SHAWN
Minha dupla de trabalho tem uma beleza que assusta.
Ou talvez só seja assustadora de um jeito lindo. Seja como for, não sei por que não consigo parar de olhar para ela. A garota nem é o meu tipo.
Ela tem cabelo escuro — quase preto, mas não exatamente —, e não deve ter mais de um metro e sessenta. E, em vez dos vestidinhos floridos e das sandálias que as garotas preferem no verão, usa uma calça cargo preta e botas que parecem saídas do campo de batalha de uma guerra.
E tem aquela regata roxa muito reveladora. É a única parte da roupa de que eu gostei.
Ela tem peitos incríveis. A maquiagem de guaxinim é menos atraente. É como se o contorno bem preto dos olhos fosse uma forma de dizer "foda-se" para o verão e a felicidade. Fora que ela é bem mal-humorada.
Definitivamente não é o meu tipo.
E agora estou preso com ela pelo resto do verão. Acho que é bem feito por ter sido um babaca no corredor, quando ela claramente preferia ficar sozinha.
O normal seria eu ter ajudado a recolher as tralhas dela e cair fora, mas o jeito como me rotulou antes mesmo que eu abrisse a boca me deixou puto. É claro que ela está certa. Não me encaixo aqui. Se eu também fosse julgar pelas aparências, acharia que as garotas dessa parte do campus gostam de passar o tempo tomando suco de couve orgânica e discutindo literatura feminista. E a maior parte dos caras parece tão envolvida com essa literatura feminista quanto elas.
Por mim, tudo bem. Cada um na sua, e pronto.
Sou mais o tipo de cara que, na faculdade, bebe cerveja e acompanha futebol americano. Em casa, jogo xadrez e tomo uísque, mas tanto faz. A questão é que vi pelo menos cinco caras na sala de esmalte. Esmalte. Eu não pintaria as unhas nem morto.
Então, essa menina estranha tem razão. Fico deslocado neste lugar, da mesma forma que ela ficaria em Wall Street, onde fiz um estágio no semestre passado. Mas não estou acostumado com as pessoas dizendo essas coisas em voz alta.
Eu me conformo em pedir desculpas a essa gótica em miniatura. Talvez uma oferta de paz possibilite à gente sobreviver ao verão trabalhando juntos. Mas ela já foi embora da sala.
Eu a alcanço em poucos passos e seguro a alça da mochila dela. Fico tentado a levantá-la do chão, só porque posso, mas em vez disso só a puxo com força o bastante para mostrar que estou aqui. Ela me encara e, por um segundo, fico sobressaltado ao examinar seus olhos de perto.
São grandes e bem brilhantes, totalmente diferentes da sua personalidade. Sinceramente, fico surpreso que não use lentes de contato pretas só para tirar toda a cor da sua vida.
"Como foi seu primeiro dia de aula na escola?", pergunto, andando ao lado dela. "Sério, quem é que ainda usa mochila?"
"Nem todo mundo pode usar Prada", ela comenta, me lançando outro de seus olhares mortais.
"Uau, você está me esnobando por ser esnobe. Por essa eu não esperava!" Ela pisca, surpresa com a bronca.
A maior parte das pessoas acha socialmente aceitável zombar de gente rica. Talvez elas confundam as notas de dólares com um escudo, não sei. Ela não responde. Me dou conta de que vou ter que passar bastante tempo com esse ser humano intratável, e não estou nem um pouco a fim disso.
"Olha... Camila, né?", pergunto, segurando sua mochila de novo quando ela tenta fugir, como se fosse uma criança. "Quer falar sobre o trabalho agora ou tem outros planos? Como matar um gato ou fazer outro piercing?"