26. pobres bastardos

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Um disparo e o mundo inteiro se silenciou. Parecia ter saído de uma Escopeta de Cano Duplo. Foi assim que a guerra se iniciou do lado de fora da cabana. Enquanto Lee Chan mantinha sua destra levantada, a arma brilhosa revestida com ouro apontada para a cabeça de Jeonghan. Meu interior revirava, eu sentia vontade de vomitar ao pensar que o agente poderia puxar aquele gatilho a qualquer momento, e eu mal conseguiria impedir.

— Um movimento brusco e eu estouro seus miolos. - Sua voz parecia mais grave que antigamente, me arrepiou por inteiro, era visível a frieza em seu olhar.

Jeonghan permaneceu em seu lugar, eu nunca havia o visto com uma expressão de desespero, parecia que aquele era realmente o fim da linha. Ele então respirou fundo, piscou lentamente e engoliu a seco. Sem escapatórias.

— Chan, você mudou. - Eu o repliquei, subi meu olhar aos seus cabelos que moviam livremente com o pouco de vento que entrava pela porta da cabana.

— Oi, Joshua. Uau, você tá bem machucado, né? Eu vou te tirar daí, certo? - Parecia desesperado, olhou para trás sem abaixar a arma, procurava por alguém que pudesse desamarrar as cordas dos meus pulsos. — Seungkwan, vem aqui!

Um sorriso rasgou meus lábios de fora a fora assim que escutei a voz de meu melhor amigo vindo de longe, respondendo com um "já vou!". Era bom pensar que, apesar de tudo, eu ainda tinha Seungkwan para me salvar, me apoiar, me tirar de todo aquele turbilhão de problemas que resolvi me meter por conta de um ladrãozinho lindo de meia-tigela que não valia o dinheiro que roubou. Boo apareceu logo em seguida, suas mãos sobre a cintura, seus cabelos carregavam um tom avermelhado que o deixou mais bonito do que sempre foi, o colete à prova de balas estava visível sobre a camiseta preta. Seus olhinhos sempre felizes me olharam e logo se transformaram em olhinhos tristes. No fundo ele sabia que terminariamos de uma forma trágica e que meu coração seria quebrado em três partes.

— Oras, olha a sua situação, seu desgraçado! - Gritou Seungkwan, a raiva e tristeza se misturando em sua expressão confusa. Ele correu até mim e se ajoelhou à minha altura. Parecia querer chorar, e a expressão de Lee Chan não era muito das boas naquele momento.

— Eu vou deixar vocês sozinhos. - Disse Chan, encarando meu amigo. — Já você, seu merda, você vem comigo. - Seu olhar voltou para Jeonghan, este que não sabia se estava arrependido por me deixar naquela situação ou por ter se metido em uma encruzilhada.

Chan se aproximou de Yoon, tirou um par de algemas de seu coldre. Levantou o mais velho de forma brusca, o deixando de costas para si. O baque de Jeonghan contra a parede poderia ser escutado até do lado de fora, Chan fez questão de empurrá-lo com tanta força pela tamanha raiva que carregava dia e noite consigo. Eu queria simplesmente me soltar daquelas cordas e agarrar o pescoço de Lee Chan por ter feito aquilo com meu Jeonghan.

— Com cuidado aí, por favor. - Disse Seungkwan, sabendo que eu estava sofrendo mais que todos por ter que presenciar uma cena daquelas. — O Seungcheol quer ele intacto. - Disfarçou.

Lee revirou seus olhos, pôs as algemas em Jeonghan e praticamente o arrastou para o lado de fora da cabana. A partir de lá eu já não tinha mais tanta certeza do que poderia acontecer. Minha pálpebra pesava, o nó na minha garganta me enforcava, não pude disfarçar nem segurar mais ainda as lágrimas. Eu chorei por tantas coisas naquele momento, que eu mal podia contar nos dedos os motivos. Com meus olhos fechados e lotados de lágrimas, senti os braços de Seungkwan me envolvendo, e foi naquele aperto em que eu desabei, porque eu me sentia confortável para chorar o quanto quisesse. Seungkwan me soltava aos poucos na medida em que eu cessava minhas lágrimas, se afastou um pouco de mim para soltar aquelas cordas que já marcavam meus pulsos, e quando eu estive finalmente livre caí no chão, eu mal tinha forças para permanecer ajoelhado.

