Conto 06 - Sempre Esclarecido

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Eu caminhava toda noite pela mesma rota em Londres na busca de um momento seguro e de paz, no qual nele eu tivesse a suave brisa da noite sem me compadecer de conhecidos. Meses atrás em uma casa de aspecto velho eu via na janela cinzenta de pedra uma mulher que ali sempre estava a observar as fases da Lua, e tal como a Lua Nova, nesses dias lá ela não estava. Olhando-a sempre com seu ar de mistério que todas as damas fantásticas e distintas trazem com seu chapelão que lhe cobria a face. Eu continuei curioso andando pela rua Bow, pensando sobre o q fazia aquela mulher todas as noites vislumbrar com tanta paixão a luz do luar.
Em um dia cálido do inverno voltava com meu amigo Charles por este mesmo caminho, e embriagados dávamos socos leves nos ombros e falávamos amenidades que não se fazem necessárias de se citar. Pois eis que passando em frente aquela cinzenta e pedregosa casa antiga, ousei com Charles. "Por que ela sempre está a observar a doce Lua? Que poder incrível a faz usar um vestido de verão em pleno inverno?". Charles me pareceu confuso e tão logo me disse "Brain, não há nada lá". Logo vi que ele me aplicava uma peça, pois seu tom de troça era inacabavel.
Foi há mais ou menos 3 meses, cujo dia e noite já não sei mais diferenciar que em pálida noite ofuscada pela neve, me vi tomado de grande angústia e encontrei novamente na janela aquela pálida moça a observar a Lua. Eu gritei e lhe chamei, e a mim nada o fez, até que lhe dei um aceno nervoso, e com toda calma como se fosse uma boneca retorcida ou um fantoche ela me retribuiu meu aceno com leve mensura. Eu tinha ido embora satisfeito, mas nunca mais a vi novamente, e até hoje nas noites ouço passos a me seguir, mecânicos como autômatos, de sapatos cálidos e sórdidos de noites tenebrosas. E me vi afugentando a minha mente cada dia mais com um frio que vinha da espinha e cada vez mais de dentro.
Havia ido ao massoterapeuta, para que no peso em minhas costas cansadas do trabalho me dessem alívio, mas nada me tirava aquilo. E tão logo nenhum caminhar se seguia em meus ouvidos a me perseguir. Mas a dor nos ombros se tornava cada dia mais insistente. Tão logo, me olhando no espelho na parca luz da vela, senti vultos nos cantos dos olhos como se carregasse uma corcunda negra nas minhas costas.
Ao me barbear eu tive um vislumbre se meus ebrios tempos e não me cansava de lapsos estranhos e horrorizantes que deixariam homens de bem apavorados. A mim todavia, me trazia como sonhos uma musica que eu ronronava na garganta de modo sombrio. E foi quando aos poucos me dei conta que no banho, marcas de mãos esguias me manchavam em hematomas nos ombros. Trato não feito por nenhum homem ou mulher.
Em um belo dia que me engravatava, me vi como realmente me sentia, alvo, doloroso, covas negras de noites não dormidas em meu sonolento e paranoico rosto.
Ninguém habitava aquela casa desde 3 anos atrás. Nenhuma mulher de branco havia. Mas mesmo assim no espelho eu via, uma mulher de branco, de chapelão que lhe tornava sem rosto ou expressão, grudada em minhas costas. A forma sombria com a qual eu me tomava, me drenando a vida tão logo me esclareceu em lapsos um surto maldito em alcoolizada noite que em uma ruela  de esquina com a Bow me vi indómito homem vulgar e voraz, tomado de instintos primais e pecados que não me cabiam ao corpo, e naquele corpo despejei meus instintks até sairem fluídos, e aquele corpo ainda estava quente quando eu o dava orgasmos de garganta aberta.
Foi numa noite me barbeando, me tomando da navalha que a pálida mulher me ajudava com a mão, ainda pendurada e retorcida sobre minhas costas e ela esclareceu-me tudo. E naquele dia, ou talvez a noite, eu estava observando uma lua vermelha invertida, gorgolejando sangue profuso e me afogando com minhas entranhas ainda quentes. Ainda quentes... Ainda quentes...

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