9.

1.1K 159 279
                                    

A menta vazia é, realmente, oficina de muitas coisas. Mas uma mente vazia um tanto descontrolada... ah, essa propícia péssimas escolhas.

Não deu dois dias do fatídico jantar, e Nestha já estava surtando. Seu trabalho começaria logo, e o que antes era felicidade e expectativa, tornou-se preocupação. Ela realmente acreditava em Cassian, na sinceridade de suas palavras, no fato de que este não contaria nada. Mas o problema era muito maior que isso.

Levar uma relação com ele e trabalhar com sua família, tudo isso ao mesmo tempo, só faria com que ficasse mais fácil de descobrir certas coisas. Se isso já não fosse o bastante, não era só a família de Cassian a preocupação, mas também a sua própria. Feyre, com quem vinha tentando manter uma boa relação. Feyre, a quem queria mostrar que era um exemplo.

Se ela descobrisse a natureza daquele relacionamento, o que diria? Nestha nunca fora de se preocupar com as opiniões dos outros, mas um tipo estranho de sentimento se abateu sobre ela. Um parecido com vergonha, algo que ainda não tinha sentido sobre seus encontros com Cassian.

Por isso, assim que bateu na porta dele, qualquer dúvida sobre as coisas que precisava falar foi sanada. Por mais que ele mexesse com seus sentimentos de uma forma diferente, era preciso ser a Nestha de sempre e fazer o de sempre: afastar o problema, a complicação.

Na verdade, o fato de estar sentindo coisas inesperadas só significava que era hora de tomar alguma atitude.

— Nestha. — A voz a acordou, retirando-a de seus pensamentos sombrios.

Passando as mãos pelos cabelos soltos e ajeitando o casaco marrom, Nestha observou um Cassian atordoado. Ele só vestia um short preto, deixando amostra as milhares de tatuagens que dançavam em seu peito e braços. Alguns fios de cabelo escuram caíam do coque despojado dele. Os olhos escuros, cheios de brilho, tinham uma luz confusa.

Ele nunca estivera tão vulnerável e cru. Seu semblante era quase jovial, tamanho o ar despreocupado. Vê-lo assim fez Nestha gaguejar. Felizmente, seu interior forjado a aço sempre a fazia dar os passos mais difíceis.

— Oi, eu sei que não é o nosso dia programado e que não avisei sobre aparecer aqui. — Começou, suas mãos esfregando uma na outra.

Cassian não a deixou continuar, ele somente balançou a cabeça e sorriu, o sorriso largo e preferido dela.

— Ora, Nestha, saudades é um sentimento natural, sabia? — O sorriso diminuiu um pouco, mas ainda repuxava os cantos dos lábios dele.

Mordendo os lábios, ela suspirou fundo. Aparentemente, seria mais difícil do que o planejado falar tudo.

— É sério, Cassian. — Sua fala saiu quase um resmungo, mas ele ainda não parecia abalado.

— Apesar da senhorita não ter marcado hora, pode entrar. — Ele ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços no peito, como se estivesse fazendo uma pose. — É contra as regras aceitar alguém sem horário programado, claro, mas abrirei uma exceção porque sou um cavalheiro. — Cassian soltou uma risada ao final da encenação.

Era quase possível ouvir uma das paredes de Nestha se afrouxando, e a resolução com que chegou ali começou a esmorecer rapidamente. Ela tentou se agarrar a alguma coisa, alguns daqueles aços e ferros que estavam incrustrados em sua mente, para que voltasse a manter o mesmo porte de rainha do gelo. Mas a risada dele sempre a amolecia.

Cassian cerrou os olhos, ainda rindo, mas agora pelo modo como Nestha ficou prostrada em sua porta. Ele estendeu os dedos, que agarraram o pulso dela, a puxando para mais perto. Com sua mão livre, tocou nos cabelos da mulher. Era raro quando estavam soltos e, portanto, uma ocasião a ser aproveitada.

Call me by NesOnde histórias criam vida. Descubra agora