Call me by Nes

4.

Aviso: Por favor, leiam as notas finais :)

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O som enchia os ouvidos de Nestha, e os olhos cinzas observavam as luzes vermelhas do pub.

 Aquele era um lugar diferente, a jovem até mesmo o classificaria como legal. Havia o extenso balcão de pedra em que ela estava com os cotovelos posicionados, e as bebidas preenchendo sua visão da frente. As milhares de garrafas estavam separadas das pessoas por um vidro que parecia fino demais, ficando atrás dos bartenders apressados. "Quanto tempo para aquilo explodir?" Nestha perguntou para um dos funcionários.

As bancadas tinham um estofado vermelho sangue que combinavam com os lábios pintados da Archeron. Na verdade, todo o conjunto de assentos do local detinha essa mesma cor. Nestha se concentrava em observar a diferença daquele vermelho vivo para o opaco das luzes. Ela também quase ria ao pensar na ironia de estar na mesma tonalidade do pub.

Afinal, Nestha; que tinha feito um rabo de cavalo, deixando somente alguns fios caírem perto de seus olhos, ostentava um prendedor da mesma cor vermelha que seus olhos agora analisavam. O objeto pertencia a Cassian e era com ele que o homem, por vezes, amarrava os fios negros. Ele amava aquela cor, havia dito uma vez. E Nestha resolveu fazer um conjunto em sua homenagem.

O cabelo dourado amarrado com o prendedor vermelho, os lábios escurecidos pelo tom, um delineado de gatinho também nessa tonalidade. Tirando esse conjunto, Nestha usava uma saia negra plissada junto a um sapato Oxford tratorado, também preto. A parte de cima era composta por uma blusinha branca de alcinha, o decote em "V", que ela tanto gostava, presente ali também. De todo modo, o vermelho se sobressaía. 

Era uma noite de sexta e fazia um mês desde a primeira vez que Nestha havia feito a loucura de se encontrar com um estranho da internet. Um mês que aquilo, estranhamente, vinha dando certo. Um mês em que ela finalmente podia se dedicar ao seu afã de dançar. Seu aluguel, seu curso, até mesmo suas visitas ao ginecologista, tudo isso era pago por Cassian.

Além disso, haviam os presentes. Ele sempre tinha um presenta para Nestha. Um vestido, ou então um colar caro, e muitas vezes livros em edições de colecionador e objetos que Nestha poderia gosta. Ela amava cinema, então ele deu uma coleção de livros e filmes da última vez em que se viram. Ela amava muitos personagens de séries, filmes e livros, por isso Cassian começou a comprar alguns funkos almejados por Nestha. 

Ainda havia, também, o tocador de disco, não podemos esquecer. Não somente o tocador, mas os milhares de discos clássicos que ele conseguia sabe se lá de onde. 

E Nestha amava as roupas e perfumes e joias, mas eram essas outras coisas que enchiam seu coração. Era a possibilidade, agora que não precisava trabalhar, de viver em museus, de absorver a arte. Era a chance de poder estar em lugares incríveis, vendo peças de teatro, ouvindo ópera.

Quando Nestha se culpava, sentindo-se mal por estar sendo bancada, ela se lembrava de que seu sonho sempre fora caro. Se lembrava de que não era culpa sua ter feito parte de uma família que perdeu tudo. Principalmente, Nestha se lembrou de quando achou que o trabalho resolveria todas as coisas e seria o suficiente para pagar o curso e ter uma vida digna, uma vida que tivesse pelo menos arte. No final, a jovem descobriu que não tinha como ter essa vida digna e, pior ainda, corria o risco de não ter nem mesmo o básico. 

Nestha também se recordou das incontáveis vezes que teve que ir até o antigo armário de Feyre, na casa de Elain, pegar alguma roupa, porque era necessário estar sempre bem vestida, mostrando aquilo que não tinha de verdade, nos círculos do ballet. Para ser vista, ela sabia que precisava de dinheiro, infelizmente não podia contar com isso.