Una Noche y Ninguna Más

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Buenos Aires, Argentina - 17 de dezembro de 1999

Família é uma palavra muito bonita. Eu cresci acreditando que ela é o bem mais precioso que uma pessoa pode ter - nisso eu concordo, nenhum dinheiro ou sucesso seria capaz de comprar o afago que uma rede de apoio pode nos dar.

Mas diferente do que pensava antes, hoje eu sei que ela não se resume a laços sanguíneos, basta uma rápida busca em um dicionário, que você encontrará como valor semântico para tal substantivo "Núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantêm entre si uma relação solidária".

A minha nova rede é composta por apenas quatro pessoas; eu, Alícia, que é minha colega de graduação e uma das pessoas mais incrivelmente loucas que eu vi; Darko, meu vizinho e a primeira pessoas que me acolheu nesta cidade e sua irmã mais nova, Mônica que é um doce de menina, me faz lembrar da antiga eu e me conforta saber que poderei ajudar-la para que ela não perca a lente cor de rosa que enxerga o mundo, pelo menos não da maneira como eu perdi.

E todos eles, assim como eu, haviam sido meio que "expulsos" da família sanguínea. Começando por mim, por haver me apaixonado pelo meu primo; Alicia, por ser a pessoa mais porra louca do universo e contrariar todas as imposições do seu pai autoritario. Darko e Mônica haviam perdido os pais muito jovens, ele se responsabilizou pela irmã e ambos não são bem vistos pelo resto da família, pelo fato de ele não se adequar muito às normas tradicionais de sua família "tradicional".

Em menos de dois meses a minha família sanguínea havia me tirado praticamente tudo; perdi todos os meus sonhos para o futuro, perdi os meus planos para o agora, perdi o mundinho cor de rosa em que eu vivia, o meu amor e até a vontade de viver. Mas no meio de tudo isso, descobri que não estou mais sozinha e por esse neném, tento juntar forças diariamente.

Realmente me sinto uma Margarida, em uma metáfora a sua anatomia; pois segundo a biologia, Margaridas são compostas por pétalas, que podem variar de cor mas a mais comum é branca, e um miolo amarelo, que também é considerado uma flor. Sinto que sou o miolo amarelo dessa planta, após ter todas as suas pétalas brancas arrancadas dolorosamente e agora, tendo que me adaptar a coisas que nunca antes imaginei passar.

E nesse exato momento, estou sentada no sofá da nossa nova casa - sim nossa, no coletivo - acabo de ter uma longa crise de riso após cometer o que talvez possa ser a maior loucura da minha vida - ou o maior acerto. Darko e eu, em um momento de desespero, aceitamos a ideia completamente irreal de nos casarmos, a ideia veio de Alicia, claro. "¿pero no ven que vosotros tienen la solución de los dos problemas en manos?", essa pequena frase saindo da boca dela foi o suficiente para plantar essa ideia na nossa cabeça e duvido que um dia eu venha a me arrepender de ter aceitado essa loucura.

No momento pareceu uma boa ideia e levamos apenas dois dias para assinar a certidão de casamento no salão de festa do nosso antigo prédio. E foi assim que a família conservadora de Darko parou de incomodá-lo por causa de sua sexualidade; agora eles não têm um motivo para tomar a guarda de Monica. E foi assim também que eu posso ter conseguido me livrar das ameaças do meu avô fascista de me tirar a criança que ainda carrego no ventre e colocá-la em um abrigo, para adoção.

Apesar do pouco tempo que tivemos, conseguimos organizar uma cerimônia muito emocionante e que se enquadra no nosso padrão, foram poucos convidados; além de nós quatro, estavam o namorado da semana de Alicia, minha orientadora da graduação e o namorado de Darko, que por incrível que pareça, não se opôs e aceitou oficializar a união.

***

Raquel sempre fora muito ligada à natureza, coisa que a vida conturbada e atarefada a fizeram esquecer; acordou com cabeça zona e o estômago ruim, devido ao álcool ingerido na noite anterior. Lembrava em partes os acontecimentos da noite anterior, as lembranças do início da noite eram muito nítidas mas tudo desandou quando ela forçava lembrar o que aconteceu após a competição de sinuca e os inúmeros shots de tequila ingeridos.

Como Morrem as FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora