Prólogo

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Por que ela tinha tomado essa decisão? Ah, sim, era uma mistura do tédio com o fato de não aguentar mais trabalhar naquela lanchonete suja com homens cobiçando seus seios na cara dura. Inferno, o que uma mulher tinha que fazer para poder concluir seu curso de dança em paz? Era o último ano, mais alguns meses e teria o diploma, mas, na mesma medida em que tudo ficava mais caro, seu emprego também se tornava mais insuportável.

"Você gosta de sexo e será só um homem pelo menos", Emerie disse quando Nestha colocou na mesa sua recente ideia: tornar-se sugar baby. A mulher esperava olhares estranhos e frases clichês, mas no fundo sabia como suas amigas eram diferentes. Elas a apoiariam em qualquer decisão. Até mesmo Gwyn, mais fechada para esses assuntos, simplesmente disse que a amiga deveria fazer somente o que a deixasse confortável.

Transar com um velho rico a deixaria confortável? Bem, a parte do dinheiro sim, mas a questão sobre a idade parecia um tanto mais complicada. Porém, Emerie novamente entrou em sua cabeça, com aquela voz cintilante "Não são só velhos procurando isso, você sabe, né". Era verdade, ela só deveria saber escolher. Todos os seus passos se concentrariam em entrar no site achado por Gwyn e então ver o cardápio. Não era obrigada a ir além caso não quisesse.

Foi esse pensamento que a levou até o atual ponto, sentada na frente do computador com uma taça de vinho na mão. Ela usava somente uma camisola negra, já que preto sempre havia sido sua cor, e os cabelos caíam por suas costas. Os olhos cinzas estavam fixos na tela esbranquiçada, vendo suas opções. Há um mês tinha entrado no site, em duas semanas o cadastro foi aprovado e agora passava as horas vagas observando os "pretendentes".

Velho demais.

Feio demais.

Careca demais.

E esse aqui... oh, pobre demais.

Rolando a página ela se perguntava se era uma boa ideia, pensava em como sua mãe a encararia com olhos gelados e de desdém e a chamaria de prostituta barata. Mas, na verdade, essa era a graça da coisa. Nestha queria ser subversiva, sair de vez daquele papel na qual fora colocada, a de filha perfeita e modelo. Queria transar com quem quisesse, ganhar seu dinheiro da forma que quisesse. Seu corpo era exatamente isso, seu. Usaria da forma que mais lhe desse prazer e, se pudesse, vantagens.

Um barulhinho foi escutado, o que a fez levantar a cabeça de seu próprio vinho e arrumar a armação de seu óculos. O som era algo bastante familiar para Nestha, o toquezinho suave de uma nova solicitação de mensagem. Ela segurou o mouse do computador e resolveu abrir a aba que piscava em azul. Antes de mais nada, iria vasculhar todo o perfil do homem.

Ele parecia bonito, de forma grosseira e meio bruta, totalmente fora do clássico, mas mesmo assim bonito. Em realidade, aquela aparência a fazia sentir certos interesses, um ponto positivo para ele. A foto não o mostrava ao todo, era impossível identificar a pessoa direito, somente alguns contornos específicos. Provavelmente era uma questão de privacidade, mesmo que ele só fosse visto pelas pessoas para quem mandava as mensagens.

Mas era possível ver o cabelo extremamente escuros amarrados, os fios caindo pelo rosto que estava de lado. A pele marrom parecia reluzir enquanto as mãos dele estavam juntas e apoiadas na mesa em que o homem se encontrava. Os braços eram musculosos, isso com certeza poderia ser dito sobre o estranho.

Entretanto, foi o lugar, um espaço amplo e aberto, com a luz do sol aparecendo por trás, que chamou a atenção de Nestha. Ela não era boba, tinha um olho clínico para coisas boas e aquele canto inspirava riqueza. Em qual das praias paradisíacas do mundo ele se encontrava? Nestha não poderia dizer o certo, mas ela sabe que isso deveria ter sido caro.

