Capítulo 19

2K 402 16
                                    

Alyssa

Warren Miller chegou três dias depois, totalmente arrasado. O homem chorou por horas, sentado na sala de espera do hospital. Ninguém conseguia acalmá-lo, ele chorou tanto que comoveu todos que estavam presentes. 

O meu marido permanecia na unidade de terapia intensiva. Isaac sofreu uma lesão na cabeça e passou por uma cirurgia delicada. Os médicos foram diretos ao explicar que seu estado era crítico, se meu marido sobrevivesse teria sequelas irreversíveis. 
Era egoísmo querê-lo ao meu lado, sabendo de todo sofrimento que estava enfrentando, mas não queria me despedir.
Eu não encontrava força para conversar com ninguém, nossos amigos entraram em contato para saber mais notícias e não conseguia conversar. A minha voz travou, segundo o médico estava passando por estresse pós-traumático, não sei quando vou me recuperar do choque. 
Andréa tomou a frente de tudo, até mesmo da transferência do Isaac para um hospital mais preparado. Ela era nosso alicerce, a sua positividade fazia qualquer pessoa ter fé. Warren assumiu os valores altíssimos do hospital e alugou um apartamento luxuoso para nossa permanência na cidade. O médico não aconselhou uma transferência mais longa, viajar até Londrina poderia custar a vida do meu marido. E por este motivo decidimos ficar na cidade, esperando qualquer melhora significativa.
Os dias posteriores foram difíceis para todos nós, Isaac não acordou do coma e continuava na unidade de terapia intensiva.
Eu estava apenas existindo, não encontrava forças para lutar. Emagreci sete quilos em doze dias, a minha voz permanecia presa na garganta. Não conseguia conversar, comer, seguir em frente ou viver. Eu já havia perdido uma parte do meu coração quando minha filha morreu, agora não havia nada… um vazio sem fim e escuro! 
Isaac fazia parte da minha história, completava a minha alma. Era o seu amor que me fazia dar a volta por cima. Foram as suas cores que secaram as minhas lágrimas, foi o seu sorriso e cuidado que me trouxe esperança. Eu pensava que nada poderia nos separar, poderíamos conquistar o mundo ou ultrapassar qualquer dificuldade se estivéssemos juntos. Nunca imaginei que lidar com meus sentimentos por ele se tornaria um sofrimento, qualquer lembrança era como uma adaga enterrada no peito. 

― Você precisa comer… ― Alguém coloca um prato repleto de comida em cima da mesa.

Eu fiquei no apartamento, não encontrei forças para ir até o hospital. 
O meu estômago embrulhou…
Não conseguia comer, toda vez que via um prato de comida pensava no meu marido entubado e sendo alimentado por sondas. 
Neguei com a cabeça, afastando o prato. 

― Meu Deus, filha. ― Ouço um longo suspiro. ― Você está ficando doente.

Eu tentei me levantar, mas a pessoa segurou no meu braço com força. 

― Já chega… Alyssa, olhe para mim! 

Não consigo, sinto muito. 

― Filha, por favor. ― A sua voz saiu rouca, carregada por um sofrimento que conhecia muito bem. Aquela familiaridade me fez levantar o olhar, encarei um rosto cansado e triste. 

Era o meu pai…
Havia me esquecido que ele estava aqui. 

― Venha comigo. ― Ele segurou na minha mão com tanto carinho, como se eu fosse uma garotinha novamente. Um nó começou a castigar a minha garganta, mas não havia mais lágrimas para chorar já tinha chegado ao meu limite. 

O meu pai me posicionou em frente de um espelho grande e retangular. 

― Aly, essa não é você. ― Ele levantou meu rosto para olhar meu próprio reflexo no espelho. ― Filha, chegou a hora de reagir. 

Eu fiquei completamente espantada com o que estava vendo. 
Não era eu…
O meu pai tinha razão.
Aquela mulher refletida no espelho lembrava um zumbi.
A minha pele ficou manchada, amarelada e sem vida. As olheiras ao redor dos meus olhos eram tão escuras que representava que levei um soco em cada olho. 
Estava muito magra, podia ver nitidamente a minha clavícula. Ela não era tão saltada assim, até os ossos do meu rosto estavam bem salientes. Os meus lábios partidos e levemente sangrando, não precisava nem citar a situação do meu cabelo. 

Lembre-se de mim (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora