Obsidia

1. A verdade dói

Alexa Trovasky
Rancho Fundo, Goiânia
31 de dezembro de 1993 • 23:57

 O cheiro de terra molhada. O som da água batendo nas pedras sutilmente. O perfume amadeirado e suave de Daniel. Levo minhas mãos até as dele. Com a ponta dos dedos eu acaricio suas mãos que estão me dando arrepios e borboletas no estômago

— Preciso ser honesto com você — ele diz baixinho — Eu e Michael não estamos nos falando mais, bem, eu não estou falando com ele! — ele suspira — Michael como você já sabe, esta tendo um caso com a minha irmã Lisa, eu parei de falar com ambos! Ela sabe bem o que eu penso sobre isso de traição, eu sou, completamente contra. Ela assim como ele, já pediu o divórcio para as pessoas que os prendiam e talvez, os divórcios de vocês vai sair em maio do ano que vem! — uau, então o infeliz estava me traindo esse tempo todo

— Foi só um ano Daniel, só me desliguei dele e me dediquei ao meu trabalho, por um ano Dan, ele está em turnê. Eu pensei que não teria problema. O que ele queria que eu fizesse? Que largasse tudo e fosse viajar com ele? O que ele tem na cabeça? Como alguém que ajuda tantas pessoas e canta para salvarem o mundo e as crianças pode ser tão egoísta quando se trata de relacionamento! — fecho meus olhos e tento me acalmar

— Isso, se acalma porque não vale sua paz, não mais! — ele leva as mãos até meus ombros e faz uma massagem suave e bem relaxante

— Ele não me disse nada, a Marjorie deve ter te contado o que eu disse pra ela, não é? Foi, seco e letal como um tiro. Quando cheguei ele já estava com os papéis do divórcio em mãos! Ele me disse ter alguém e que esse alguém era apaixonada por ele, eu não pensei duas vezes. Peguei os papeis e assinei tudo! Eu não iria me humilhar, não mesmo — abro meus olhos e encaro a água cristalina que esta refletindo a lua graças as pedras escuras no fundo

— Sinto muito por isso, se eu soubesse que ele não iria te contar claramente, eu teria te contado tudo. Você não merecia passar por isso — ele se afasta devagar — Você merece bem mais, e sabe quem pode te dar isso? — ele diz enquanto entra na água e estende às duas mãos para mim, pego e ele me puxa sutilmente para dentro d'água — DEUS! SÓ DEUS PODE TE DAR ISSO IMUNDA VAI ORAR — ele diz exageradamente com uma voz engraçada e me puxa para o fundo, me afunda na água e em seguida me puxa para ele

 Começo a ter uma crise de risos. O abraço e ainda rindo coloco meu rosto bem coladinho ao seu peitoral. A risada dele é encorpada e um pouco rouca como a voz dele, como não se encantar por alguém como ele?

— Você não existe sabia? — digo entre risos para ele que me aperta mais contra seu corpo — É tão acolhedor, você é tudo que alguém precisa, todo mundo devia ter um Daniel — o abraço, fecho os olhos e escuto atentamente seus batimentos

 Um barulho alto me faz abrir os olhos de uma vez. Uma chuva de cores nos banha. São os fogos de artifício, já é meia-noite, estamos em 1994. Daniel nos leva para um lado mais raso onde posso ficar de pé, ele se senta em uma pedra e fica do meu tamanho

— Dizem que beijar alguém na boca, após a virada, garante muito amor no ano que se inicia — Daniel diz enquanto encara o céu encantado pelas diversas cores. O colorido explosivo do céu reflete em seus olhos azuis. Levo minhas duas mãos até seu rosto e o puxo delicadamente para que ele olhe para mim

— Então, vamos garantir o nosso amor em abundância — aproximo meu rosto do dele. Ele umedece seus lábios ansiando pelos meus. Seus olhos não se desvia dos meus, nem por um segundo. Nossos lábios se tocam. Sinto uma corrente elétrica por todo o meu corpo. Sem dúvida é pelo frio, a água gelada e meu corpo que esta parcialmente nu que esta encostando nele, nesse momento. Quando sua língua toca a minha, nossa, fogos de artifícios explodem dentro do meu corpo. Quero que esse misto de sensações dure para sempre.