Pov's Mirella
Resolvi ssguir os conselhos da Delfina, uma completa estranha, mas uma estranha legal. Confesso que não queria voltar para casa. Eu me senti traída. Como durante todo esse tempo todos sabiam da verdade? E, além disso, fazerem eu criar a imagem de saudade de alguém que não morreu. Na verdade, para essa pessoa eu não existia, apesar de eu achar que ela tinha deixado de existir materialmente.
Nessas horas, minha tia deve estar preocupada do outro lado do mundo, arranjando um jeito de voltar para o Brasil para me procurar. Pelo menos, consegui um minuto de atenção. Bom, é isso que eu esteja imaginando. Imagina eu chegar de volta em casa, e ninguém estiver me esperando? Seria mais uma decepção para a lista.
Eu parei a quatro quarteirões antes de chegar na minha casa, pois poderia dar pistas de quem me deixou; me acolheu. Poderiam achar que fui sequestrada, e que a sequestradora me convenceu de ficar contra a minha família para ficar com ela. Essa família é maluca, não duvido de nada.
Assim que abri a porta principal da sala, que é enorme o suficiente para chamar atenção de qualquer um que abrisse, eu ouvi gritos em minha direção. De repente, todos estavam em cima de mim, observando o meu corpo inteiro para ver se tinha arranhões, machucados ou palidez por ter ficado sem comer. Me olhavam com pena. Me senti, por um minuto, um cachorrinho de rua resgatado.
— Você tá maluca, garota? Quer matar a gente do coração? — Betinho falou em um tom um pouco superior, me abraçando forte quando o restante se afastou. Quase morri sufocada.
— Nós tivemos que ligar pra sua mãe, Mirella! Ela está vindo correndo pro Brasil pra saber sobre você. — a tia Sofia resolveu falar. — E tenho até medo que ela venha com tanta pressa, que até esqueça que o corpo dela ainda tenha vida.
— De que mãe vocês estão falando? — debochei. — Pois, pelo o que eu me lembre, vocês me falaram, ou melhor, eu escutei vocês falando que a minha mãe não me quis. Talvez, caso eu não tivesse escutado, eu jamais saberia o maior segredo da família: a personagem principal não fazia a mínima ideia de onde veio. Na verdade, ela sabia sim, ainda que fosse tudo um mero conto... — olhei bem séria para o rosto de cada um deles, captando um olhar de pena sob a minha imagem. Eu deveria ser vazia o suficiente pra me olharem como se eu fosse uma órfã sem nada na vida.
Subi correndo pelas escadas pelo meu quarto. De fato, eu espero que pelas próximas horas, ninguém venha falar comigo. Ainda preciso refletir sobre a minha vida e em tudo que aconteceu.
*
Pov's Maria Flor
Passei a viagem inteira pensando em mil coisas, sendo todas elas um motivo muito claro: a Mirella. A mágica e o mistério de nutrir amor por alguém que não foi gerado no seu ventre, tampouco ter obrigação de responsabilidade, trazendo para si como o seu filho, é o sentimento mais expansivo do mundo.
Na época em que a Delfina estava na prisão, no dia em que peguei a Mirella pelo colo pela primeira vez, queria deixar esclarecido, logo que ela crescesse e começasse a se desenvolver no mundo, a minha relação com ela de tia e tutora, não como uma mãe. Embora as lembranças da Delfina não fossem muito boas, ainda que ela fosse minha meia-irmã, a Mirella tinha uma mãe e um pai. Não muito bons, mas pais. E eu não queria que ela crescesse com esse remorço. Queria que ela crescesse como uma criança como qualquer outra, com uma família.
Fiz o desembarque de forma atordoada. A Bruna carregou a minha mala, porque eu não tinha condições de assimilar algo, incluindo os sentidos. Eu senti o mundo inteiro na minha cabeça. Aquela postura de super heroína da salvação tinha despencado na minha cabeça. Na realidade, o Universo essas últimas semanas mostrou-se com bastante surpresas, todas fora do meu alcance; de percepção.
Não demorou muito o trajeto do aeroporto para a minha casa. Na hora que o taxi parou na calçada em frente, eu sai voando para dentro, esquecendo até de pagar a minha viagem. Isso deixaria a Bruna resolver.
