15. ultimato

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O teto do meu quarto fazia com que meus pensamentos - escuros - se fizessem presentes novamente em minha cabeça.

Três dias após meu fracasso como gente. Meu corpo deitado sobre minha cama, quase não se movimentava, apenas os tormentos da minha mente, cada vez mais, deixavam claros de que eu realmente não servi para trabalhar com qualquer coisa que envolvesse a polícia. Como som ambiente, tocava Ellise em mais uma de suas músicas que pareciam ter sido feitas para mim. Peguei meu celular apenas para ver as horas, mas acabei me deparando com dezoito ligações de Jeonghan e cinco de Seungkwan. Não dei a mínima para nenhum dos dois, eu apenas precisava de meu próprio tempo para pensar e repensar em tudo que vivi durante as últimas semanas.

Cheguei na conclusão que eu agi como um ator revolucionário e desobediente que queria fugir dos roteiros e seguir sua própria trama sozinho. Cometi a burrice de fazer isso e, desculpem o palavriado, mas tomei no cu.

Pela tela escura do meu celular, eu conseguia ver o reflexo de um homem que não era eu. As olheiras aparentes, cabelo bagunçado, rosto inchado de tanto chorar e lábios ressecados. Aquele não era eu, não era Hong Jisoo e nem o tal do "Joshua", era apenas o resto da minha alma machucada cujo nome era desconhecido até mesmo pelo próprio dono. A única coisa que me restava era Seungcheol entrar pela porta e acabar me levando pra cadeia por ser cúmplice de um estelionatário, e quando eu já estivesse na cela pensando sobre o que aconteceu, veria que nada valeu a pena, nem mesmo minha prisão. E, respondendo às minhas perguntas anteriores sobre valer a pena meu relacionamento com Jeonghan, não, não valeu a pena.

O plano era eu esperar o momento certo para o entregar e poder vê-lo na prisão, e eu devia ter feito isso. Não o fiz porque meu coração não bateu de acordo com meus pensamentos, e o desfecho disso foi uma paixão unilateral. Me levantei rapidamente da cama quando ouvi três batidas duras e apressadas em minha porta. Eu deveria atender? Fingir que morri? Fugir pela janela?

Escolhi a primeira opção e joguei tudo pra cima do destino. Passei as mãos pelos meus cabelos e depois pelo meu rosto, na tentativa de tentar parecer menos acabado diante da pessoa que chegou para me importunar naquela noite. Destranquei a fechadura e abri a porta com rapidez, recebendo a imagem preocupada de Seungkwan e um abraço apertado que, com certeza, foi retribuído com mais força ainda. Eu precisava daquilo e nem sabia.

- Eu estava preocupado com você. - Boo pronunciou logo quando se soltou do abraço. - Uau, você está péssimo, Hong Jisoo.

Sorri da forma mais sincera possível e abri espaço para o menor entrar. Ele se sentou em uma das poltronas e respirou fundo. Parecia mais preocupado comigo, do que eu mesmo.

- Aconteceu algo muito ruim. - O fitei, comprimindo os lábios. - Eu nem sei por onde começar. - Ri soprado, encarando meus pés descalços sobre o assoalho gelado.

- Então fale. O que aconteceu de tão ruim assim, além de sua paixão pelo Jeonghan? - Arqueou as sobrancelhas, com seu olhar confiante de que sabia de tudo - ou quase tudo.

- Como sabe disso? O Seungcheol te contou? - Indaguei com o receio de sua resposta.

- Eu criei teorias. Você desmaiou quando se deparou com ele pela primeira vez, depois Jihoon me contou que você pediu o número dele, e por último, te vi correndo da sala do chefe depois que Seokmin hyung chegou todo feliz dizendo que conquistou o Jeonghan. Tem que ser muito burro pra não perceber aquilo tudo. - Deu de ombros. Olhou ao seu redor, fazendo uma expressão de nojo que se misturava com tristeza. - Ah, e isso está um chiqueiro.

- Obrigado por me incentivar, amigo. - Ironizei. - Mas, mudando de assunto, eu preciso de um jeito pra acabar com essa droga desse sentimento pelo Jeonghan, sabe? Não é certo eu ser um policial e estar apaixonado por um ladrão. Seungkwan, minha vida não é um filme de comédia romântica.

- Mas ninguém manda no coração, seu bocó. A culpa não é sua, e se quiser se esquecer do Jeonghan, sugiro que comece a entrar agora em uma fila de espera para transplantes de coração. E pense pelo lado positivo: pelo menos ele é viadinho que nem você.

Rimos juntos. A doideira de Boo Seungkwan sempre foi minha dose de serotonina diária. Eu poderia ser o homem mais infeliz do mundo, mas se ele abrisse um sorriso apenas, tudo ao meu redor se iluminava. Era um poder que ele tinha, ou melhor, um dom.

- O que você acha que eu deveria fazer? Eu o amo.

Seungkwan se levantou da poltrona, chegando para perto de mim. Apoiou sua destra no lado esquerdo do meu peito e fitou meus olhos da forma mais verdadeira que eu já pude testemunhar.

- Lute por ele. Mesmo que você se machuque no final, ou dê tudo certo e vocês se casem, mas não dê o braço a torcer agora. Você é o cara mais guerreiro que eu conheço, não falo isso porque sou seu amigo, falo porque é a mais pura verdade. Não desista agora, atenda as ligações dele, marque um encontro e conte tudo o que aconteceu. - Sorriu assim que minha expressão se tornou mais calma. - Se ele não entender e quiser terminar tudo de uma vez, pelo menos você tentou. - Deu de ombros. - Ah, e um segredo: o Seungcheol ainda não o capturou, acho melhor você correr. - Sussurrou, soltando uma piscadela logo depois.

E eu respirei fundo, fechando meus olhos. Ponderei aquela ideia e cada palavra de Boo. Não me parecia valer a pena lutar por alguém com a índole de Yoon Jeonghan, mas também não parecia certo jogar tudo pros ares e desistir do amor verdadeiro que eu estava sentindo por ele.

Decidi, então, que o mais certo era lutar por ele. Lutar por meu tudo e meu nada, pela minha tempestade e minha calmaria, meu sim e meu não. Meu talvez.

Meu Jeonghan.

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