Conto 04 - Ecos Do Vento

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"Por que?" ela me disse em uma pausa na fria calada da noite, e tão simples pergunta me perfurou como nem carne e nem ossos pudessem proteger meu peito afligido. Tomando segundos de silêncio em uma respiração profunda, me vi desperto de meu transe. Vislumbrei minhas mãos. A que tocava os acordes do violino estavam sangrando em carne viva, e logo me dei conta do disparate entre os sons do começo e do fim. Vi meu instrumento regado de sangue em sua madeira negra e bem entalhada. Voltei meus olhos languidamente para a mulher que me observava atônita.
"Ouço você gritando todas as noites, há meses nesse terraço, todas as noite da meia-noite até as 3hrs vc aqui está. Gritando e chorando!". Gritando o chorando? Mulher tola, meus acordes perfeitos eram o cantar, mas sim talvez ressoasse como um grito febril de minha paixão." A senhorita fala de minha substância transpondo a matéria? Afirma que pode ouvir o que sinto? " ela secava suas lágrimas tomada de suas emoções encarando meu rosto inexpressivo. "Teu violino berra todas essas noites uma melodia de morte tenebrosa. Terrível e tem me açoitado todas as noites... Que dor terrível é essa?" ah sim. Ela fala da dor. Meses? Se passou tanto tempo? Estou sempre aqui nesse mesmo lugar, nesse terraço a flertar com a lua com minhas sonatas sanguíneas. Sim meu peito é vazio e carregado da morte. Mas a morte pela morte é misericórdia. Dentre todas as piores desgraças eu sinto ungir na sordidez a inspiração maldita e inegável que a solidão e a perca trazem. Antes não conseguia sequer tocar e agora todas as noites de sonata dedico meu amor a ela que se foi.
"A morte é piedade. O que entoa em mim são ecos, uma eterna homenagem dos pecados que me recaem, em nome dela!"
"Dela quem?"
"Ela!... Ah sim... Quanto tempo não falo o nome dela... Minha Amada?... Sim, eu lembro, ela se foi..."
"Sua amada morreu sir? É isso que te move a tocar todas as noites?"
"Sim... A dor e tristeza eu fico apaixonado com o quanto isso inspira a apaixonante arte em meu ser" Por que eu não choro? Posso estar saindo... Não... Não! Eu estou saindo do meu ciclo! Maldição! A dor está indo embora! Eu esqueci o nome dela, como posso homenagear? Oh maldita! Amaldiçoo a dor temporal! Onde estou eu sem a perca! Só consigo lembrar dela sufocando e parando de se mexer! Ela morreu na minha frente e me trouxe tantos legados... Mas agora tudo virou areia...
"Devo seguir adiante..."
"Sir, o que disse?"
Olhando melhor para aquela donzela, vendo sua beleza maravilhosa e sua delicadeza para com a arte... Oh sim! Posso me apaixonar novamente. Amar mais um monumento... E quando for oportuno... Aaahh, sim aquele pescoço dela vai sufocar também. E minha inspiração vai voltar na dor dessa saudade outra vez.
"Senhorita, tomaria um chá comigo?"
Meu precioso ciclo retorna outra vez...
Mal posso esperar...

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