Capítulo 8

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SHAWN


Às vezes me parabenizo por não ser um babaca completo.

Não corto as unhas na cama. Não faço barulho ao comer. Não uso a calça no meio da bunda porque é "legal". Mas, no fim das contas, sou um homem, e passar o sábado em um salão de beleza está no topo da lista de coisas que não quero fazer.

Eu preferiria estar no meu barco. Ou na academia. Ou em qualquer outro lugar. No entanto, não posso deixar Camila passar por essa transformação desacompanhada.

Para começar, já foi difícil convencê-la de que ela precisava mudar o visual. Tive até que pegar o celular para mostrar fotos da minha mãe usando pérolas e do meu pai vestindo terno, assim como da casa deles, feita de mármore e granito, com uma escada em espiral e um chef de cozinha.

Ela entendeu.

Ninguém se mistura com os Mendes usando coturnos. E eu não sei bem por que ela está topando se misturar com os Mendes. É uma ideia bastante ruim . O pior é que a culpa é minha. Seus comentários arrogantes sobre eu não contribuir em nada com o trabalho me incomodaram, de modo que acabei assistindo a todos aqueles filmes, meio por tédio, meio para mostrar que ela estava errada. E aqueles malditos filmes me pegaram num momento de desespero.

Algumas semanas atrás, minha mãe teve a brilhante ideia de convidar Hailey para o brunch. Surpresa! Poucos dias depois, Hailey por acaso estava jogando tênis quando meu pai me convidou para jogarmos em dupla. Não é preciso ser gênio para entender que meus pais estavam tentando nos juntar.

Eu estava preparado para contar a eles que eu e Hailey tínhamos terminado de vez. Mas então eles deram um jeito de fazer com que nós dois saíssemos de barco — sozinhos, como se fosse algum tipo de ocasião especial. Não ia deixar isso acontecer de jeito nenhum. Contudo, não consegui contar a verdade aos meus pais. Pareceu humilhante demais.

Então fiz o que qualquer covarde patético faria: falei que tinha outros planos. Com minha nova namorada.

Como eu disse, não foi a melhor das ideias. Eu não estava brincando quando disse a Camila que havia surpreendentemente poucas mulheres no meu círculo social que poderiam desempenhar esse papel. É o tipo de merda que acontece quando se cresce em Nova York.

Não interessa quantas pessoas há nessa cidade. Quando se trata dos ricos — dos Mendes, dos St. Claire, dos Baldwin e dos Baldwin —, os círculos sociais são restritos, e os sexuais mais ainda. O que me leva a...

Ergo os olhos da revista de fofoca que não estou lendo, sentado em uma cadeira de couro luxuosa. Camila Cabello. A cabeleireira já colocou a capa preta sobre os ombros dela, o que só enfatiza a maquiagem nos olhos e o comportamento sombrio.

"O que vamos fazer?", Maddie pergunta, passando a mão pelo cabelo de Camila antes de deixá-lo cair sobre os ombros.

Minha garganta fica ligeiramente seca com a lembrança da sensação dos fios nos meus dedos na outra noite. Macios demais para uma garota tão rude. E então veio o beijo...

"É, meu bem, Maddie quer saber o que vamos fazer", Camila diz, me olhando do espelho.

"Sua mãe sabe que você está aqui, Shawn?", a cabeleireira pergunta, virando para me olhar.

"Não, e gostaria que continuasse assim." Ela dá de ombros.

"Não contei a ela que foi você que mexeu com minhas tinturas quando tinha seis anos e o cabelo dela ficou cor de cobre, contei? Não vou comentar que trouxe uma garota."

Gothic - ShawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora