SHAWN
Estou vagamente ciente de que falo de amenidades com um punhado de pessoas depois que deixo a mesa pra trás — depois que deixo Camila pra trás.
Todos os meus instintos gritam para que eu me vire. Que a pegue em meus braços e diga que vamos dar um jeito de fazer com que isso funcione. Mas não faço nada. Ela está desistindo de mim. Da gente.
Depois de tudo, depois da noite de ontem, Camila está pronta para voltar atrás porque eu não morri de amores pelas botas e pela maquiagem bizarra dela. Então, eu a deixo primeiro, pensando que seria menos doloroso assim. O que é um erro.
Parece que estou com uma faca cravada no peito. E provavelmente nas costas também, conhecendo bem a garota. Mas nem tenho mais certeza de que a conheço. Essa criatura assustada e indiferente não é a garota briguenta e corajosa que eu conheci.
Falei sério: Camila está mesmo se tornando uma estátua. E eu sei por quê. Pra se proteger dessa merda toda. Mas ela realmente acha que precisa se proteger de mim?
Bom, você perdeu o controle só porque ela estava com mais brincos na orelha do que gostaria. Por que confiaria em você?
Esfrego o rosto. Sou um babaca. Um babaca muito, muito confuso. Não me dou conta de para onde estou indo até que estou subindo no veleiro do meu pai e me dirigindo à proa. Sempre foi meu esconderijo quando eu precisava fugir dos meus pais durante o verão. Era aonde eu ia para pensar melhor, evitar uma bronca ou só ter um tempo para mim.
Mais tarde, mostrei meu refúgio para Hailey, e ele passou a ser o lugar onde nos beijávamos sob as estrelas. Congelo quando vislumbro os fios loiros que me são muito familiares. Como se eu a tivesse conjurado com minhas lembranças, Hailey está aqui. Eu reconheceria sua silhueta esguia de costas e seu cabelo até os ombros em qualquer lugar.
Ela está sentada no meu lugar, com as pernas dependuradas para fora, olhando para a água. Tento me afastar devagar para procurar outro lugar onde possa ficar sozinho, mas Hailey sente minha presença. Seus olhos não parecem nem um pouco surpresos quando ela se vira e me vê.
É como se soubesse que seria eu. Quase como se estivesse me esperando. Não sei se estou pronto para essa conversa, mas de repente parece o momento certo. Talvez eu possa tirar Hailey e Camila do meu sistema por completo e recomeçar do zero no meu último ano.
Talvez encontrar uma garota que não me traia. Uma garota que é real, e não imaginária.
Vou em sua direção, e ela abre espaço para que eu fique ao seu lado. Antes, eu sentaria tão perto que nossos quadris ficariam encostados, mas agora há alguns centímetros entre nós, e eu sei que não se trata apenas de uma distância física. É emocional também.
"Cadê a Camila?", ela pergunta.
Fico impressionado que tenha usado o nome dela. Sempre imaginei que uma ex perguntaria "onde está sua nova namorada", desdenhosa, ou seria ainda mais depreciativa com sua substituta. Mas Hailey nunca foi maldosa.
Infiel, sim. Desagradável, não.
"Esperando o ônibus, imagino", respondo.
"Sem você?"
"É."
Ela baixa o olhar para as próprias pernas, balançando sobre a água.
"Quer conversar?"