As únicas informações presentes ali eram o nome do homem, Cass, e sua renda mensal. Gorda era o termo para se usar em relação aquilo. A conta bancária do tal Cass deveria ser realmente algo belo de se ver, tanto quando a praia exposta ao seu entorno. Os olhos de Nestha brilharam enquanto ela dava um grande gole em seu vinho. Finalmente algo, alguém, a interessou minimamente.

A conversa que se seguiu foi interessante. Ele não foi direto ao assunto, como os outros milhares de homens que a abordaram, dando a entender que aquela cabeça masculina era ao menos funcional. Ele perguntou algumas coisas simples sobre ela, como o nome, ao qual ela respondeu "Agnes, mas me chame de Nes" e sua idade, a qual ela não mentiu quando disse vinte e três anos. Sabia que estava muito velha para o gosto de alguns desses homens, mas este não pareceu se importar quando disse que ela ainda era bem jovem comparado aos trinte e nove dele.

Além disso, ele quis saber alguns dos gostos dela e, depois de algumas conversas, o que ela realmente queria. O homem parecia ser agradável, de conversa e aos olhos, assim como carregava uma conta grande, caso fosse verdade. Nesse momento, Nestha percebeu que poderia simplesmente voltar atrás, fechar o notebook e nunca mais entrar no site, ou então seguir aquele pequeno desejo incômodo e secreto. Ela escolheu o segundo e respondeu a única coisa que pensou na hora "Foder e ganhar dinheiro", ele mandou uma sequência de risadas, logo depois dizendo o que ela realmente queria ler, "estou aqui para isso, querida".

Mais alguns dias de conversa e só então ele perguntou como a jovem era, embora suas fotos, que não mostravam exatamente o rosto, fossem bem autoexplicativas. Nestha não se sentiu rogada para falar de suas qualidades, o que ele pareceu saborear bem. Ela também não sentiu vergonha ao falar para Gwyn e Emerie que sim, havia mandado algumas fotos para ele. A ideia de um estranho a vendo dessa forma, tendo tamanho domínio sobre sua figura, realmente a excitava. Se era para entrar nesse barco que fosse em grande estilo.

E quando os dois descobriram que residiam na mesma cidade, Cass finalmente deu a cartada final. Um encontro, em um restaurante extremamente caro da cidade, que obviamente seria bancado por ele. Um encontro para que conversassem e se conhecessem realmente e, se tudo ocorresse bem a ambas as partes, para que acertassem os termos daquela relação.

Relação, a palavra rolou pela língua de Nestha, era um termo engraçadinho para o ato de ser bancada por um homem rico que a foderia em vários lugares de sua casa. Mas ela percebeu que ele queria ser polido, não a assustar muito, e achou o ato adorável da parte dele, quase como se fosse ela quem mandava nos termos de tudo. Talvez tenha sido isso, embora Nestha possa dizer com certeza, o motivo que a fez aceitar aquele encontro.

Na verdade, provavelmente foi a promessa do jantar caro e saboroso.

Porém, tanto fazia a razão, a única coisa importante foi que uma semana depois do primeiro "olá", Nestha Archeron estava em seu vestido preto que destacava o farto decote, com um batom vermelho delineando seus lábios. Ela conseguiu se vestir de um modo que ficasse exatamente naquele ponto em que se fica provocativa, mas não o suficiente para fazer as madames chatas a olharem de canto.

Seus dedos prenderam os cabelos em uma trança e um delineado foi passado nas pálpebras. Quando pingou algumas gotas de perfume ela sabia que era um caminho sem volta, mas, ao mínimo, comeria bem aquela noite. E, pelo que havia visto do homem, se acabasse sendo a sobremesa não seria de todo mal.

👠

Quero a Liv e Laís comentando em todos os capítulos disso aqui porque só fiz pela ideia que elas enfiaram na minha cabeça. Provavelmente será uma short-fic e espero que seja lá quem tenha lido, tenha gostado também!

Bem, como eu sempre falo: comente, deixe seu votinho e compartilhe.

Eu estou levando isso tão a sério que coloquei "mamacita" na capa, só pra vocês terem uma ideia.

Call me by NesOnde histórias criam vida. Descubra agora