Capítulo 5

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(Aron)

ㅡ  Achei que não fosse aparecer nunca ㅡ A menina estava encostada em uma árvore, balançando sua adaga entre os dedos, bem no ponto onde combinamos de nos encontrar.

ㅡ Não enche, Zanfy.

Ela deu de ombros.

ㅡ Como foi a batalha?

ㅡ Você sabe que eu não lutei ㅡ cruzei os braços.

ㅡ Estou perguntando de sua amiguinha.

Engoli em seco.

Zanfy percebeu o movimento e parou de brincar com a adaga, me encarando em seguida.

ㅡ O que aconteceu?

Contei tudo sobre a última hora, desde o início da batalha até o momento da ascensão ㅡ deixei de fora como me senti, é claro. Essa parte Zanfy não precisava saber...

ㅡ Cacete... ㅡ A hostibus sussurrou. ㅡ O que vai acontecer agora?

Balancei a cabeça, sem saber como responder. Nem eu sabia o que fazer. Apenas queria encontrar Angel o quanto antes e conversar com ela.

ㅡ Olha, sinto estragar suas descobertas, mas também tenho algumas, e já aviso que não são muito boas.

ㅡ O que houve?

ㅡ Eles acharam algo ㅡ E com "eles", eu sabia que Zanfy se referia aos Hostibus.

A menina de cabelos loiros platinados me entregou um mapa desenhado à mão.

ㅡ O que é isso?

ㅡ Nosso território, onde estamos escondidos.

Ela começou a traçar os locais com o dedo.

ㅡ Há uma prisão abaixo da zona de treinamento, na parte subterrânea. Geralmente é pra onde mandam os invasores ou hostibus desertores ㅡ Zanfy analisava o mapa meticulosamente. ㅡ Os comandantes nos dividem em grupos para os turnos de vigia das portas que dão acesso a ela. Mas algo mudou lá. Estão nos enviando para reforçar a guarda em outro lugar... em um nível inferior ao da própria prisão.

ㅡ E qual a sua teoria?

ㅡ Pedi pra trocar de turno com um dos aprendizes de outro grupo, e no dia em que fiquei lá estavam levando uma pessoa. Um pano cobria sua cabeça e as mãos estavam amarradas, então não consegui ver muito, mas pelo corpo parecia um homem. Três hostibus estavam escoltando-o e mais dois atrás carregavam uma caixa.

Fiquei paralisado quando Zanfy terminou de falar.

E se esse homem fosse um dos elementais... ou até mesmo... o pai da Angel.

Levantei rápido e Zanfy franziu as sobrancelhas me encarando.

ㅡ O que foi?

ㅡ Precisamos descobrir quem é essa pessoa. O quanto antes.

ㅡ Precisamos, vírgula, eu vou ter que fazer isso sozinha. Esqueceu que eu sempre fico com a parte suja de toda essa história.

ㅡ Vou com você. Teremos alguns dias sem aula por conta do fim das batalhas e das celebrações, não vou fazer falta aqui de qualquer jeito. Volto a tempo das cerimônias.

Zanfy riu ironicamente.

ㅡ Como se você tivesse culhão pra ir até lá, Aron.

ㅡ Tô falando sério, Zanfy. Cansei de ficar parado sem respostas. Talvez indo até lá eu consiga achar algo sobre meus pais também.

Zanfy me analisou pelo canto do olho e seu semblante ficou sério, os olhos se tornaram mais sombrios.

ㅡ É muito perigoso... ㅡ a voz da menina adquiriu uma entonação baixa e fria.

E ali estava. Aquela preocupação, aquele instinto protetor que Zanfy teve desde que éramos pequenos.

ㅡ Escute: não vou ficar por muito tempo, e enquanto estiver lá, vou permanecer escondido e sem chamar atenção. Eu tenho a marca deles, de qualquer forma. Se me revistarem não vão desconfiar de nada.

A loira ficou pensativa por longos segundos e depois disse, sem muita emoção, disse:

ㅡ Ok. Mas se arrumar problemas, te mato antes que eles possam fazer isso.

Havia um tom sarcástico na voz dela, mas eu sabia que aquela frase tinha seu pingo de verdade. Era uma promessa oculta. Caso eu fosse sentenciado à morte pelos Hostibus, Zanfy me mataria antes mesmo que isso pudesse ocorrer. Uma morte rápida nas mãos dela para fugir da tortura sádica e sombria dos cultuadores das trevas. Palavras da própria Zanfy, certa vez.

ㅡ Tenho que fazer uma coisa antes de irmos ㅡ comecei a caminhar para a trilha que conectava à saída da floresta. ㅡ Angel vai com a gente. Depois eu te explico tudo.

Um corte rápido no ar passou de raspão por meu ouvido.

ㅡ Sem chance. ㅡ Zanfy lançou sua lâmina na árvore mais próxima a mim, desviando de minha orelha por poucos centímetros.

ㅡ Não vou discutir. Tá decidido ㅡ falei enquanto arrancava a arma do tronco.

ㅡ Uma ova que está ㅡ ela pisou fundo ㅡ Você perdeu a cabeça? Levá-la até lá vai ser como entregar o trunfo ao inimigo.

De fato, havia um risco em colocar Angel no território dos inimigos ㅡ os responsáveis pelo massacre de parte da família dela. Mas eu conhecia a menina o suficiente para saber que, se ir até lá nos desse respostas sobre seus pais, ela iria sem pensar duas vezes.

Além do mais, Zanfy era inteligente o suficiente para evitar que algo saísse do controle, e eu e Angel éramos espertos o bastante para não nos metermos em confusão.

E fortes o bastante para brigar caso algo desse errado...

ㅡ Apenas confia em mim.

Antes que Zanfy pudesse contestar, saí em disparada em busca da menina do Fogo e do Ar.

Os Elementais: O Legado das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora