24. colhendo frutos

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Durante toda essa minha jornada que se resumia entre tentativas falhas de conseguir provas para prender Jeonghan e ter me apaixonado, eu nunca desmaiei tanto em toda a minha vida, mas vejamos que o lado bom destes desmaios é que o último deles foi nos braços de Jeonghan. Não me pareceu tão ruim assim, certo?

O que eu precisava fazer para que esse amor ao menos me entregasse alguma certeza de que era algo verdadeiro? Não de minha parte, claro, mas sim da parte de Jeonghan. Mesmo com palavras bonitas, trocas de carícias e de olhares, ainda sim eu não me sentia seguro naquilo tudo. E encontrar um porquê daquele sentimento ruim de duvidar de quem se ama me tornou a tarefa mais difícil da minha vida. O sentimento de pensar em deixar o FBI para – talvez – viver uma vida tranquila com um golpista me deixava péssimo e desconfortável, tudo bem que é o golpista mais bonito de todos os tempos, mas de qualquer maneira não me parecia viável deixar a certeza de uma vida boa para uma vida cheia de dúvidas.

Bem, eu resolvi arriscar.

— Jeonghan? - O chamei. Meus olhos entreabertos e meu corpo ainda em seus braços. Yoon me encarou com um semblante preocupado, aquilo aqueceu meu coração. Saber que o homem que eu amo está preocupado com minha saúde me fez sentir segurança pelo menos por um curto tempo. — Desculpa pelo desmaio. - E eu não consegui evitar de sorrir sem graça.

Yoon sorriu de volta e me pôs de pé sem dizer uma palavra.

— Me lembro da primeira vez em que desmaiou. - E ele gargalhou, minhas bochechas rubras não escondiam meu envergonhamento. — A propósito, aquele seu primeiro desmaio fazia parte do plano? - E ele deu ênfase ao dizer "primeiro". Tudo bem, Jeonghan, eu já havia entendido que desmaiei incontáveis vezes por causa de ti.

— Sim, foi por querer. Eu sabia que você iria cair direirinho. - Sorri com desdém, não me deixando levar por seus planinhos de me envergonhar. Tudo bem que eu menti, mas faz parte.

— Eu acho que você deveria procurar um médico, isso sim. - Respondeu Wonwoo, sorrindo de canto. Seus braços cruzados mostravam algum desconforto com aquilo tudo. Eu o encarei de relance, meu olhar não durou muito tempo em Wonwoo, pois eu era puxado novamente pelas orbes de Jeonghan toda a vez que tentava observar alguma outra coisa que não fosse ele.

— Está tudo bem, pessoal! Acho que deveríamos nos preocupar com Seungcheol agora, certo? - Mudei de assunto, não era o momento propício para discutir sobre desmaios. — Precisamos de um esconderijo, de um carro, identidades falsas, celulares... - Eu contava nos dedos as nossas necessidades enquanto todos me encaravam com um olhar bem suspeito, eu diria.

— Vamos só andar, que de dane! A gente já tá na merda, mesmo. - Ditou Soonyoung, jogando suas mãos pra cima como se não se importasse com mais nada.

— Pode ser, tanto faz. - Respondeu Jeonghan, se pondo a andar junto a mim e os outros dois.

Não tinhamos rumo, para falar a verdade. Essa história de "Califórnia" era uma mentira deslavada para apenas nos escondermos, o que teria na Califórnia de tão interessante assim? Por que justo aquele lugar, havia lugares bem mais perto para servir de esconderijo, ainda mais se fosse para três ladrões trapalhões e um oficial.

O caminho até o hotel mais próximo era perturbador, não havia mais falas, não havia mais respirações calmas, mas havia muitas preocupações, não só por Seungcheol, mas sim por podermos encontrar algum outro investigador tão cruel quanto, e acreditem, ele existia. Lee Chan trabalhou com a equipe de Seungcheol há dois anos atrás, apesar de muito novo para um cargo tão importante, teve êxito em todo seu percurso como um dos agentes do FBI, em sua trajetória descobriu um dos maiores esquemas de narcotráfico do país, prendeu um mafioso e ainda fez o favor de assassinar alguns dos traficantes que forneciam drogas para menores de idade.

Bem, pelo o que eu contei, ele parecia apenas ter simplesmente feito seu trabalho, mas eu não contei sobre as torturas, troca de tiros, xingamentos contra membros da própria equipe e brigas constantes com o chefe da agência. Lee Chan era um cara bem durão, e provavelmente fora chamado para nos investigar até acabar nos achando, seu faro era bom para criminosos, ele tinha as pistas na ponta da caneta, não hesitava na hora de atirar em alguém, e se precisasse atirar em mim, ele com certeza o faria.