— Tragam uma ambulância! Agora! - Gritou Seungkwan de dentro da cabana. Sua voz estava tão longe, e depois daquilo eu não ouvi mais nada além de barulhos baixos de sirenes ecoando e alguns disparos vindo do lado de fora.

— Seungkwan! Precisamos de reforços. - O policial do lado de fora esganiçava. Me perguntei o que Soonyoung havia aprontado daquela vez.

Kwan me encarou por alguns segundos, olhou para o lado de fora de relance.

— Não saia daí, Jisoo. Eu já volto, tudo bem? - Sem esperar alguma resposta minha, sacou a arma de seu coldre e saiu como um desesperado para o lado de fora. Eu o observei por alguns segundos até perder sua silhueta de vista, ele apontou a arma para alguém e logo após disparou. Me desesperei pensando que fosse disparado em Jeonghan ou até mesmo em Wonwoo.

Tentei à todo o custo sair daquele inferno de cabana, mas a liberdade de nada me valia quando minhas pernas não estavam em boa sincronização com meu cérebro. Eu ainda estava desidratado, meu estômago doía de fome, minha pressão mal existia. Me deitei no chão frio, saí me arrastando até a porta para tirar aquele peso de pensar que algo ruim poderia ter acontecido com o amor da minha vida. Era pior pensar coisas ruins, do que já saber o que havia acontecido, por mais traumatizante que fosse. Quando cheguei aos pés da porta, o tiroteio ainda acontecia, vi dois policiais caídos no chão, Soonyoung fazia Jihoon de refém, Jeonghan resolveu se esconder muito bem pois eu não conseguia vê-lo, já Wonwoo permanecia algemado no canto de fora da cabana torcendo para que tudo aquilo acabasse logo.

— Soonyoung! Por favor, solta o Jihoon. - Tentei gritar, quase todos me encararam. Kwon parecia afundar o cano da arma na cabeça do agente enquanto seu olhar de raiva queimava meu corpo dos pés à cabeça. No momento eu prendia a atenção de Soonyoung, avistei Seungkwan chegando lentamente por trás do golpista, deixei que se aproximasse o bastante para que pudesse pegá-lo de surpresa.

— Eu vou estourar a cabeça do seu maldito amigo, filho da puta! - O tom de voz de Soonyoung não era bem dos amigáveis, em seus braços havia apenas um pobre bastardo chorando, parecia pagar por todos os seus pecados ali mesmo. Lee Jihoon sempre foi o tipo de agente mais técnico, quebrava horas de seu dia descobrindo pistas cibernéticas de foras-da-lei, como número de celular, redes sociais, transações bancárias, entre outros. Mas capturar Jeonghan e seus capangas era uma missão tão importante para a agência, que o técnico acabou sendo convocado para trocar alguns tiros - ou ser feito de refém.

No momento certo em que Kwan avançou para cima do capanga, do fundo veio o chamado desesperado de Wonwoo avisando o amigo que havia uma ameaça à sua retaguarda. Soonyoung largou o agente Lee com toda sua força no chão, seu corpo deu meia volta e a arma já estava apontada para o peito de Boo. O mundo pareceu parar para observar aquela cena tenebrosa, um disparo foi feito e meu interior se estremeceu, mais alguns segundos se passaram e logo veio outro disparo que eu nem ao menos sabia de onde tinha saído, entre esse intervalo de tempo escutei apenas gritos desesperados e uma sirene de ambulância. Eu apaguei, não sabia se acordaria mais, não sabia se veria Jeonghan novamente ou se Seungkwan estava ferido, só sabia que eu estava bem fodido.

Obviamente me acusariam de cúmplice por todos os crimes possíveis, já que fugi com Jeonghan e seus capangas por livre e espontânea vontade. Me valeu a pena por algum momento, e se eu acordasse seria na cama de um hospital, algemado.

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⏰ Última atualização: May 25 ⏰

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