Alyssa
Eu nunca vou esquecer quando Isaac entrou no meu caminho, mas também nunca vou esquecer o dia que ele se foi para sempre.
A minha noite foi conturbada, tive sonhos estranhos e muito reais. Acordei três vezes na madrugada, mas quando percebia que era um pesadelo, voltava a dormir. O rosto do Isaac parecia em cada sonho, sempre se distanciando ou se despedindo ao longe.
A sensação era desesperadora, quase agoniante. Eu corria na sua direção, tentava alcançá-lo e não conseguia qualquer avanço positivo. Os sonhos continuaram se repetindo durante a noite: Isaac se despedindo. E eu lutando para alcançá-lo de alguma maneira.
Acordei de manhã com um sussurrar doce no meu ouvido:― Te amo, pêssego.
Eu pulei da cama aos tropeços, estava assustada e bastante cansada, mal tinha dormido.
― Amor? ― Saí do quarto. ― Isaac, não tem graça. Você já chegou?
Procurei em cada cômodo do apartamento, mas não havia ninguém.
Eu estava sozinha!
Entrei no ateliê e senti o aroma delicioso do seu perfume. Aquele cheirinho cítrico me fez estremecer, tinha alguma coisa errada.
Voltei correndo para o quarto para pegar meu celular que passou a noite carregando.
Liguei o aparelho.
Não tinha ligações, apenas algumas mensagens da minha mãe e a última mensagem que o Isaac me enviou antes de dormir:"Eu estou exausto, agora vou jantar e descansar. Te amo, até amanhã".
Comecei a rir, estava ficando neurótica.
― Está tudo bem, Alyssa. ― Passei as mãos no rosto. ― Os pesadelos acabaram me afetando, um banho quente vai ajudar a relaxar.
Segui para o banheiro, tirei meu pijama e aproveitei uma ducha. Fiquei buscando sinais de uma nova história na minha cabeça, mas nenhum enredo nascia. Acho que chegou a hora de conversar com a Fabiana, encarar que meu momento no ramo literário foi passageiro e quem sabe… aceitar a proposta do Senhor Motta e gerenciar o Sebo.
Ele estava um pouco debilitado, os filhos não podiam assumir o estabelecimento e queriam vender. Estava nos planos do Isaac comprar o Sebo algum dia e temos dinheiro suficiente para comprar um imóvel no centro da cidade.
Depois do banho, me arrumei e decidi marcar uma reunião com a Fabiana. Ela ficou animada quando recebeu minha ligação, vamos almoçar juntas amanhã e definir meu destino na indústria literária.
Eu estava pronta para sair e almoçar em um restaurante que adorava, quando alguém começou a bater com força na porta.
Aquela sensação ruim voltou, os únicos que tinham entrada liberada no edifício eram nossos familiares. Eu corri para abrir a porta, quase tendo uma parada cardíaca quando Andréa entrou cambaleando.― ALYSSA… ― Ela estava em prantos. ― O JORNAL LOCAL… O JORNAL… LIGUE A TELEVISÃO.
Peguei o controle imediatamente, nem sei como consegui ligar a televisão.
O repórter falava de uma colisão na BR-376 que deixou dois feridos e três mortos. A minha perna cedeu, cai de joelhos no chão quando vi a imagem do carro. E foi neste instante que o meu pesadelo se tornou realidade.***
Andréa estava preparando o almoço quando ligou a televisão e assistiu o resumo na abertura. Ela reconheceu o carro de imediato, não esperou um único segundo e saiu dirigindo feito louca pelas ruas.
A minha sogra queria a minha confirmação.
Ela precisava saber…
E agora estamos viajando para Curitiba onde as vítimas que sobreviveram ao acidente foram transferidas. O meu pai estava nos acompanhando, Andréa também avisou o Warren sobre o acidente. Eu fiquei completamente aérea, era como caminhar sem sentir o chão ou respirar sem sentir o ar entrando em seus pulmões. Não conseguia absorver nada do que me falavam, me sentia em outra dimensão. Não tinha como explicar o tormento que se transformou a minha vida, segui a viagem até Curitiba rezando para ser mentira ou um engano. A cada ligação no celular do meu marido era uma fagulha de esperança, mas sempre caía na caixa postal.
Andréa conversava com alguém no celular, recebia algumas informações… eu acho!
Eu não tinha capacidade de assimilar nada.
A minha sogra começou a passar as notícias: Isaac saiu da sala de cirurgia!
Era impossível acreditar que estava acontecendo de novo.― Alyssa, ele vai ficar bem. ― O meu pai tentou me tranquilizar.
Não respondi, porque não conseguia encontrar palavras para expressar a dor que se alastrava até dilacerar a minha alma.
Andréa se mantinha positiva, sem duvidar em qualquer minuto que o Isaac ficaria bem.
Eu queria acreditar, mas aquele sonho dominava qualquer otimismo.
Isaac estava tentando se despedir…
Ainda ouço o sussurrar sereno de manhã: Te amo, pêssego.
Aguentei firme até chegar em Curitiba, quando entrei no hospital simplesmente surtei. Eu queria ver meu marido… tocar nele de alguma maneira. Fiquei desequilibrada, não escutava ninguém ou compreendia que meu desespero não ajudaria em nada, apenas piorava a situação. Após vários gritos, choro, escândalo e muita confusão, decidiram me sedar. Eu não me lembro de muita coisa naquele dia, mas lembro de sonhar com ele… lembro do toque dos seus lábios nos meus e foi tão… mais tão real.
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Lembre-se de mim (DEGUSTAÇÃO)
Romance"Os momentos mais importantes que vivemos não ficam presos em nossas memórias, ficam guardados dentro do coração" Alyssa tinha uma relação perfeita com seu marido, Isaac Miller. Eles se conheceram no ensino médio, ainda adolescentes e consolidaram a...