— O que tá rolando? - Ao notar minha expressão nem um pouco agradável, perguntou Jeonghan com um olhar mais desagradável que o meu. Ele expressava pura preocupação. Notei suas orbes, fixei meu olhar em seu rosto cansado, as pálpebras pareciam pesadas, exalava vontade de chorar. Senti dó por um momento, eu gostaria de reverter seu cenário, tê-lo conhecido há muitos anos atrás, fazê-lo um homem de verdade, sem golpes, sem policiais em seu encalço, sem decepções.

— Você é um homem bom, Jeonghan. Eu sei disso. Pessoas boas são obrigadas a fazer coisas ruins. - Eu respirei fundo, engoli a seco, ignorei totalmente sua pergunta, pois não queria mais notícias ruins. — E isso não significa que as pessoas se tornam malvadas por isso.

— Por que está me dizendo essas coisas, Jisoo? Parece que, sei lá, você vai morrer. - Ele dizia, sua voz profunda como o oceano, mas nele eu fazia questão de me afogar. — Eu não sei se sou um bom homem como você pensa, inclusive você pensa demais. - Ele deu de ombros, desviando o olhar por um momento, seu sorriso de canto não negava que estava sendo apenas brincalhão. Eu gostava daquilo, muito me cativava. — O que foi que deu, hein? - E retornou ao assunto principal. Eu não queria dizer, mas se eu não dissesse e tudo fosse por água abaixo, iriam me culpar por eu não ter dito, e com certeza poderia ser pior para mim.

— Fala logo, ou arranco seus miolos! - Gritou Soonyoung, a voz furiosa atrás de nós me deu calafrios, não pelo medo, mas sim pelo susto. Eu ignorei totalmente sua indelicadeza e continuei minha conversa apenas com Jeonghan.

— Não quero te deixar mais preocupado ainda, mas preciso te dizer algo que me veio à tona agora há pouco. - O olhei de relance, uma encarada em seu olhar perdido e eu encontraria o fim do túnel. — Há mais ou menos uns setenta e dois por cento de chance de terem convocado um antigo agente que trabalhou conosco há uns dois anos atrás. Você tem receio do Seungcheol? É porque não deu de cara com Lee Chan. Alguns o chamam de "Dino", e até hoje não saquei o motivo. - Continuei a caminhar, os olhos atentos em minha retaguarda me deixavam desconfortável, mesmo eu sabendo que não escutavam o que eu dizia. — Bom, eu só sei que ele tem fome de sangue, faro ótimo para ladrões de meia tigela como nós, ou melhor, vocês...

— Cê tá querendo me dizer que tem um filha de uma puta mais raivoso, mais esperto e mais forte que o Seungcheol atrás da gente? - Seu timbre era firme, parecia querer brigar comigo, e estava brigando, afinal de contas a culpa de tudo aquilo sempre foi minha, eu estava apenas fazendo meu trabalho assim como eles também estavam. No momento em que Jeonghan parou em minha frente, meu coração também parou, ele me encarou de cima à baixo, pousou suas mãos sobre meus ombros e seus olhos castanhos pareciam ficar vermelhos. Não era uma expressão muito agradável de se ver. — Você não está mentindo pra mim, não é, Jisoo? - Seu olhar crescia, e do jeito que estávamos eu já tinha a certeza de que morreria.

E tudo bem, certo? Ser morto pelo homem que o fez mudar em pouco tempo, que o fez questionar sobre sua vida inteira, sobre trabalho, sobre amigos e até mesmo sobre família. Minhas mãos jogadas ao ar, em posição de vítima, e não mais de ameaça.

— Você vai precisar confiar em mim. - Cada palavra que eu dizia parecia fazer a ficha de Jeonghan cair completamente. Ele era esperto, sim, por que resolveu dar atenção para um agente do FBI? Não fazia sentido algum. — Confie em mim. - Sustentei minha palavra, eu precisava de alguma maneira de sair vivo daquela situação, e não estava nos meus planos enganar o amor da minha vida daquela maneira tão cruel e traidora.

Quando Yoon soltou meus ombros eu consegui sentir o ar puro entrando pelas minhas narinas, e era tão bom respirar novamente. Fechei meus olhos por alguns segundos, temendo ver revólveres apontados em minha direção quando eu os abrisse.

Bem, eu me enganei sobre os revólveres em minha direção, pois o que minha visão conseguiu testemunhar antes de eu perder minha consciência, foi apenas algumas cordas que provavelmente seriam usadas por Soonyoung e Wonwoo para me amarrar em algum lugar.

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