Capítulo 9

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Pov's Mirella

Não acredito que fugi de casa. Não fazia a menor ideia para onde ir, sendo sincera. Eu não tinha para onde ir. Não conhecia ninguém. E tenho certeza, que assim que a minha mãe adotiva souber, ela vai me desmembrar em pedaços, como se fosse uma boneca de plástico.

Fugi pela janela. Aprendi nos filmes como fugir pela janela. Quase quebrei minhas pernas, minha costela, minha cara, mas passo bem. — por enquanto, né... não faço a mínima o que vai acontecer comigo.

Com uma mochila vermelha, surrada, com uma alça rasgada, nas costas; tenho: algumas roupas, objetos de higiene pessoal, um carregador, meu celular e comida. Fiz tudo isso em minutos. Sei que em dias, tudo isso irá acabar e precisarei repor.

Vagando pelas ruas do Rio De Janeiro, sem rumo, encontro uma praça fechada. Sempre me falaram que é perigoso dormir nesses lugares, contudo não tenho como escolher muito.

Olho pro céu e vejo que vai chover a qualquer momento. Culpo a mim mesma por não ter trago um cobertor. Se arrependimento matasse, estaria me jogando na frente dos carros agora.

Sento no banco de madeira da praça, pego um livro chato que peguei no porão e começo a ler. O livro está mofado, logo, comecei a espirrar, e colocando-o, novamente, na mochila para que não acontecesse nada com a minha saúde. Tenho que evitar o máximo coisas que poderão me deixar doente. Se eu aparecer em um hospital, irão me descobrir na mesma hora.

As pequenas gotículas grossas de água começam a cair, fazendo barulho no teto revestido em volta ao meu banco. Vejo pessoas correndo na rua sem um guarda-chuva; vejo pessoas se abrigando em lojas; vejo o mundo desabar em minha frente. Sinto o cheiro da chuva; sinto o cheiro da grama; sinto o cheiro da dama da noite que começava a se revelar em um final de tarde.

De repente, vejo uma moça em um guarda-chuva preto, com botas, o cabelo preso em um coque desengonçado, com um agasalho, vindo em minha direção. O contato físico demorou 20 segundos a ser feito. Eu estava receosa, pois parecia que conhecia aquela mulher de algum lugar.

— O que faz uma linda moça sozinha aqui? — perguntou ela, me olhando com seus grandes olhos verdes, curisosos.

— Eu te conheço? — respondi rispidamente.

— Não. — desanimou. — Eu me chamo Delfina, e você? — abriu um sorriso tímido.

Analisei bem ela. De fato, não parecia ser uma ameaça, entretanto ainda não me convencia ser totalmente confiável.

— Mirella. — venci o orgulho e cumprimentei com educação, estendendo a minha mão em resposta.

— Bom, Mirella, o que faz sozinha aqui? — lançou o olhar para a minha mochila.

— Desculpa, mas isso te interessa?

— Definitivamente? Não. Só queria saber, porque você parece estar sozinha aqui. — contornou o assunto.

— Se estou ou não estou, isso não te interessa.

Peguei minha mochila para sair dali, no entanto não deu muito sucesso. Assim que tentei sair da proteção, deixando a moça misteriosa para trás, um trovão invadiu aquele final de tarde fria. Com isso, deu um passo para trás e resolvi dar uma chance para ela. Não tinha nada a perder.

— Acho que você não está com muitas opções. — declarou.

— E como você sabe que não tenho? Você me conhece? Sabe de onde sou? Não! Não sabe. — cuspi as palavras. — Fala logo o que você quer... — virei os olhos.

— Quero te ajudar. — levantou me olhando atentamente. — Te analisei atrás do muro, vi que estava sozinha aqui e imaginei que estivesse perdida.

Floribella | 3° Temporada Onde histórias criam vida. Descubra agora