Adeus fria Rússia

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Lina não participou das orações na capela do orfanato naquela manhã, estava se preparando para tomar o avião, que finalmente a levaria para longe da triste realidade que encarou por longos anos, dentro dos corredores gélidos do convento.

Apesar de odiar aquele lugar e adorar o fato de finalmente poder abraçar a liberdade, que estava a poucas horas de distância, gostava das amizades que havia feito por lá.

A garota facilmente reconhecida por seus cabelos vermelhos, agora se encarava no espelho e respirava fundo. Ajeitou o casaco de cor marrom e o laço preto no pescoço, a única roupa diferente que possuía além  do uniforme convencional.

Se encarou mais uma vez antes de pegar a mala e descer as escadas, estava nervosa, com um milhão de borboletas em seu estômago e um turbilhão de coisas passando em sua mente.

Desceu os degraus de madeira provocando o som que lhe era muito familiar e rotineiro. Aos pés da escada olhou para os dois lados do corredor, antes de finalmente pisar no mesmo.

O sino da capela tocou e várias garotas de diversas idades saíram do local, enchendo o corredor que estava vazio até agora pouco.

- Lina, Lina! Você tá tão linda! - uma garotinha de cabelos castanhos abraçou as pernas da ruiva.

- Muito obrigada Anya! Vou sentir muito sua falta! - Lina abaixou na altura da menina e retribui o abraço com gentileza, logo se levantando.

- Olha só quem vai sair desse buraco finalmente! - uma garota alta de cabelos curtos e pretos se escorou na parede ao seu lado. - Vou sentir sua falta... Quem vai me impedir de arranjar encrenca agora? - puxou a ruiva para um abraço.

- Aaa Yelena... Eu também vou sentir sua falta. Toma juízo hein! - Disse na curvatura do pescoço da morena. - Um dia vai chegar sua vez! - Lina se afastou e sorriu para a melhor amiga, que lhe fez companhia desde sempre, nos bons e maus momentos.

A diretora do orfanato veio pelo corredor em passos rápidos.

- Iii cuidado que a Senhora Mandona tá vindo aí! Circulando garotas!  - Yelena brincou, tirando um sorriso de todas as garotas que estavam a sua volta.

- Veio se despedir também, senhora Anastasia? - A ruiva sorriu de forma gentil para a diretora do orfanato.

- Faça boa viagem, e ligue quando chegar. AA meu deus... Me lembro quando você chegou... Tão pequena.. agora já é uma mulher... Enfim! Vá logo, o carro está esperando! - A senhora que sempre havia sido rígida, mostrou seu lado vulnerável, deixando algumas lágrimas escaparem, mas retomando a postura rapidamente enquanto alisava a roupa de Lina.

- Quem diria que você conseguiria tirar algumas lágrimas da carrancuda! - Yelena provocou Anastasia que lhe deu um tapa no braço.

- Tá bem! Eu tenho que ir meninas, tchau! Vou sentir muita saudade! - Lina arrastou a mala até fora do convento.

- Adeus Lina! Boa viagem! - o zelador do orfanato disse, se apoiando na pá que usava para cavar o jardim.

- Adeus senhor Ives! Se cuida! - entrou no carro e acenou todas as garotas que rodeavam o mesmo. O veículo se distanciou e algumas delas correram atrás.

Ao passar os grandes portões de ferro torcido do orfanato, pôde se sentir finalmente livre. Lina sorriu encarando o passaporte e a passagem que carregava consigo.

Desbloqueou o celular e abriu a caixa de mensagens.

"Estou deixando a Rússia, não me procure mais."

Bloqueou e excluiu o número do aparelho e começou a observar a paisagem pela janela do carro.

Lina teve de viajar de trem até Moscou, para tomar o avião. Foi uma viagem cansativa, mas quando se deu conta, já estava na fila para o vôo.

- Última chamada para o vôo 37540. Destino Tokyo, Japão.

Se arrepiou ao ouvir o anúncio de seu vôo. Parou na entrada da passarela, sentindo novamente as borboletas no estômago, completamente incrédula de que estava mesmo acontecendo.

Um homem passou esbarrando em seu braço, fazendo a garota voltar ao mundo real e seguir seu caminho.

- Desculpa. - disse sem jeito, tratando de sair do meio do caminho e entrar logo.

Sentou-se na poltrona e olhou para fora, finalmente sairia daquela vida e iria estudar na tão famosa escola de Jujutsu em Tokyo, que tanto sonhou.

O avião começou a tomar velocidade na pista de decolagem, Lina respirou fundo, fechou os olhos e comprimiu os lábios. Podia ouvir os batimentos de seu coração acelerado, que quase pulava para fora do peito.

Quando o avião saiu do chão, a ruiva puxou o ar novamente para seus pulmões. Uma mulher ao lado a olhou com certa estranheza, mas Lina não deu a mínima, apenas voltou a olhar Moscou se distanciar conforme o avião tomava altitude, e sorrir, sorrir muito.

Apesar de saber o básico do japonês, não estava se importando muito, pois daria um jeito, alguém na escola deveria saber falar inglês.

Após longas horas de viagem, finalmente o avião estava prestes a pousar, causando um frio na barriga da ruiva.

- Até que enfim cheguei. - observou ansiosa pela pequena janela do boing.

Continua...

𝕆𝕝𝕕𝕖𝕣 𝕥𝕙𝕒𝕟 𝕞𝕖 - 𝕋𝕠𝕛𝕚 𝔽𝕦𝕤𝕙𝕚𝕘𝕦𝕣𝕠Onde histórias criam vida. Descubra agora