A Tormenta Pós Ligação

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Margaridas são flores que estão presentes em praticamente todo o mundo, podemos encontrá-la com facilidade, nos mais diversos tamanhos e cores. Além disso, é cheia de significados e acredita-se que pode ser usada como remédio para algumas enfermidades. Eu cresci em contato direto com o campo e principalmente com as flores e até hoje, os melhores momentos são os que eu posso lidar diretamente com a natureza; e por muito tempo, as margaridas foram as minhas flores preferidas, porém, como a vida é repleta de linhas tênues, os motivos e pessoas que me influenciaram a ter ela como flor preferida, foram os mesmo que fizeram com que eu passasse a evitá-las e até sentir um pouco de remorso dessa coisinha delicada.

Na era vitoriana, era marca das garotas que tinham como característica forte, a meiguice e uma beleza encantadora; há quem a classifique como os olhos do dia, pois ela se fechas pela noite e volta abrir suas pétalas quando os raios de Sol voltam a dominar o ambiente e foram basicamente esses motivos que me fizeram ganhar o apelido de Margarida. Aos sete anos disse ao meu avô que queria ter nome de uma flor, ele me chamava de “minha flor” mas para mim não era o suficiente, sempre fui muito intensa e ser uma flor pela metade não fazia muito sentido pra mim, eu queria ser completa.

Também dizem que essa é a flor que define o destino do amor em nossas vidas. Sim naquela brincadeira onde se tira petala por petala, mas nisso eu já não acredito. Cresci finalizando a brincadeira em “bem me quer”, mas a realidade foi diferente, as únicas pétalas que realmente se foram e fizeram algum sentido para mim, foram as que formavam minha alma, as tiraram de mim, uma por uma… Mas isso é assunto para outro momento.

***

Parece brincadeira, a todo momento sinto que posso acordar e tudo isso não vai passar de um sonho, ou melhor, pesadelo. Eu levei anos para conseguir me reerguer de todo o mal que aquela família me fez e agora, quando eu finalmente me sinto uma mulher completamente realizada, eles voltam e mais uma vez puxaram meu tapete. Nem nos meus piores pesadelos eu poderia ter imaginado que um dia teria que voltar para aquela fazenda; a Espanha passou a ser território proibido pra mim. Passei toda a minha vida tentando convencer todos ao meu redor que eu não deveria voltar para aquele país, pelo menos uma característica do velho eu tenho: o orgulho.

Depois de tudo o que me fizeram, eu havia prometido a mim mesma que jamais voltaria a ter contato ou precisar da família Marquina, eu já nem mesmo usava seu sobrenome, era um passado enterrado. Aqui estou, paralisada, olhando a montanha de roupas que Alícia pôs no chão; eu só precisaria de bagagem para no máximo três dias mas ela havia colocado meu closet á baixo, enquanto dizia “Mas é claro que você vai levar suas melhores roupas, você precisa fazer a entrada triunfal da juíza poderosa. Não perca essa oportunidade!”

Eu estava com a sensação de estar flutuando desde a hora que ouvi a mulher ao telefone falar que o velho havia morrido e que só eu poderia tomar todas as decisões sobre seu funeral e seus bens, mas não poderia fazer isso a distância, ele me queria lá pessoalmente. E foi então que eu confirmei que ele era um sádico, mesmo depois de tudo o que havia me feito e estando morto, achava que tinha direito de me exigir algo, só poderia ser uma piada de mal gosto.

E como diz o provérbio popular: não tem nada ruim que não possa piorar! Silene entra como um furacão e aparentemente tinha mais informações do que deveria, sua sobrancelha arqueada entregava isso e eu sabia que ela estava pronta para me interrogar na primeira oportunidade.

- Como assim Raquel Murillo vai viajar e eu sou a última a saber? - pergunta cruzando os braços - e porque tem que levar as melhores roupas/ Finalmente a juíza poderosa resolveu assumir o Tribunal de Haia?! antes tarde do que nunca!

- A garota já chega com a metralhadora preparada - fala Alicia rindo.

- Bom, pelo que eu sei você não estava em casa e até o momento, a telepatia não está entre os meus muitos dons!

Como Morrem as FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora