Yoongi lia quando o vi pela primeira vez pela janela do meu apartamento. Naquela época eu morava no quinto andar de um prédio recém construído. Tinha escolhido morar ali por ser ao lado de um parque, gostava de acordar todas as manhãs e apreciar um pouco de ar puro e a bela vista que tinha do meu quarto antes de iniciar de verdade a vida corrida que levava.
Foi em um dia qualquer da semana. Acordei ainda sentindo meu corpo reclamar das poucas horas de sono, mas não podia ceder. Meus chefe não se importava se eu tinha ou não pesadelos, ele queria um funcionário eficiente apenas, por isso levantei e, como de costume, fui até a janela para poder abri-la e sentir a brisa fria que a manhã sempre me proporcionava. O sol já era visível em um céu azul e sem nuvens.
Todas as noites desde o meu acidente, eu tinha pesadelos. Meus pais disseram que eu sofri um acidente de carro quando tinha 9 anos, e perdi parcialmente a memória. Não lembrava muita coisa da minha infância, e as poucas memórias que conseguia lembrar não eram completas, e confusas. A única coisa que sabia, era que toda noite, quando deitava para dormir, sonhava com pessoas mortas, um palácio destruído e um anjo com asas brancas sujas de sangue. Muitas vezes acordava suando durante a madrugada, a sensação de que aquela cena tinha sido real me deixava com falta de ar. Eu não conseguia enxergar o rosto de anjo porque sempre que ele chamava meu nome, eu acordava.
Sentado na cama e de frente para a janela, desci meu olhar para a praça que havia no parque, notando o fluxo de idosos caminhando. Fiquei curioso quanto ao jovem de cabelos loiros sentado num banco da praça, era pouco comum ver alguém que não fosse idoso por ali naquele horário.
Fiquei observando-o ler. Ele parecia tão interessado no livro quanto eu fiquei por ele. Seria algum vizinho novo? Ou alguém que descobriu aquele parque e achou legal ler um pouco num ambiente agradável? Ri comigo mesmo por saber que minha vida era tão entediante que apenas observar um garoto ler me instigava a saber mais sobre ele. Infelizmente, o alarme do meu celular me fez voltar para a realidade, e eu precisava me arrumar para ir ao trabalho. Quando o desliguei e voltei meu olhar uma última vez para a praça, o garoto já não estava mais lá.
[...]
Uma semana se passou e, assim como esperado, minhas férias chegaram e eu finalmente poderia aproveitar três semanas em casa. Eu odiava meu trabalho, nunca quis trabalhar em um escritório, meu sonho sempre foi ser professor, mas além de nunca ter tido a chance de expressar meus desejos para minha família, era tradição seguir a carreira econômica. Meu pai me contou que ele, meu avô e meu bisavô trabalharam em empresas, e esperava que comigo não fosse diferente. Aprendi desde cedo que, "quanto menos eu reclamasse ou me ressentisse por não ter controle das minhas decisões, mais cedo poderia sair de casa e cuidar da minha própria vida". Isso sem contar a superproteção que meus pais sempre tiveram comigo, eu quase nunca podia sair sozinho e quando acontecia, precisava usar meu anel, havia um rastreador nele. Eles sempre me diziam que eu era um garoto muito especial, e que por isso nada podia acontecer comigo, e, eu aceitava, porque nunca percebi o quão absurdo era aquilo. Só quando completei dezessete anos que o anel pôde ser deixado de lado. e passei a ter mais liberdade, tanto em casa quanto fora dela.
Mas, os anos passaram e eu acabei deixando meu sonho de ser professor de lado. Acostumei-me à vida automática, à rotina habitual e já conhecida de tantos anos. Mesmo meus pais não estando mais vivos, sinto que eles ainda controlam a maneira com que vivo, eles conseguiram destruir qualquer desejo que tinha quando adolescente.
