Capítulo 10

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Pov's Delfina Bittencourt

Eu não dormi hoje, pois estava pensando o quão estranho estava sendo manter minha filha escondida em minha casa. Normalmente, as mães nunca precisam esconder seus filhos, por serem delas. Porém, comigo não funciona assim. Eu sou uma completa estranha para a Mirella. Ela sequer me conhece. Eu sequer a conheço.

Achei estranho ela aceitar ajuda, não faço a menor ideia do que aconteceu. Pelo visto foi grave, ela não arriscaria sua vida boa para ir para a rua.

Ela é uma menina muito geniosa, já deu para perceber. O sangue não nega. Minha personalidade é forte, reconheço; não tinha como ser diferente. Ainda bem que ela puxou poucos traços meus, porque se fôssemos parecidas, a merda estaria feita. Olhando bem ontem, ela parece muito com a minha mãe e com a Flor. Nada parecida comigo, além dos olhos verdes enormes.

Primeira vez na minha vida, na história, que me importo com alguém. Estou fazendo um café da manhã especial para levar na cama dela, e por incrível que pareça é verdade. Me importo com alguém nessa vida. Se o Lulily descobre isso irá debochar da minha cara.

Quando termino e vou em direção ao quarto em que Mirella está, vejo a fresta da porta um pouco aberta. Na cama está um álbum de fotos, na qual ela está olhando. Seus olhos estão bem atentos, fixos na passagem das páginas. Pressumo que seja as fotos da sua infância, e isso me tira a curiosidade.

Para minha presença não torna-se um estorvo, bato na porta, anunciando a minha chegada. Os seus olhos esverdeados direcionam à porta, onde estou. Ela confirma com um aceno na cabeça, que eu posso entrar.

Os seus olhos descem para olhar o café da manhã que trouxe em minhas mãos. Ela dá um sorrisinho, e isso aquece meu coração. Meu Deus, não era para eu estar sentindo isso.

— Trouxe pra você, Mi! — dou um sorriso. — Você gosta de bolo de chocolate, né? — pergunto.

— Gosto, sim! E antes que você me pergunte, pode me chamar de Mi. — ela abre um sorriso suave.

— Fico feliz em ouvir isso de você. — abaixo a cabeça por alguns segundos. — E essas fotos? São da sua família? — permito deixar me levar pela curiosidade.

— São, sim! Olha, pode pegar algumas para você ver. — entregou uma foto revelada em minha mão.

Na foto estão Betinho, Joca e Tiririca. A Maria Flor está com a Mirella em colo. Ela estava com uma careta muito fofa. Provavelmente, ela tinha seus 4 anos de idade. Mas uma coisa que me chama atenção, é que a Mirella está agarrada na Maria Flor com um cobertor das Princesas, que está preso em sua chupeta rosa. Dava pra ver o laço maternal que as duas tinham criado.

— E esses... quem são? — questiono, mesmo sabendo quem são.

— Esses são meu tio Betinho, meu tio Joca e minha mãe Maria Flor. — responde.

Quando ela menciona que Maria Flor é sua mãe, fico meio entristecida. Nunca me senti excluída ou desconsiderada por ninguém; ninguém nesta vida.

— A sua mãe é bem bonita. Ela morreu?

– Não, ela está viva. — senti uma tristeza em seu olhar, quando voltou a falar. — A minha mãe biológica que sim, aliás, que eu acreditava que estava morta.

— Como assim? — arregalo os olhos. Então, ela já sabia a verdade sobre tudo.

— Durante anos, minha família me fez acreditar que a minha genitora estava morta, só que ela não estava. Ela esteve viva esse tempo todo. Minha mãe mesmo, segundo a minha família, quis que falasse que ela estava morta, porque não me queria. Eu ia para a adoção, se não fosse a minha mãe. Eu sei que ela estava ou está presa, não sei mais de nada também; não faço a mínima e nem tenho interesse sobre a vida dessa mulher.— vi seus olhos marejarem. — O que custava me falar a verdade? Por que me enganaram?

Floribella | 3° Temporada Onde histórias criam vida. Descubra agora