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POV Will Solace

Nico havia desaparecido com Percy. Poderia matá-lo e eu jamais conseguiria impedir. Por causa de um beijo. Um mísero beijo que sequer foi bom.

Meus dedos puxaram meus próprios cabelos de maneira ansiosa. Minha respiração estava descompassada, talvez por causa da preocupação quase latejante em meu peito, e os sons da festa pareciam distantes mesmo que estivessem na sala ao lado. Ignorei a música e os adolescentes, terminando de subir as escadas por onde Nico havia sumido e entrando em meu quarto, a porta abafou o resto do som que eu ainda ouvia, e eu agradeci por isso.

Mais que depressa eu abri a gaveta da cômoda, derrubando ela e tudo que havia dentro no chão. Me ajoelhei sobre o carpete e espalhei os itens, jogando para o lado toda a tranqueira até encontrar um caderno específico. O caderno que eu usara para fazer o pacto de Nico.

Era a única coisa que eu tinha sobre Nico, e se não fosse por aquilo eu sequer saberia por onde começar. Tinha que ter algo que me ajudasse a encontrá-lo antes que ele fizesse uma besteira. O pacto o trouxe até mim uma vez, poderia fazer novamente.

Folheei as páginas, passando as que eu tinha usado e já sabia de cor. Meus olhos corriam depressa as letrinhas miudas, lendo milhares clausulas inuteis que eu simplesmente ignorei quando vendi minha alma, mas não tinha tempo para pensar nelas agora. 

Até que acabei me deparando com algo promissor. O topo da página estava queimado, como se tivessem tentado se livrar dela, mas eu conseguia claramente ler a palavra "Laço", e a frase que se seguia a ela me fazia pensar que era exatamente o que eu procurava.

"Se trata do vínculo entre as duas partes de um pacto, que pode ser usado para inúmeros fins"

Ignorei os sigilos e símbolos que se seguiram e busquei algo mais específico. 

Pelo que entendi em minha leitura rápida cada símbolo, oração, ritual e cantiga tinha uma função que afetaria diretamente Nico caso eu o fizesse, e não demorei a encontrar um que servisse ao meu propósito. 

Era como um GPS do demônio, que afirmava com todas as letras que eu podia descobrir onde ele estava graças ao tal laço. E mais interessante ainda, que eu poderia fazê-lo ceder as minhas vontades, já que o pacto previa que ele me serviria por um período. Não que eu pretendesse usar, mas guardei essa informação para mais tarde.

Era um sigilo simples, e achei que conseguia copiar facilmente. Já estava apanhando uma caneta e um pedaço de papel, até ler a borda da página. 

Ah, claro que era com sangue e um pertence da outra pessoa.

Me levantei bufando para ir atrás de uma blusa do Nico e uma agulha de costura. Quando os encontrei eu apoiei na cômoda e, fechando os olhos com força, furei meu dedo. Tinha a impressão de que faria esse procedimento tantas vezes que acabaria nem sentindo mais.

Apoiei minha mão na madeira e desenhei tal qual estava descrito nas páginas sobre a blusa, quase agradecendo quando notei que não precisaria de um segundo furo. 

Assim que ele estava desenhado, por puro instinto eu levei o dedo a boca para estancar o sangue, mas meus olhos desfocaram da tarefa quando vi a camisa queimar. E não havia fogo algum por perto. Tropecei em meus próprios pés enquanto segurava um gritinho esganiçado e dava passos para trás antes de conseguir pensar em algo. 

Meio desesperado eu corri até o banheiro e enchi o copinho das escovas de dente d'água, voltando apressado e perdendo metade no caminho, mas quando cheguei estava simplesmente… apagado. Nada além de cinzas e um trapo queimado sobre minha cômoda. 

EnviadoOnde histórias criam vida. Descubra agora