Naquela mesma tarde, no meu primeiro dia de férias, eu o vi pela segunda vez. Agora que eu não precisava me preocupar com o tempo, permiti-me observá-lo um pouco mais, e era quase como se eu o conhecesse. Aquele garoto destoava muito das pessoas próximas dele. Sua pele era muito branca, como mármore, e se me perguntassem não conseguiria explicar, mas eu tinha certeza de que se o tocasse sentiria a frieza de sua pele sob meus dedos. Não havia imperfeição em seu rosto, e eu podia dizer isso mesmo que ele estivesse de costas para mim. Perceber aquilo era tão assustador, e me deixou tão confuso. Eu sentia que o conhecia de algum lugar, mas não me recordava de onde. Nada vinha a minha mente quando eu tentava forçá-la. Um sentimento estranho me assaltou quando, o pensamento dele ser tão bonito que não deveria ser deste mundo, veio em minha mente.
Ele olhou para trás, diretamente para mim, como se soubesse que era observado. O sorriso que ele deu fez meu coração acelerar, e eu me assustei quando recordei dos pesadelos que me dominaram por anos. Eu sonhava com aquele garoto. Em meu pesadelo eu nunca pude ver seu rosto, mas eu sabia que era ele. De algum jeito assustador, eu tive a certeza de que ele também sabia que não era a primeira vez que eu o observava. Assustado demais para pensar no quão confuso eu estava, fechei a janela e me proibi de me aproximar dela, por qualquer motivo que fosse. E embora seu sorriso não tivesse sido acolhedor, eu me senti atraído pelo magnetismo que ele transmitia.
Na manhã seguinte eu acordei sentindo frio. Quando abri meus olhos, vi a janela aberta e fiquei confuso. Eu tinha certeza de tê-la trancado antes de ir dormir, então o vento não poderia tê-la aberto durante a noite. Deixei aquilo passar porque não poderia garantir nada de mim quando estava com sono, então não vi motivos para preocupações. Além disso, eu morava a uma altura considerável, ninguém em sã consciência iria se arriscar de modo tão estúpido.
Arrisquei uma olhada rápida, mas não o vi na praça. Suspirei, irritado por ser bobo ao pensar que, minha janela aberta tinha algo a ver com o desconhecido. Ignorei aquela ideia, mesmo que quanto mais eu pensasse nela, mais parecesse real. Fechei a janela e a tranquei.
Eu estava confuso, passei horas tentando entender como era possível, sonhar com alguém que nunca tinha visto? E para piorar meu estado de espírito, quanto mais eu pensava no garoto, menos medo e mais interesse eu sentia por ele. Nunca acreditei em vidas passadas, mas deveria haver algum motivo para que o anjo que eu via em meus sonhos fosse aquele desconhecido.
Quando anoiteceu, certifiquei-me que minha janela estava trancada e suspirei frustrado com minhas próprias atitudes nas últimas horas. As bolhas na minha mão direita só mostravam o quão distraído estava quando deixei a água quente do chá cair em minha mão. A enrolei em um pedaço de pano para que não a machucasse ainda mais enquanto dormia, e me deitei na cama, cansado demais para consegui formular qualquer pensamento sobre o que tinha acontecido naquele dia, o sono me levando aos poucos.
Ao acordar, imaginei que fosse sentir minha mão arder ou qualquer coisa que causasse incômodo, mas ao levantar o braço, assustei-me por vê-la em perfeito estado. Era como se eu nunca tivesse a queimado. Notei a movimentação ao meu lado e vi a cortina balançando. Novamente a janela encontrava-se aberta. Senti meu sangue gelar quando, sentado numa cadeira, em frente a minha cama, estava o mesmo garoto que eu observava sentado na praça. O livro que sempre levava consigo repousava na mesa enquanto ele me encarava, parecendo admirado demais. Não pude reagir, minha cabeça começou a latejar e me vi alucinando. Eu o conhecia, conhecia aquele garoto.
Min Yoongi era um dos celestiais de guerra. Comandante da legião de anjos que defendiam o reino que meus pais governavam antes de serem mortos, e o homem que eu amava.
Betagem feita por Chashiii
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Segunda Chance [TaeGi]
Fanfiction[Concluído] Para protegê-lo, Taehyung teve sua memória alterada. Esqueceu-se de que era o futuro rei. Esqueceu-se que controlava um dos reinos mais poderosos do mundo. Esqueceu-se também da destruição que a inveja causou em seu reino. A única coisa...