Capítulo 04

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Nove anos atrás.




Isaac não voltou a comentar sobre o acontecido na Galeria de Arte. Eu não deveria guardar um pequeno mal-entendido por vários dias na minha cabeça, Isaac apenas se enganou. Era comum alguns equívocos, não tinha razões para ficar criando teorias malucas que não fizessem sentido. Infelizmente, a reação do Isaac me deixou muito desconfiada. Ele ficou visivelmente perturbado com o episódio na Galeria. Eu não conseguia esquecer a sua palidez, a confusão que dominou aquele olhar tão lindo, Isaac ficou trêmulo e só melhorou quando ingeriu uma boa quantidade de café preto. Decidi que seria uma boa ideia pesquisar o nome do artista na internet, a moça da recepção poderia estar enganada ou aconteceu alguma falha no sistema que não mostrou o nome do artista. Eram as explicações mais lógicas, fiquei três dias pesquisando na internet, mas não encontrei nada. Isaac evitava ao máximo falar sobre o assunto, a minha boa intenção acabou ocasionando uma cena que sempre ficará marcada em nossas memórias.
A nossa rotina seguiu normalmente nos dias posteriores, nos encontrávamos no colégio e curtia os nossos momentos. Eu gostava de ficar perto dele, me sentia bem e feliz. Era prazeroso observá-lo rabiscando o seu caderno de desenho, e ouvir sobre sua rotina nos Estados Unidos. Isaac tinha muita história para contar, era uma verdadeira inspiração para a minha criatividade e imaginação. O garoto que sempre tinha uma manchinha de tinta na roupa, estava conquistando cada pedacinho do meu coração. Era mágico a sua delicadeza, mas amava aquele lado safado e sem vergonha do Isaac. Eu nunca imaginei que ficaria tão envergonhada, excitada ou até mesmo sem fôlego com um beijo. Ele era o tipo de cara que transaria em qualquer lugar sem pensar nas consequências. Conviver com um garoto de uma forma tão íntima era viciante. Eu tinha medo que o Isaac fosse aquela pessoa na qual precisaria para tudo. A pessoa que vou sentir uma necessidade de conversar ou apenas de estar por perto. O primeiro amor era assustador e não conseguimos fugir dele.

― Eles moram em um bairro afastado do centro. ― Isaac murmurou, despertando-me dos inúmeros pensamentos.

― Culpa da minha mãe. ― Respondi. ― Ela encasquetou em comprar uma casa mais perto do centro.

― Ela encas... o quê?

Prendi os lábios para não rir, às vezes usava as palavras únicas do nosso querido vocabulário só para vê-lo todo envergonhado. Isaac ficava fofo com suas bochechas coradas, não conseguia controlar.

― Significa que a minha mãe fixou uma ideia na cabeça. ― Expliquei, ganhando um sorrisinho do Isaac ― Eu era muito nova quando nos mudamos, acho que tinha cinco ou seis anos.

― Entendi, estou um pouco nervoso... ― suspirou fundo. ― Será que eles vão gostar de mim?

Isaac era apaixonante, muito popular entre o sexo feminino, e qualquer pessoa adorava a sua personalidade. A minha mãe fazia parte do fã clube do Isaac, todos os dias me perturbava com perguntas sobre meu namoro. O meu pai era mais tranquilo, mais neutro e não gostava de se envolver na minha vida íntima, ele era o famoso "pau mandado". As palavras da minha mãe eram sagradas para o Senhor Theodoro. Ele fazia tudo, simplesmente tudo que a minha mãe mandava. Era até engraçado, porque meu pai preferiria não expressar suas opiniões tão abertamente como a minha mãe. Ele era mais observador, aconselhava no momento certo e seus sermões eram inteligentes. O meu pai sempre me fazia refletir sobre meus erros, diferente da minha mãe... que adorava falar, falar e falar. Os meus pais tinham uma personalidade totalmente diferente, mas mantinham um amor sólido e um casamento feliz.
Isaac vai conhecer os meus avós, vamos participar de um almoço na casa deles. Os meus pais já conheciam meu namorado, quando decidimos oficializar a nossa relação, marcamos um jantar com nossos responsáveis. E honestamente? Foi uma péssima ideia. A minha mãe pensou que seria uma ótima oportunidade para nos aconselhar sobre sexo, entregando várias pacotes de preservativo para o Isaac e uma cartela de anticoncepcional para mim. A cena foi extremamente constrangedora, a minha mãe tem sua meiguice única, mas quando decidia ser inconveniente, ela superava a minha sogra.
A minha família estava nos aguardando na imensa área com redes e poltronas suspensas. A minha avó pulou de alegria quando me viu abrindo o portão. Os cachorrinhos foram os primeiros a nos receber, eles começaram a pular e lamber as minhas pernas. A minha avó era uma acumuladora de animais, ela tinha oito gatos, sete cachorros, coelhos, pássaros e codornas espalhados pelo gigantesco quintal.

Lembre-se de mim (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora