levantou o rosto e me encarou com lágrimas nos olhos. Era como se só com o olhar ela quisesse me preparar para uma resposta difícil de engolir.

- Eu não sei. - pausa - Pode ser o George ou. - soltou ar pelas narinas - Ou pode ser Alexander Wayne!

E então meu estômago se fechou e eu quis vomitar. Eu poderia ser apenas o vestígio de um abuso. Eu poderia ser o fruto de um estupro!



New Girl - (AGCG Volume 2) Onde histórias criam vida. Descubra agora