Capítulo 5 - Talvez eles sejam como nós.

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MAX

A escola não é tão perto de casa assim, mas de qualquer maneira eu não tenho muita opção e qualquer tempo extra pra poder ouvir música é bem-vindo.

Várias criaturas pelo caminho, algumas totalmente na luz me encarando, outras se escondendo e olhando como se eu fosse radioativo. Eles são estranhamente fascinantes, tão coloridos quanto deve ser possível, ou totalmente monocromáticos.

Não existe nada que diz que eles são a mesma coisa, mas os olhos deles os entregam, parece que falam comigo e estão impacientes, entediados, desesperados, não existe consenso algum entre eles.

Chego em casa, sozinho como era de se esperar, exceto pelo gato já se enrolando em minhas pernas. Ele foi minha primeira e única companhia por algum tempo depois de tudo, quer dizer, normalmente se espera que depois de morrer e voltar, você passe tempo com as pessoas que você ama, mas quem eu tenho? Logo, adotar um gato me pareceu a opção mais lógica. Ele também pode vê-los e isso me conforta em saber que eu não estou louco.

Minha tia ainda viajando, acho que é meio que o dever de uma comissária de bordo, mas sinto falta dela. Ela é provavelmente a pessoa que mais me entende da família, no caso ela e eu somos os únicos que sobraram dela então precisamos nos apoiar.

Meu pai tentou me afastar tanto dela, e no fim aqui estou eu vivendo debaixo do mesmo teto que ela. Ele sabia que ela seria contra tudo que ele fez, e me irrita saber que a única pessoa que podia me ajudar foi obrigada a se afastar.


Estou jogado no sofá mexendo no celular quando escuto um barulho na cozinha, o gato já está deitado no sofá ao meu lado e todas as janelas estão fechadas.

Pego a faca escondida debaixo do sofá, não me orgulho disso, mas depois de tudo que ele fez, fica difícil se sentir seguro, mesmo ele estando morto.

Vou até a cozinha evitando fazer barulho, e nisso sou relativamente bom, nunca tive muita opção se quisesse manter todos os ossos intactos.

E lá está ele, outra criatura, um lince talvez, chifres espiralados apontando para cima, quase não cabe na cozinha, pelagem alternando entre tons de roxo e azul escuros.

Os mesmos olhos.

Não, não são os mesmos, ele está com uma curiosidade no olhar, como se fosse uma criança indo ao zoológico.

Eles não me assustam, embora eu talvez devesse ter medo, mas passei boa parte da vida esperando por algo fantástico. Agora o fantástico está na minha frente, e me irrita.

Quando eu finalmente posso tomar um rumo normal com a minha vida, eu morro, então acordo vendo quimeras bizarras de olhos vazios.

Suspiro, me acalmo e volto pra sala, tenho trabalho daqui a meia hora e não vou me estressar com isso. Pego meu caderno de desenhos, já ficando cheio, principalmente de criaturas que vi nos últimos meses, e me coloco a desenhar o lince na minha cozinha. Não sei por que eu faço isso, talvez me ajude a compreender, mas tenho que admitir que eles dão desenhos interessantes, essas criaturas são interessantes.

 Não sei por que eu faço isso, talvez me ajude a compreender, mas tenho que admitir que eles dão desenhos interessantes, essas criaturas são interessantes

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