24. Bottles

220 38 105
                                    

Carter

Allison pegou no sono nos meus braços. Seu rosto repousado sobre o meu peito, seus dedos curtos sobre meu coração, sua respiração pesada deslizando sobre minha pele, seu corpo desnudo colado no meu e tudo o que eu conseguia sentir era meu peito se comprimir.

Eu deveria me sentir no céu, mas acho que enquanto eu ainda fosse capaz de ver as coisas ruírem diante dos meus olhos, seria impossível. Mesmo que a mulher dos meus sonhos estivesse deitada dentro do meu abraço, despreocupada e tranquila, minha cabeça não me deixava em paz.

Pela primeira vez na vida, quis que Allison não tivesse medo de arriscar, pela primeira vez, quis mudar uma única vírgula da sua personalidade, porque eu não queria que ela precisasse pensar para poder aceitar o meu amor, eu queria que ela estivesse tão disposta quanto eu. Mas saber que eu tinha apenas uma semana antes de voltar para o Michigan com ou sem ela era desesperador.

E se ela dissesse não?

Quando cheguei na conclusão de que a nossa única saída era chamá-la para morar comigo, não pensei que fosse se tornar algo tão difícil. Eu tinha conversado seriamente com meus pais sobre aquilo, e mesmo que eles dissessem que eu já era um adulto e que aquela decisão precisava ser tomada apenas entre mim e ela, sentia que o maior empecilho ainda estava fora do nosso relacionamento.

Nós não éramos o problema. Não necessariamente. Mesmo que Allison precisasse tomar uma decisão, eu sabia o quão complicado seria explicar para os pais dela sobre aquilo e, talvez, por aquele motivo ela precisasse pensar tanto.

Afaguei suas costas com cuidado, não queria acordá-la. Na verdade, queria que o tempo congelasse para que eu pudesse permanecer ali pelo resto da vida. Ajeitei seu corpo no meu, segurando seu pulso contra meu peito e afastando seu cabelo com os dedos.

Quando começamos a namorar, eu tinha pesadelos constantes com ela. Praticamente toda noite a mesma cena se repetia: ela me mandando mensagens, eu chegando em sua casa e arrombando a porta do banheiro, ela praticamente inconsciente no chão do banheiro, os frascos de remédio espalhados por todo canto. Eu acordava ofegante, às vezes gritando, e não conseguia mais pegar no sono.

Eu comecei a ir na terapia por recomendação do conselheiro da escola, já que minhas notas começaram a cair de novo. No começo culpavam meu relacionamento com a Allison, mas depois que eu acordei a casa toda depois de um pesadelo, meus pais perceberam que o buraco era um pouco mais fundo. No fim, descobriram que eu estava sofrendo de um negócio chamado síndrome pós-traumático e a terapia cognitivo-comportamental me ajudou bastante.

Vê-la dormindo tranquilamente nos meus braços sempre foi uma maneira de me acalmar, mesmo que, por vezes, eu colocasse o dedo na frente do nariz dela só para saber se ela ainda estava respirando. Com o tempo, tudo aquilo melhorou e eu consegui relaxar, especialmente quando Allison começou a dar os primeiros passos na direção da superação do trauma do outro relacionamento.

Passei a mão por seu rosto e ela franziu o cenho, apertando os olhos antes de abri-los lentamente. Ela piscou preguiçosamente, passou os olhos por nossos corpos e levantou a cabeça, abrindo um sorriso ao encontrar meus olhos e eu não pude deixar de retribuir, sentindo meu coração acelerar.

— Você ainda tá aqui — Ela alargou o sorriso, apoiando o corpo nos cotovelos.

— Pra onde mais eu iria? — Franzi o cenho, confuso.

Ela baixou os olhos, apoiando o peso do corpo nos braços antes de impulsionar o corpo na minha direção. Seus lábios tocaram os meus, apertando-os um contra o outro lentamente.

Eu não sabia se devia deixar que ela o fizesse, não sabia mais se tinha sido uma boa ideia ter transado com ela depois de tudo. Eu ainda não tinha uma resposta positiva, ainda não sabia se ela realmente iria comigo para o Michigan e, no fundo, tudo aquilo só tornava as coisas ainda mais difíceis para mim.

Substancial |LIVRO 2|Onde histórias criam vida. Descubra agora