SHAWN
"Shawn, você está ouvindo?"
Finjo despertar do sono profundo enquanto olho para minha dupla de trabalho, que parece puta.
"Não mesmo", digo, esfregando os olhos. "Faz quase uma hora que você está tagarelando sobre filmes velhos. Sinceramente, acho que ninguém estaria ouvindo."
Camila solta o ar lentamente, daquele jeito que só as garotas sabem fazer, então coloca a tampa na caneta para quadro branco antes de levar a mão à cintura, como uma professora irritada. Embora eu não consiga lembrar de nenhuma professora que use regatas como as dela.
"E o que você estava fazendo, então?", ela pergunta.
Dou de ombros.
"Contando seus piercings. Somei oito na orelha direita, mas não parece possível, já que suas orelhas são bizarramente pequenas."
Ela me encara.
"Você acha que minhas orelhas são pequenas."
Lanço um olhar de pena para ela.
"Sim. Por outro lado, isso aqui", digo, apontando para seus peitos do jeito menos tarado que consigo,
"merece uma medalha."
"Espera aí." Ela levanta a mão. "Estou tentando te dar um curso rápido de história do cinema e você está secando minhas orelhas e meus peitos?"
"Principalmente as orelhas", minto.
Espero que ela perca a paciência agora. É o terceiro dia seguido que reservamos uma das salinhas de estudo da biblioteca, e na maior parte do tempo ela fica listando filmes, diretores e roteiros e apontando para seus rabiscos no quadro branco.
Meu interesse se esgotou no primeiro dia, depois de cinco minutos. Para ser justo, não é só porque Camila é uma péssima professora. É principalmente porque, apesar de fazer todo esforço possível para passar o verão longe dos meus pais e da minha vida social, parece que minha mente não quer cooperar.
Em vez de me concentrar nos filmes de Camila, estou focando no meu próprio filme. Mesmo deixando Hailey de fora, saber do caso extraconjugal da minha mãe já seria o suficiente para transformar essas férias numa merda completa.
Meu coração dá um pulo raivoso com a lembrança. Não basta ter visto minha própria mãe em uma situação em que um filho nunca deveria ver. Mas é muito pior que eu a tenha pego com um homem que não é meu pai. (Não que se fosse meu pai teria sido melhor — qualquer uma dessas imagens provavelmente só seria apagada com alvejante industrial.) Acrescentem-se alguns flashes do rosto feliz e ignorante do meu pai e você tem um filme de terror passando sem parar na minha cabeça.
As aulas de Camila simplesmente não me distraem o bastante. Desesperado por qualquer coisa que me desvie desses pensamentos, decido concentrar minha atenção nos problemas de outra pessoa.
"E como está sendo morar com seu ex?", pergunto.
"Ah, você sabe", ela diz, devagar, se jogando na cadeira à minha frente. "Tem sido incrível."
"Sério?", pergunto, meio surpreso.
"Claro. Nem sei dizer qual é a melhor parte do arranjo. Dormir no sofá cheirando a maconha e cerveja enquanto ouço a nova namorada dele gritar que vai montar em seu cowboy hipster? Ou quando ela me pergunta se eu tenho camisinha sobrando pra emprestar?"