Efectos del vino

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Berlim, Alemanha -  ano 2000

O primeiro ano vivendo sozinho na Alemanha havia sido completamente cinza, talvez essa seja a cor que define perfeitamente bem a vida de Sérgio desde que fora “convidado” a estudar em outro país.

Todos os seus sonhos e planos para o futuro haviam sido frustrados, nenhuma meta ou desejo era real e vantajosa o suficiente para motivá-lo a seguir em frente e tentar se reerguer. Nem mesmos os estudos, algo em que ele sempre havia se empenhado e se dedicado completamente conseguia o motivar.

Sua matrícula na universidade era no curso de publicidade, algo que ele sempre sonhou em estudar, mas se frustrou um pouco com seu avô. Porém, ele havia chegado ao fim do primeiro ano de faculdade com apenas três disciplinas da grade oficial do curso,

Ele fez várias disciplinas nos cursos de medicina e psicologia, onde conheceu Laura, uma estadunidense de olhos azuis e olhar simpático, dona de uma beleza angelical capaz de encantar qualquer pessoa.

A moça de cabelos loiros e sorriso doce era o único ponto de luz e paz que ele tinha em sua vida, quando estava na presença dele, ele lembrava que apesar das dores e cicatrizes, é possível e necessário sorrir e era somente na companhia dela que Sérgio conseguia sentir que ainda havia muita vida para viver.

Apesar de sua notória simpatia e capacidade de socializar, a jovem gostava de manter um ciclo de relações mais fechado, pois sua privacidade e individualidade é algo que ela sempre priorizou e isso era mais um dos motivos que faziam com que Sérgio se sentisse à vontade para mostrar sua real personalidade quando estava com ela.

Eles haviam se conhecido logo no primeiro semestre em que Sérgio entrou para a universidade, o pai de Laura é alemão e por isso e para fugir do excesso de controle de sua mãe, ela decidiu iniciar a vida adulta nesse lugar tão distante e diferente de casa.

“Para além da formação profissional, a Alemanha significava renascer, se redescobrir e viver livremente” para ela e também para Sérgio.

E foi exatamente essa frase, que ela havia usado para se apresentar e justificar sua mudança para o outro lado do mundo em uma roda de conversa de calouros, que despertou nele certa curiosidade sobre a garota. E coincidentemente, ele descobriu que morava no prédio em frente ao seu, no mesmo andar e que a janela da sala de estar dele dava visão direta para a sala de estar dela.

O tempo havia passado e ambos estavam cada vez mais próximos e íntimos, Sérgio não estava dentro do estereótipo de garoto universitário que costumava chamar a atenção das meninas, estava bem mais perto de ser o nerd com fobia social, e Laura costumava fugir de garotos frívolos e sem muito a oferecer além de uma rapidinha no banco de trás do carro depois de tomar umas cervejas.

Ela era exatamente o oposto de Raquel, era calmaria para quem acabara de sair e tentava se reerguer de um furacão e talvez por isso ela havia despertado os mais nobres sentimentos em Sérgio. Era a calmaria que ele precisava para se reconstruir.

E a cada dia eles estavam mais próximos e presentes na vida um do outro, mas sem cobranças, apenas deixavam a vida fluir de maneira natural e que permitisse que eles se estabelecessem e se curtissem.

***

Segóvia, Espanha - 2 de junho de 2021

Almoçar com todos reunidos no local onde costumavam ir aos fins de semana havia sido mais nostálgico do que Raquel e Sérgio haviam imaginado. Em determinados momentos eles até mesmo travaram com o quão familiar aquilo parecia, como se o quarteto convivesse diariamente aquele fosse um passeio em família que faziam com frequência.

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