O que há no final do arco-íris?

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As pessoas mais românticas costumam dizer que os amantes apaixonados veem a vida cor de rosa, o aconchego, acolhimento e o conforto de estar nos braços da pessoa amada traz a paz necessária para uma vida plena e serena. E hoje, a fazenda da família Murillo pode ser considerada um laboratório domiciliar para análise e confirmação dessa teoria.

O sexo casual, fugaz, ardente, urgente e íntimo que fez das paredes do quarto testemunha, foi, acima de qualquer coisa íntimo e confortável. Como o encontro das raízes de uma árvore, independente de todas as consequências, boas ou ruins, que a noite desejada e impulsiva pudesse trazer, neste momento, nenhum dos dois sequer considerava arrepender-se de perder o controle.

Já passava das dez da manhã e os dois dormiam como há tempos não conseguiam, sequer recordavam a última vez que haviam despertado depois das oito e meia da manhã. Desde que partiram da Espanha, suas vidas foram pautadas em assumir inúmeros compromissos e responsabilidades; Raquel com Silene, os amigos, a carreira e os orfanatos e Sérgio com a sua incurável mania de perfeição e de pôr o trabalho acima de qualquer coisa - só ele é capaz de medir todas as perdas que isso lhe causou -, entretanto, em uma manhã preguiçosa, sair daquele conforto pode assemelhar-se a tortura.

E agora, estavam aqui dividindo a mesma cama, com os corpos pelados e enroscados um no outro, a única peça que os separava era a pequena e delicada calcinha de renda que Raquel havia encontrado no chão quando levantou-se para ir ao banheiro; após uma noite sensual de sexo descontrolado e atos impensados, eles poderiam dizer que o destino é o maior filho da puta da história mundial.

Depois de anos, centenas de novas experiências, uma vida toda os separava; caminhos solitários haviam sido traçados, pessoas entraram em suas vidas, algumas ficaram e outras apenas partiram, despretensiosamente, como tinha que acontecer para que eles pudessem estar juntos novamente. Um mar de mágoas, responsabilidades e segredos os separavam, mas neste momento, é como se os adolescentes nunca houvessem sido separados e toda a caminhada até aqui traçada na companhia um do outro.

Os raios solares já alcançavam toda a extensão do quarto, mas isso não foi impedimento para que eles seguissem dormindo. A noite agitada havia tirado as energias dos dois, embora a dosagem de endorfina em seus corpos fosse bem maior do que costumavam ter, eles não queriam sair do ninho em que estavam.

Raquel havia afundado seu rosto na curvatura do pescoço de Sérgio e ali, se escondia dos raios de luz que teimavam em incomodar o sono tranquilo dos dois. A mulher dormia tranquilamente, tinha a estranha sensação de estar em casa, as outras poucas pessoas que a fizeram sentir-se assim foram sua avó Mariví, Alicia, Darko e obviamente, Silene; mas com Sérgio é algo diferente, como um encontro de outras vidas e conseguia sentir a mesma paz e felicidade de quando vê sua filha feliz ou escutar sua risada gostosa.

Se estivesse completamente desperta, Raquel estaria lembrando de todas as teorias esotéricas que Alicia, Darko e por osmose, Silene sempre debatiam, uma série de questões que envolviam astrologia, reencarnação, destino, carma e até mesmo uma crença chinesa onde se defende que cada pessoa nasce com o fio do destino amarrado no dedo mindinho - um fio vermelho, que coincidentemente ou não, é a cor preferida dela - que a conecta a sua alma gêmea; Unmei no akai to, é como a lenda é conhecida na Ásia.

E qualquer um que soubesse de toda a história e conhecesse a lenda, poderia apostar que eles são o Unmei no akai to do outro.

Sérgio já dava os primeiros sinais de que estava despertando, sentia as luzes solares em sua pele e era como se estivesse sendo tocado por uma divindade, na verdade por duas, já que Raquel estava dormindo em seus braços depois de tanto tempo. Era no mínimo curioso o porquê de ela ter sido tão receptiva e amigável com ele na noite anterior, o homem estava esperando que, ao despertar, ela iria alegar que isso havia sido um equívoco, como fez da última vez e talvez por isso estava prolongando seu despertar.

Como Morrem as FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora