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— Chocolate quente para a viagem, por favor. — Pedi assim que a atendente me deu atenção. Olhei para o relógio em meu pulso e vi que ainda estava dentro do horário, então não haveria problemas com atrasos.

Quando me mudei para Seul, não imaginava que minha maior dificuldade seria me adaptar com horários. Eu me considerava alguém responsável, principalmente com normas e metas da empresa, mas ali, até quem chegava cedo demais era visto de forma diferente. O ideal era estar no local no horário exato, sem antecipação desnecessária e sem atrasos indesculpáveis.

Eu não me importava de fato, preferia chegar cedo e garantir meus compromissos. Ter olhares estranhos enquanto eu caminhava pelos corredores sempre tinham sido algo constantes, ainda que antes tenha sido por minhas características estrangeiras.

— Aqui está, senhor. — Recebi o copo de plástico ainda quente e segui para o caixa, pagando pela bebida e deixando a cafeteria.

O sol parecia quente demais para aquela hora da manhã, mas, como sempre, era revigorante estar sob ele, por isso odiava tanto o inverno e dias nublados, porque sentia como se suas energias desaparecessem, não ficava doente, mas não sabia dizer o que acontecia. Talvez fosse como aquelas pessoas que preferiam dias ensolarados porque me sentia mais eficiente, ou simplesmente era uma grande besteira da minha cabeça.

Andei pelo calçamento observando as pessoas ao meu redor, apressadas demais, estressadas demais. Todas em sua pequena bolha social. Era um hábito tentar adivinhar como seria a vida de cada uma delas, se era feliz ou triste, se tentava conseguir um emprego ou corria para chegar no horário. Era fascinante ver o quão diferente minha vida tinha se tornado aqui, tão estressada quanto às dos outros.

Ao longe pude enxergar o prédio de vidros escuros se sobrepor aos demais. Era ali que eu trabalhava, a empresa de comunicações mais influente do país. Eu era o gerente responsável por toda a parte administrativa, precisando garantir que cada funcionário sob meu comando cumprisse suas metas e alcançasse o padrão estabelecido pela empresa. Resumindo, era uma grande merda. Enquanto os empregados lutavam para ganhar destaque e sonhar com uma possível promoção, seus superiores enchiam a bunda com dinheiro e os tratavam como lixo. Homens eram alimentados pela ganância e inveja. Mulheres eram alvo de humilhação por seu gênero e piadas machistas e até seus salários eram inferiores.

Sempre pensei que o país seria um dos mais igualitários do mundo, porque era essa a imagem que nos era passada pela mídia, mas ao desembarcar ali e aprender a cultura, notei que a hipocrisia era destoante.

Ainda encarava o prédio cada vez mais perto quando senti o impacto de alguém trombando em mim. Tentei não soar irritado, já que consegui não derrubar o chocolate quente em meu terno, mas agora a bebida se encontrava no chão. Encarei o homem a minha frente, as palavras já em minha boca para repreendê-lo quando seu rosto me pareceu familiar de um jeito assustador. Só que eu tinha certeza nunca tê-lo visto.

— Desculpe, senhor. — Ele respondeu de maneira insolente, o sorriso sarcástico me alertando de que ele era perigoso. O encarei sem conseguir pronunciar uma única palavra diante do arrepio que percorreu meu corpo. Recuei alguns passos.

— Não se preocupe, acidentes acontecem. — Respondi meio vago, um sorriso forçado sendo posto em meus lábios. O homem se aproximou e se inclinou para pegar o copo no chão, voltando a me encarar, o sorriso de canto ainda presente. Ele sorria, mas seu olhar demonstrava certa frieza.

— Eu o jogarei no lixo. — O vi se afastar, a sensação de medo ainda presente em mim. Aquele homem era estranhamente familiar, mas me causava receio. Não fora agressivo, nem ameaçador, mas nem precisou, seu sorriso foi o suficiente para me deixar assustado. Ele continuou se afastando a passos tranquilos e vagarosos sem olhar para trás, até que o perdi de vista.

Segunda Chance [TaeGi]Onde histórias criam vida. Descubra agora