Conto 08 - Silêncio Em Pendulo

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Querido diário. Aprendi a escrever por muito esforço. Meu nome é Cordelia. Li muitos livros de contos de fadas, mas não entendo como funciona. Sempre orei para Deus, do meu próprio jeito, para me tirar a sensação que tenho dentro de mim. Não posso ir a igreja pois são 4 dias de viagem e o orfanato é bem distante de tudo. Estive realmente pensativa sobre a ideia de um futuro glorioso. Sou muito útil e posso ajudar quem resolver me adotar. Será que é bom ter uma família? Os livros falam muito de amor! Eu espero sentir eles.
Querido diário... Me rejeitaram outra vez... Trabalhei duas semanas para uma família, mas me devolveram, dado que a esposa tinha medo do marido, medo por ela e por suas crianças. O Sir Victor tinha um olhar assustador, e me lembrava muito o Diretor Hopper. É difícil adotarem meninas, mas sei bem que meu esforço ganha muito dos meninos, sou bem mais inteligente e meu serviço é bem melhor...
Querido diário... Os dias parecem mais sombrios e o inverno é cruel. Não vejo o sol radiante e nem as flores que me afagavam a vista. Só alvura na ilha do Príncipe Eduardo. Realmente espero um aconchego do amor. Não me dam gentilezas as meninas daqui. Me olham com desprezo e me tratam com desdém. Estou ficando mais velha, e isso vai tornar-me cada vez mais presa aqui! Tenho 11 invernos! Veja bem, e escrevo como uma grande estudiosa! Meu coração é nobre.
Querido diário... Eu estou consternada... Aquela sensação... Eu sinto nojo de mim... Eu me sinto invadida e culpada... Está doendo tanto, tanto... Eu sequer consigo me olhar no espelho...
Diário... Eu recebi um vestido novo e minhas colegas o rasgaram... Eu ainda estou em silêncio... Eu ainda tenho as feridas... Elas gritam e sangram muito... Eu tenho medo de morrer!... Mas eu também quero muito morrer!... Que Deus me perdoe, mas sou uma pecadora! Sou uma meretriz maldita e sequer sou adulta!... Sou o ser mais corrupto da Terra e cada dia que vivo, mais sofrimento eu tenho...
Diário... Ele tocou em mim novamente... Com muito mais furor... Eu fui espancada desta vez, por pedir e implorar socorro aos gritos... Ele disse que me daria fim pior que a morte se a boca não ficasse cerrada... Deus me abandonou... Eu já não tinha ninguém... Mas agora sou sozinha e impura...
Diário... O diretor Hopper vai voltar amanhã da viagem... Sei que ele vai me procurar. Ele garantiu meu silêncio pela boca e medo. Mas este diário eu irei entregar a cozinheira para que ela leve as autoridades... Espero que Deus faça o mínimo pelo meu destino... Não me importo de arder no inferno por ser uma puta... Ou uma covarde... Mas eu não aguento mais... Tem um poço. Irei lá a meia noite e me enforcarei na corda. Quero que minha mácula contamine a água e espero que amaldiçoe as minhas colegas órfãs que tanto me feriram. Espero muito que beba dessa água senhor Hopper... Bebe tu mesmo teus próprios venenos! Este é o triste adeus de Cordelia!

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