05. incêndio interno

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Eu acho que foi muita contradição eu dizer que queria ser bombeiro quando mais novo.

Tudo em mim queimava, incinerava violentamente, da forma mais bárbara possível. Mas eu gostava, eu estava gostando do que nem sequer havia iniciado ainda.

O corredor era escuro, caminho para diversas portas diferentes, era como um labirinto em linha reta. Eu estava sendo puxado delicadamente, mas o medo e a adrenalina tomavam conta do meu corpo em chamas, o cheiro do perfume amadeirado de Jeonghan invadia meu olfato e era muito bom, a mão delicada do homem era a única coisa que podia me deixar menos tenso, e a sola dos nossos sapatos colidindo contra o chão de madeira era o único barulho daquele lugar. Eu realmente nunca havia pensado na possibilidade disso acontecer, mas no meu subconsciente, eu queria, sempre quis. Era como um desejo secreto que vinha crescendo dentro de mim, mesmo eu nem ao menos sabendo quem era a pessoa que eu teria que lidar.

Agora eu sei.

Eu confesso que a única coisa que eu queria agora era poder jogar aquele golpista bonito contra a parede, revistá-lo minuciosamente sem nem ter intenções de encontrar algo que podia o comprometer, eu queria encostar meu torso contra as costas dele, apertar as algemas em seus pulsos e sussurrar ao pé do seu ouvido: "você está preso, filho da puta". Eu queria logo acabar com tudo aquilo de uma vez e poder me livrar dele – inclusive dos desmaios também.

Mas eu não tinha nem algemas, nem uma prova escrita de que ele era culpado – mesmo sendo –, não me enviaram para essa missão nem com um colete a prova de balas. Literalmente me mandaram com o único objetivo de ser uma distração para Jeonghan e seus capangas.

Eu acho que nem isso eu consegui fazer.

Por coincidência, eu fui pego. Cada movimento mínimo que Jeonghan expressava fazia meu coração palpitar em questão de milésimos, eu só não sabia se era de nervosismo ou outra coisa que acho que não preciso citar pois pode atrair.

Vou ser sincero, eu NUNCA quis me apaixonar por ninguém. Mesmo ao descobrir minha sexualidade aos meus 16 anos, eu não sentia paixão por homens, era tudo apenas atração. Já senti desejos secretos por muitos homens em minha vida, alguns eu até fiz com que me levassem para cama, outros eu não recebi nem uma bitoca sequer. Não sou um conquistador barato, nunca fui. Eu não sei diferenciar o sentimento da paixão de um possível infarto, uma dor de barriga, asma e afins.

Quando Jeonghan entrou junto a mim para dentro do quarto e, literalmente, me jogou contra a parede vermelha, eu senti.
O mesmo possível infarto, a dor na barriga e a asma.

A vontade de desmaiar também.

Eu tentei me conter para não fazer aquilo novamente. O homem me encarava com aquele olhar feroz que já carregava suas pupilas dilatadas e os lábios provocantes entreabertos, ele mal me conhecia e já sabia de todas as minhas fraquezas. Sua respiração era ofegante, ele tinha suas mãos envolta de minha cintura coberta apenas pelo tecido da camisa azul escuro.

Ele era a minha personificação de fraqueza.

— O que você quer comigo? - Indaguei logo quando ele se afastou mais um pouco de mim.

Jeonghan aproximou seu rosto da pele morna de meu pescoço, respirando todo o cheiro que meu perfume exalava. Eu sentia a ponta de seu nariz passando levemente em minha pele, era uma sensação boa, eu não podia negar.
Eu engoli em seco, apertando fortemente os músculos de seus ombros fortes. Meu corpo estava inteiramente arrepiado.

— O que quer, Jeonghan? - Repeti a pergunta. Dessa vez em tom mais firme para não parecer que eu estava em uma crise interna com minha própria mente e meu corpo.

Ele encarou meu rosto ruborizado e franziu as sobrancelhas.

Eu estava sendo muito chato.

— Não está na cara o que eu quero?

Cogitei perguntar de forma irônica se o que ele queria era meu dinheiro, mas eu não o fiz porque estragaria o disfarce. Mas ele realmente queria meu dinheiro.

Uma pena que eu não tinha nem pra mim, quem dirá pra sustentar um ladrão vagabundo e bonito.
Posicionei meu rosto bem perto dele, sorrindo da forma mais provocativa possível. Meu olhar analisava suas orbes castanhas e passeava lentamente por seu rosto até chegar em seus lábios rosinhas e convidativos enquanto uma de minhas mãos divagava por seu torso coberto pelo tecido grosso de seu paletó bege.

— Sei bem o que quer comigo. - Proferi quase que em um sussurro cheio de duplos sentidos. — Mas você não me perguntou se eu também quero. - Sorri, me soltando de seu braço forte.

Dei as costas para o loiro bonito e saí daquele quarto deixando apenas o resquício do cheiro de meu perfume nas narinas alheias. Eu sentia o olhar de Jeonghan sobre meu corpo enquanto eu saía de lá, e eu ainda queimava, talvez umas partes de mim queimavam mais que as outras.

De qualquer forma eu precisava fazer com que ele me desejasse. Naquele momento eu tinha até me esquecido de que eu era um agente disfarçado e ele um golpista que tinha que ser preso.

Éramos apenas dois homens desejando um ao outro.

Talvez eu o desejasse mais que ele.

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