Apenas um garoto

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POV Nico Di Angelo


Ver Will agonizando, quase morto naquela cama, foi como se estivessem esmagando meu próprio coração. A mera ideia de que não conseguiria salvá-lo, de que o homem que eu amava morreria por um ato meu, me destruía mental e fisicamente. Mesmo que minhas pernas fraquejassem eu corri depressa, abandonando minha espada e arrancando o cristal do pescoço no caminho, para em seguida me ajoelhar ao lado da cama.

Hazel estava ali com ele, as mãos abertas sobre o peito do meu Solace, lançando uma luz branca sobre o local e empurrando-o com força. Fechei os olhos, pondo minhas mãos trêmulas de nervosismo sobre as dela e transferindo energia pura, desfazendo minha própria magia, a que lançara para adormecer Will.

Ele acordou, os olhos azuis se abrindo num impulso rápido.

- Will! - Praticamente me joguei sobre ele enquanto gritava, abraçando-o com força pelos ombros, ignorando que provavelmente ele estava esgotado e confuso. Eu precisava daquele abraço, precisava dele, e me permiti ficar um tempo ali. Me lembrei subitamente do cristal, agarrando a mão do Solace e colocando a pedra entre seus dedos, apertando enquanto buscava seus olhos com os meus, na esperança que ele notasse o desespero palpável que me consumia. - Preciso que quebre isso, depressa. 

Infelizmente ele ainda estava zonzo, fraco, e sua alma estava sendo sugada lentamente. O acordo de meu pai estava sendo devidamente cobrado. Os olhos grandes e brilhantes que eu amava perdiam o brilho devagar, assim como o corpo perdia a força. Quando o coloquei sentado, ele não aguentou o próprio peso, deixando o tronco cair sobre o colchão novamente.

- Nico, o que tá acontecendo? - Seus olhos lacrimejaram antes que Will os apertasse com força e abraçasse o próprio corpo, parecia sentir dor física. Parecia não, sentia. Meu coração batia em um ritmo tão rápido que eu julgava ser impossível, e minhas mãos já tremiam num nível que era impossível de se esconder.

- Confia em mim, quebre. - Apertei mais ainda o cristal contra sua mão.

- Não consigo, tem algo… algo está me puxando. - Senti o gosto salgado de minhas próprias lágrimas quando ele convulsionou e gemeu. Queria tanto poder tomar sua dor para mim. Desesperado eu subi na cama, segurando os dois lados do seu rosto e colando nossas testas.

- Preste atenção em mim. - Por um segundo ele pareceu sentir um pico de dor profunda, mas com esforço os olhos de Will focaram nos meus. Engoli em seco, assentindo positivamente pelo pequeno progresso. - Quebre o cristal. - Repeti, moderando meu tom de voz para não soar tão desesperado quanto realmente estava. - Eu sei que você consegue, nós dependemos disso, amor. - Esperei alguns segundos enquanto ele não reagia, e consegui sorrir pequeno quando meu Solace pareceu juntar forças. Me ajeitei melhor quando senti sua mão sob a minha apertar o cristal. - No três.

Fiz uma contagem regressiva praticamente murmurada contra sua boca. Quando chegamos no número combinado seus dedos apertaram o cristal com toda a força que ainda lhe restava, até os nós dos dedos ficarem brancos, e minha mão sobre a dele auxiliou no processo. Era duro demais, e eu tinha certeza que devia machucar a palma de Will, mas ele não parou de fazer pressão em nenhum momento. 

Pareceu demorar uma eternidade e exigir a força de mil homens, quando Will gemeu de dor eu soube que alguma das pontas havia cortado sua palma, mas não ousei abrir os olhos apenas para me deparar com o sangue. Olhei apenas quando senti a poeira escorrer para o chão. O cristal havia se desfeito.

Esperei ansioso por uma reação de Will, mas ele seguiu de olhos fechados e deixou a mão cair mole ao lado do corpo, alguns grãos de poeira colados com o fio de sangue permanecendo nos dedos. Observei seu rosto, buscando sinais de que ele estava respirando, e durante esse tempo tão pequeno toda a vida que fugiu dele pareceu retornar numa fumaça clarinha, como uma névoa de saúde que era respirada.

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