SHAWN
Levo Camila até seu quarto por volta das quatro da manhã, então vou sem fazer barulho até o meu e aproveito algumas horas de sono antes do brunch de despedida dos meus pais e de voltar para a cidade.
Quando acordo, às nove, preciso de cinco segundos grogues para me dar conta de por que estou de tão bom humor. Me lembro do momento em que Camila entrou debaixo das minhas cobertas e tudo o que veio em seguida.
Agora percebo por que parecia que havia um elefante sentado sobre meu peito nos últimos dias. Eu estava temendo o momento de entrar no meu apartamento e não sentir o cheiro da espuma que ela usa quando toma banho à noite. Estava temendo não ter ninguém para tirar sarro de mim por passar as bermudas que uso para jogar golfe ou lavar a seco minhas polos.
Estava temendo uma vida sem Camila.
E agora não preciso mais.
Tomo um banho rápido antes de colocar uma bermuda cáqui e uma camisa verde, só porque uma vez ela me disse que não fico "tão mal" de verde. Foi um elogio relutante, mas definitivamente um elogio.
Posso aceitar.
Quando saio do quarto, quase dou um encontrão em Mike e Michelle St. Claire.
"Shawn!", Michelle diz. Seu rosto me é tão familiar quanto o da minha própria mãe, e ela parece tão feliz ao me ver que me embrulha o estômago. "Não vi você o fim de semana inteiro. O verão inteiro, aliás."
Há uma pergunta escondida aí, mas não quero responder. O problema é de Michael. Ainda assim, não é culpa dela que seu filho tenha dormido com minha namorada ou que seu marido provavelmente esteja dormindo com minha mãe.
Me pergunto se ela sabe.
Movido em parte por dó e em parte pelas boas lembranças, dou um abraço nela e um beijo na bochecha, fazendo o meu melhor para evitar o contato visual com Mike. Como ele pode trair uma mulher como Michelle St. Claire está além da minha compreensão.
Conversamos por alguns segundos antes que Mike resmungue qualquer coisa sobre estar com fome e arraste a mulher na direção das escadas. Ela me dá uma última olhada suplicante.
"Vou dizer a Michael que você mandou um oi."
Não, por favor.
"Tá", digo, forçando um sorriso. Ainda assim, pensar no meu melhor amigo não machuca tanto quanto vinha machucando nas últimas semanas, e eu até me pergunto se é hora de ligar para ele. O mínimo que podemos fazer é colocar tudo para fora. Mais de uma década de amizade vale pelo menos isso.
Dou uma batida leve na porta de Camila, sem me importar em esperar que responda para entrar. Ela está de costas para mim, guardando cuidadosamente seus vestidos e biquínis na mala.
Mas não são as roupas que está guardando que chamam minha atenção. São as roupas que está usando. Ela vira a cabeça para mim e abre um sorriso tímido.
"Oi", diz, e suas bochechas ficam cor-de-rosa.
Penso em dizer alguma coisa para tranquilizá-la. Para garantir que não precisa ficar nem um pouco constrangida por causa do que aconteceu entre nós ontem à noite. Que foi uma das melhores noites da minha vida, e não só por causa do sexo. A conversa, ficar abraçadinhos, as confissões... Tudo. Mas não consigo tirar os olhos de suas botas. Sua calça. Sua regata preta. Seus olhos maquiados.