10. Uncomfortable

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Carter

Ethan e eu tínhamos decidido que seria divertido se nós fizéssemos hambúrguer na fogueira, como passamos a fazer quando pequenos depois que o pai dele quebrou a churrasqueira a gás sem querer. Depois de muito tempo enrolando para arrumar a churrasqueira, Ethan e eu tivemos a brilhante — não tão brilhante assim — ideia de assar os hambúrgueres numa fogueira.

A princípio, o pai do Ethan e o meu ficaram animados com a ideia, o problema era conseguir fazer uma churrasqueira. Na época, improvisamos uma fogueira com pedras e alguns tocos de madeira que achamos pelo Larz Anderson Park depois de muito tempo rodando de carro para arrumar madeira para queimar. Estava tarde e não tinha nenhum lugar aberto para que pudéssemos comprar lenha, o que tornava a aventura ainda mais divertida para mim, para Ethan e até para o Nathan.

O hambúrguer na fogueira se tornou algo de família, então, pensando em fazer aquilo mais vezes, meu pai e o tio Leight construíram uma área especial no quintal só para podermos assar hambúrgueres na fogueira. Claro que, no fim das contas, nós acabávamos assando marshmallows e algumas outras coisas, especialmente no inverno, mas sempre que tínhamos a oportunidade de assar os hambúrgueres, nós o fazíamos.

Fiquei encarregado de comprar os refrigerantes enquanto meu pai e o melhor amigo dele comprariam lenha para por na fogueira, minha mãe e a tia Liz preparariam os hambúrgueres e o Ethan limparia e arrumaria o deck.

Era uma tarefa fácil, eu não precisava ser um gênio ou um mestre em qualquer porcaria para comprar refrigerantes. Ao menos deveria ser uma tarefa fácil.

Eu estava voltando para o carro quando me deparei com ela bem ali, sentada de frente para um cara. De frente para outro cara. Ela estava pensativa, eu sabia daquilo porque ela sempre olhava para baixo quando precisava pensar em algo de forma mais séria e eu me perguntava o que a deixara daquela forma.

Precisava sair dali o mais rápido possível, mas minhas pernas não me obedeciam. Era como se meus pés estivessem grudados na calçada. Eu mal conseguia piscar. Meu coração batia, acelerado como se eu tivesse tomado cinco engradados de energético, por um instante, pensei que eu fosse infartar, até respirar estava se tornando difícil.

E ela levantou o rosto, finalmente, com a intenção de olhá-lo no rosto, mas, como de costume, seus olhos se encontraram com os meus. Era praticamente uma maldição nossa e eu, por vezes, a detestava com força. Era impossível que nossos olhos não se encontrassem em algum momento, eles sempre procuravam um pelo outro.

No começo, quando nossos olhos se encontravam na infância, brigas aconteciam, ela, às vezes, me dava alguns tapas e socos, reclamando que eu era irresponsável e irritante. Na adolescência, nós discutíamos o tempo inteiro, especialmente porque eu queria entender o porquê de ela ser a única garota da nossa idade que não se sentia estranhamente atraída por mim. Pouco tempo depois, nossos olhos passaram a se encontrar de forma dolorida, porque eu conseguia sentir a dor dela.

Por três anos, nossos olhos se encontraram com tanta paixão que podíamos incendiar o mundo inteiro e, ali, depois de cinco anos longe dela, nossos olhos se encontravam com tanta dor que eu consegui, pela primeira vez, entender que a dor tem nome e cor. Ela é cinza e se chama fim.

Ela piscou algumas vezes, como se quisesse ter certeza de que realmente estava no mundo real, me vendo bem ali, parado como um monumento.

O mundo parecia desaparecer ao nosso redor, aquela sensação me fazia perder o controle por completo. O calor repentino que cortou meus pulmões preencheu meu corpo e me fez tomar o controle da respiração novamente, mesmo que eu não conseguisse me mover como deveria.

Eu não sabia o que eu queria fazer, se eu queria perguntar pra ela quem era aquele cara, se eu queria desaparecer e fingir que aquilo nunca tinha acontecido, se eu queria fingir que nós nem nos conhecíamos. Eu não fazia ideia.

Substancial |LIVRO 2|Onde histórias criam vida. Descubra agora