POV Nico Di AngeloEu senti Hazel se encolher quando eu explodi em poder, deixando o ar ao redor rarefeito e atraindo as sombras para que flutuassem ao meu redor.
Olhei pra ela, consciente demais de que, além das asas e olhos vermelhos, agora eu tinha chifres curvados e uma armadura escamosa de ferro estígio. Mesmo que parecesse temerosa, minha irmã se aproximou devagar, tocando meu braço e subindo por ele com carinho até tocar minha bochecha.
- Não vai se despedir dele?
- Não. - Deitei minha cabeça em sua mão, aproveitando a maciez da pele para me consolar de ter que dizer aquilo. Odiava a ideia de sumir sem dar explicações para o homem que, eu sabia, era o amor da minha vida. - Se eu falar com Will e ele pedir para eu desistir, eu desisto.
Hazel não pareceu feliz com minha resposta, mas assentiu e se afastou. Eu sabia que ela cuidaria de Will por mim, então fui confiante ao erguer o braço e desenhar um sigilo no ar, criando uma ruptura na grama verde. Era praticamente uma cratera no chão, por onde se podia ver o fogo ardente do inferno e ouvir os gritos dos condenados. Hesitei antes de descer, depois de tanto tempo com Will, vendo um mundo cheio de luz, sorrisos e felicidade, aquilo parecia muito pior do que eu me lembrava. Sentiria falta do meu sol.
Fechei os olhos quando dei um passo à frente, batendo as asas para não cair pelo infinito.
Logo acima de mim a ruptura se fechou, sumindo devagar com a luz do dia bonito que estava.
Respirei fundo, podendo sentir o cheiro de desespero do lugar, e então bati minhas asas incansavelmente até o palácio de Hades, não me importando de voar a céu aberto. Ninguém entrava no inferno sem que papai soubesse, então eu jamais teria o privilégio do fator surpresa, me esconder era inútil.
Me forcei a lembrar qual ala e qual janela do palácio levava a biblioteca de almas, onde todos os contratos feitos com o demônio eram guardados em prateleiras enfileiradas, onde ele podia tirar e colocar vidas como desejasse.
Finalmente pousei numa janela, encolhendo as asas para passar pela abertura e pisar no chão envernizado. Os contratos não eram papéis assinados, livros ou documentos, no lugar desses métodos convencionais meu pai usava cristais, estes que ocupavam todas as infinitas prateleiras. Cada um era de uma cor, que representava o sentimento da pessoa no momento em que fez o pacto, rosa para amor, vermelho para raiva, verde para nojo, azul para tristeza, entre tantos outros.
Hesitei antes de me mover na direção das prateleiras. Vasculhar aqueles corredores tomaria um tempo que eu não tinha, mas usar poderes atrairia guardas que me matariam facilmente.
Bom, eu já estava ali para morrer ou ser preso, qualquer um dos dois que garantisse uma boa vida para o homem que eu amava.
Fechei os olhos e estendi minha mão, reivindicando Will Andrew Solace, ou aquela parte dele que estava presa a um pedaço de rocha. Canalizei seus sentimentos e pensei em todos os momentos que tive com ele, foram passando em minha mente como um doloroso filme que eu não teria a chance de rever.
Senti algo se aproximar e pousar entre meus dedos, fechei a mão delicadamente em torno do cristal, abrindo os olhos em seguida. Era uma pedra azul, o que fez meu coração apertar um pouco.
Will estava triste quando me desejou.
Só soube que estava a muito tempo parado quando, do outro lado da biblioteca de almas, a porta foi escancarada e eu senti pela vibração do chão demônios entrarem marchando. Ergui o rosto e o gosto salgado de lágrimas me cobriu a boca, limpei depressa antes de arrancar um pedaço de linha grossa da minha roupa e amarrar no cristal, para em seguida colocá-la em volta do pescoço.
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FanfictionE se alguém estivesse tão desesperado por amor que sequer hesitasse em fazer algo insano? Tão insano quanto um pacto. Mas quando se faz algo do tipo é preciso ter em mente o que quer, ou o tiro pode sair pela culatra. Will Solace aprendeu isso na pr...