Conto 10 - Criança Da Meia noite

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Eu não queria voltar para casa. Então ficava naquele mesmo parquinho ao anoitecer, chorando. Em uma dessas noites havia uma linda e cansada mulher que se assentava no balanço, com ataduras no pescoço. Eu sendo uma criança curiosa e solitária vi nela solidão semelhante... Eu já estava chorando e não fiz questão de limpar as lágrimas.
- Por que choras menino?
- Porque sou mentiroso...
Ela me olhou ternamente como se quisesse me tomar nos braços.
- E estes arranhões e machucados?
- Meus colegas me bateram por ser mentiroso...
- Mas você é?
- Não, o mesmo com minha mãe, ela diz que sou grandinho demais para ter amigos imaginários, mas eu vejo lá, sempre tem uma pessoa, as vezes são como foi a minha vovó. Vem, cheios de algo, falando coisas que não entendo, fazem companhia e de repente se vão num sorriso, ou em uma careta triste...
- Eles são amigáveis?
- A maioria, alguns apenas acenam e ficam para o jantar, mas não gostam da comida, mas eu entendo, minha mãe faz sopa a noite, quem gosta de sopa? Tem beterraba!
- Parece horrível - dizia ela sorrindo
Perguntei para ela na noite seguinte o porquê de ter curativos no pescoço, ela havia me dito que foi um machucado de muito tempo. E na noite seguinte falamos sobre nossas famílias. Falei de meu pai que voltava bêbado e bravo, muito bravo para casa e quando eu falava das pessoas que estavam comigo ele me espancava, por isso mesmo quando não era machucado na escola, era muito em casa. E não tinha problemas de voltar tarde se voltasse até a meia-noite.
- E o que você diz que faz para eles?
- Que estou brincando na rua com meus amigos...
- Mas não é isso, não é?... - o olhar dela era como de uma mãe, mas era um que eu nunca tinha visto, era amável e acalentado.
- Não tenho amigos, sou um mentiroso, lembra?
- Você não é um mentiroso, e além do mais, nós somos amigos não somos?
-SIM! - eu disse alegre - Eu tenho você de amiga, e você não é imaginária!
Eu comecei a chorar de dar soluços, mas não estava sentindo dor. Eu não savia o porquê chorava, pois não tinha me machucado e não estava triste.
- Por que estou chorando? Eu nem me machuquei tia!
- Ora menino, também podemos chorar quando estamos muito felizes!
- Tia, você já chorou de alegria?
Eu senti q havia errado por falar aquilo, pois ela olhou para o chão muito entristecida, e como disfarce sorriu para mim, mas eu vi que ela estava muito triste.
- Sabe, as coisas mais felizes podem acontecer por um momento, apenas um momento, e de repente ficarem para sempre onde mais importa.
-Tia, onde é que mais importa?
- Aqui! - ela disse apontando para o meu coração.
Minha mãe que saia do mercado aquela noite me viu no parque e agitando agressivamente berrava para mim vir a seu encontro.
- Mãe olha eu tenho uma amiga!
Ao olhar para a Tia vi que seu olhar se entristeceu por completo, e não entendi o que a fez ficar tão abatida. Até que minha mãe disse:
- Está falando sozinho de novo menino?
Eu olhei para tia e meu coração se apertou inteiro da mais pura dor, antes meu pai tivesse me espancado, antes meus colegas mijassem em mim, pois aquilo que senti, aquela solidão, aquela dor me afogou em lágrimas e gritos, então fui arrastado pela minha mãe até em casa...
Na noite seguinte não vi a tia mais lá... Ela havia ido embora, então gritei para o balanço onde ela sempre ficava.
- Tia, você foi a única pessoa q se importou comigo e que foi minha amiga de verdade! - não pude conter as lágrimas - Não importa se a senhora estava ou não aqui! Porque... Porque a senhora me deu momentos felizes e sempre estará comigo onde é importante... - eu bati no meu peito e disse - NO MEU CORAÇÃO! MINHA AMIGAAAAAAA!

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