32. Mystery Of Love//Fears

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"Hold your hands upon my head
Till I breathe my last breath"
— Mystery Of Love; Sufjan Stevens.

Carter

Chequei pela milionésima vez os bolsos da mochila, eu queria ter certeza de que não estava esquecendo nada para trás. Eu sabia que minha cabeça de vento podia ser um tanto traiçoeira, não foram poucas as vezes em que fui viajar e acabei me esquecendo de levar alguma coisa importante, como a escova de dentes ou roupas de baixo, também não foram poucas as vezes em que eu perdi ou esqueci de guardar algum item e voltei para casa com camisetas faltando, meias sem pares e fones de ouvido que não eram os meus.

Todo acampamento em família era sinônimo de chinelos novos para mim, assim como todas as vezes em que eu ia dormir na casa do Ethan um pacote de escovas de dentes era aberto só porque eu tinha esquecido de levar a minha, isso até a tia Liz colocar uma escova de dentes com o meu nome no banheiro do quarto do Ethan.

Mas, daquela vez, por mais que eu estivesse checando tudo para ter certeza de não largar algo para trás, tudo o que eu mais queria era uma desculpa esfarrapada para que meu pai desse meia-volta no caminho e eu precisasse procurar por algo que esqueci, porque eu queria perder o meu voo.

Brookline era muito mais do que a minha casa, muito mais do que o lugar que eu conhecia como a palma da minha mão, ou o lugar onde fiz os meus primeiros e melhores amigos. Brookline era a cidade onde eu tinha aprendido o que era o amor, era o palco e a plateia do meu coração, e mesmo que eu gostasse de Ann Arbor e amasse a minha vida no Michigan, saber que quando eu saísse do avião eu nunca mais seria capaz de ver Allison Cooper me deixava angustiado.

Eu sentia meu peito se contorcer todas as vezes em que eu lembrava do que tinha acontecido. Era pior quando eu me dava conta de que a perdi de novo, mesmo prometendo para mim mesmo que eu nunca mais a perderia novamente. Já tinha visto ela partir de tantas formas e tantas vezes que, talvez, eu devesse ter me acostumado com a dor de perdê-la, mas não, eu não me acostumava, e cada vez que a perdi, a dor aumentava. Estava praticamente insuportável.

Respirei fundo, fechando o zíper maior da mochila e a puxando pela alça, a posicionando sobre o ombro. Dei uma boa olhada no meu antigo quarto, ele ainda se mantinha do jeito que eu o deixara aos dezenove anos, antes de pegar o meu primeiro voo para Ann Arbor.

As paredes cinzas ainda seguravam os vários pôsteres de bandas que Ethan e eu venerávamos quando mais novos, acima da cabeceira da minha cama, três prateleiras sustentavam todos os meus troféus e medalhas, a escrivaninha não estava mais desorganizada como costumava ser e não tinha nenhuma camiseta suja abandonada por ali, mas eu tinha certeza que se abrisse uma das gavetas, encontraria alguma prova de matemática ou de inglês.

Na porta do armário ainda tinha uma cesta de basquete pequena e de plástico, eu costumava colocar o cesto de roupa suja embaixo e arremessar os bolos de meias usadas na cesta, e os bolos caíam certeiramente dentro do cesto.

Olhei para a porta do quarto, minhas marcas de crescimento ainda estavam lá, dos meus quatro até os meus treze anos, intercaladas com as marcas de altura do Ethan, que até os quinze anos fora bem mais alto que eu. O quarto ainda era o mesmo, e provavelmente permaneceria daquele jeito até que meus pais decidissem se mudar misteriosamente para qualquer outro lugar do mundo — o que eu, particularmente, achava difícil, já que meu pai e o pai do Ethan sempre estavam juntos, enquanto Leight Mullins estivesse em Brookline, meu pai também estaria.

— Pegou tudo? — Minha mãe apareceu na porta, segurando-a na beirada.

— Acho que peguei — Enfiei as mãos nos bolsos laterais da mochila, me certificando de que meu fone de ouvido e meu carregador estavam por lá.

Substancial |LIVRO 2|Onde histórias criam vida. Descubra agora