Adentrei na sala, e todos me olharam com surpresa pelo meu jeito de entrar. Em todos esses anos, jamais me viram tão preocupada com alguma coisa quanto hoje, sem algum drama de novela mexicana.
Respirei ofegante por alguns segundos, olhando para o Betinho e o Joca buscando uma resposta pelo olhar deles, e eles apontaram o dedo para o andar de cima. Sabendo o que eu estava supondo somente com minha expressão corporal, afirmaram que ela estava lá em cima, no quarto dela.
Não fiz muita cerimônia ao bater na porta. Sem nem perceber, faltei arrombar a porta com tanta força que eu batia com as mãos. Eu não batia na porta por raiva, batia por desespero de quase ter perdido ela.
— Eu não vou abrir, Maria Flor! — gritou rispidamente. — Eu quero ficar em paz, bem longe de tudo que tem a ver com você!
— Mirella Miranda Torres Bittencourt, abra essa porta imediatamente! — falei em tom de autoridade, usando minha voz assim pela primeira vez. — Eu só quero esclarecer as coisas. Eu não estou aqui para te esconder mais nada. Irei esclarecer tudo o que você quer saber. - sussurrei a última frase abaixada, encostada na porta, esperando que ela quisesse me escutar.
Foi só eu falar a última frase, para que eu sentisse os passos aproximando-se da porta. Ela pareceu pensar por alguns segundos, bufando atrás da porta, não querendo ser vencida pelo cansaço. Escutei a porta sendo destracada pela chave, todavia, ela não abriu, somente voltou e sentou-se na cama, deixando o barulho dos chinelos soltarem-se ao chão.
— Já que você insiste, abra a porta! — ela falou desdém. — Vamos ver se você tem bons argumentos por ter me ocultado isso durante anos.
Abri a porta correndo para abraçá-la, só que o corpo dela estava duro o suficiente para receber meus braços abertos. Vendo que eu estava prolongando o toque, esquivou-se para o lado, virando o rosto para não olhar nos meus olhos. Ela estava com raiva de mim, com toda a razão estar desse jeito.
— Não sei por onde começar... — me senti perdida ao tentar começar a contar a história desde o início. Gaguejei em tentar formar uma linha de raciocínio dos fatos.
— Então, se você não sabe o que falar, ou não está disposta a falar toda a verdade para mim, eu sugiro que você caminhe até a porta e saía daqui — deu de ombros, como se não fizesse questão de estar respirando o mesmo ar, no mesmo ambiente, que eu.
— Já te contei que sua mãe era uma pessoa ruim? — e, desse jeito, eu comecei a contar.
*
Pov's Bruna
— Calma, galera! Isso não é nem o começo de revelação de mistérios dessa família... — soltei no ar, após tanto silêncio residente na sala com todos sentados no sofá.
— Do que você tá falando, sardenta? — Joca me olhou curioso, reagindo ao que eu falei.
— Em breve, vocês saberão. Mas, por agora, o foco é saber como que tá sendo o papo lá em cima das duas — olhei para cima.
— Sem dúvidas, estão bem. Até agora não ouvi nenhuma gritaria, principalmente da parte da pirralhinha, geniosa que nem a fuça da mãe dela. — Juju disse daquele tom ofensivo que ela sempre falou.
— De qual novidade você está falando? — Sofia olhou para mim, retomando o assunto quando o silêncio ocupou o espaço novamente.
— Uma na qual vão mudar a vida de todos drasticamente... — chamei o olhar de todos para mim.
Ninguém está esperando para o maior desfecho final do filme de terror das nossas vidas. Todos voltarão a acreditar em alguma fonte maior, espírita e inexplicável, em seguida que falar o maior absurdo de todos.
Certamente, vão achar que eu fiquei maluca. Eu sou maluca.
*
> Oi, gente, tudo bem? Eu sei que sumi por longos anos, mas o bom filho retorna, sim, para a sua casa algum dia.
Caso ainda esteja de pé as pessoas que me acompanhavam por aqui, começarei a criar coragem para postar. Eu, realmente, amo escrever essa história alternativa para alimentar a imaginação dos fãs.
Espero que tenham gostado!
Com amor,
Ju.
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Floribella | 3° Temporada
FantasyDepois de 15 anos, muitas coisas mudaram e começam a mudar na vida de todos. Uma grande reviravolta pode virar a vida de Maria Flor e de todos os Fritzenwalden do avesso.