Capítulo 30

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Os homens me tiraram à força da caverna e um pano escuro foi colocado em minha cabeça, assim com correntes foram enroscadas em meu pulso ㅡ com brutalidade.

Os três hostibus caminhavam em um ritmo constante e o ar era preenchido por um silêncio avassalador e brutal.

Quando enfim pararam de andar, estávamos em um lugar fechado e abafado.

E não estávamos sozinhos.

Eu conseguia ouvir a respiração de mais uma pessoa... ou seriam duas pessoas? Era difícil dizer com os poderes tão falhos.

Eu não fazia ideia do que iam fazer comigo.

Muito menos quando a guarda ordenou:

ㅡ De joelhos.

E enfim puxou o pano que cobria minhas feições.

Diante de mim, se encontravam mais dois hostibus além da superior e seus soldados.

Um deles tinha uma silhueta masculina, já o outro possuía seios mais fartos e curvaturas femininas por debaixo do uniforme preto. Ambos utilizavam capuzes e máscaras, como armas vivas ㅡ e totalmente impenetráveis.

Estávamos em um espaço rochoso e pequeno. Era uma espécie de depósito; havia baldes, prateleiras com caixas e panos empilhados em alguns cantos.

ㅡ É toda de vocês ㅡ a mulher mais velha falou e deixou o local com os dois guardas.

Os dois hostibus restantes permaneceram parados por alguns segundos após a porta se fechar.

Ambos se encararam, e apenas quando um deles assentiu, seus capuzes e máscaras foram retirados.

E um pingo de alívio percorreu meu corpo quando percebi que Zanfy era quem estava diante de mim.

O soldado ao seu lado era um jovem ㅡ provavelmente da mesma faixa etária que a menina de cabelos brancos. Ele possuía uma pele pálida, os cabelos pretos rebeldes estavam presos para trás em um coque com fios soltos e havia um piercing de argola preta em seu nariz; mas sua característica mais marcante eram os olhos verdes cinzentos envoltos em um fino traço preto, delineando a íris.

Zanfy apontou para mim com o queixo e o menino caminhou para trás de mim.

Eu podia sentir sua movimentação, mas não sabia o que estava fazendo.

ㅡ Fique parada ㅡ A menina falou.

E então, em poucos segundos, as correntes que prendiam minhas mãos tilintaram no chão.

Fiquei de pé assim que fui solta e ergui os braços diante de meu peitoral e rosto, acariciando meus pulsos, os quais estavam avermelhados e marcados por conta do aperto das correntes.

ㅡ Obrigada ㅡ sussurrei para Zanfy e para o hostibus, que retornara para seu lado.

ㅡ Não me agradeça ainda ㅡ ela respondeu, fria e direta. A menina recostou-se sobre uma das paredes. ㅡ Conte como veio parar aqui.

Falei para ela tudo o que acontecera desde o momento da sala do diretor até então. A hostibus ouviu minha história atentamente, mantendo sempre os olhos cerrados e as sobrancelhas comprimidas ㅡ analisando e pensando.

ㅡ Não faz sentido. Por que o líder da Statera a enviaria para cá?

O menino ao lado de Zanfy me encarava com aqueles olhos cinzentos sem emitir um mísero som.

ㅡ Eu sei que é difícil de entender, mas estou te falando a verdade. Você precisa me ajudar a sair daqui. Precisa me ajudar a voltar para a Statera ㅡ minha voz soava fraca.

Zanfy soltou uma risada rouca.

ㅡ Do que está rindo?

ㅡ Sabe ㅡ a hostibus deu um passo à frente. ㅡ Você e Aron são bem parecidos nisso. Em achar que eu preciso ajudá-los a qualquer momento e sob qualquer circunstância... ㅡ a menina deu mais dois passos em minha direção, se aproximando ainda mais. ㅡ ... mas você vai ficar surpresa, princesinha, quando perceber que o mundo não gira ao redor de vocês ㅡ o rosto de Zanfy já estava a poucos centímetros de distância quando ela terminou a fala. ㅡ e que eu tenho tarefas a fazer.

ㅡ Zanfy, por favor ㅡ a humilhação de implorar era a menor de minhas preocupações.

ㅡ Não. Resolva sua merda sozinha.

A menina virou de costas e os cabelos claros balançaram na trança embutida.

ㅡ Leve-a de volta para a prisão ㅡ Ela ordenou para o hostibus enquanto ia na direção da porta.

ㅡ Espera, espera! ㅡ eu recuei para trás hesitante quando o garoto ameaçou vir até mim.

Os dois pararam de se mover. Zanfy permanecia de costas.

ㅡ O que você acha que vai acontecer com o resto dos elementais que estão na Statera? Se o diretor fez isso com a própria herdeira da instituição ㅡ a menina moveu a cabeça levemente ao ouvir aquelas palavras, me observando de lado. ㅡ nenhum elemental está seguro ali.

ㅡ Eu não dou a mínima pra você e seu povinho mágico ㅡ Por mais que o tom de sua voz fosse firme, senti que não havia 100% de verdade em sua sentença.

ㅡ Mas você se importa com Aron.

O hostibus ao lado da menina voltou os olhos para ela.

E a própria Zanfy desviou o olhar quando mencionei o único nome que a atingia.

Afinal, foi o seu próprio instinto que a guiou até Aron.

ㅡ Aonde quer chegar?

Juntei toda a presunção e confiança que consegui e disse:

ㅡ Aron também faz parte do meu povinho mágico, ou já se esqueceu que ele é membro da Statera? E que talvez possa ser o próximo a ser enviado até aqui?

Zanfy engoliu em seco. O hostibus continuava prestando atenção em nosso diálogo cautelosamente.

ㅡ Você viveu nesse lugar tempo suficiente para saber o que as pessoas daqui são capazes ㅡ a visão do menino de asas cortadas e dos semblantes sem vida percorreu minha mente ㅡ E acredito que não queira que Aron passe por isso também.

O olhar que a menina me lançou foi suficiente para saber que ela concordava com o que eu havia dito.

ㅡ Eu não tenho como levar você de volta pra lá ㅡ ela falou. ㅡ Nenhum prisioneiro sai daqui com vida.

ㅡ Não nessas circunstâncias... ㅡ O hostibus ao lado da guarda falou.

ㅡ Fique fora disso, Nuhad ㅡ Zanfy o olhou com repreensão.

Nuhad, então esse era o nome do menino silencioso.

ㅡ Quando virem que escapou, vão saber que algum de nós a ajudou ㅡ ela engoliu em seco.

ㅡ Então como vou sair daqui?

Nenhum dos dois respondeu a pergunta.

Por uma fração de segundo, algo como pena ondulou nos olhos do soldado de olhos verdes e da menina de cabelos brancos.

ㅡ Pelo menos... pelo menos tente avisar Aron. Antes que seja tarde. Ele saberá o que fazer.

Zanfy assentiu.

ㅡ Não prometo nada. Mas irei tentar.

Os Elementais: O Legado das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora