30. traitor

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Carter

As notícias continuavam em circulação, sempre uma nova manchete imbecil supondo alguma coisa absurda sobre Allison e eu. Era um verdadeiro inferno, pra falar a verdade. Independente do esforço que eu colocasse para minimizar os danos que aquilo poderia causar, nunca dava certo, era tudo em vão.

A recomendação era de que eu ficasse o mais longe possível dos holofotes. Tinha que agir como se nada daquilo tivesse acontecido, porque a indiferença seria como um balde de água fria para os tabloides, o problema era que quanto mais eu tentasse os ignorar, mais eles colocavam lenha na fogueira.

"Jogador do Pirates ainda não se pronunciou a respeito de caso com artista plástica", "Quarterback continua sem demonstrar qualquer tipo de interesse em se justificar, o que Brianne LaRochè acha disso?" e tantos outros títulos chamativos apareciam por todo canto.

Minhas redes sociais estavam se tornando um verdadeiro campo minado, e eu não podia me dar ao direito de privar cada uma delas. Não é assim que funciona pra quem tem o nome na mídia, era diferente. Eu podia bloquear quem mais me enchesse o saco, mas para cada uma pessoa bloqueada, outras dez apareciam.

Honestamente, eu não fazia ideia do que fazer, tentava me esquivar como conseguia, mas as coisas estavam saindo do meu controle. Já tinham chegado nas redes sociais dos meus pais, dos meus irmãos, tinham até conseguido vazar o número de celular do Ethan e a gente simplesmente não fazia ideia de como aquilo foi acontecer.

O que eu mais temia era que acabassem encontrando Allison fora das redes sociais, porque ela nunca mais teria paz. Ela tinha privado tudo, todas as suas redes sociais exibiam um cadeado ao lado do nome e mais ninguém, exceto seus seguidores, tinham acesso às suas publicações. Isso, claro, não significava que ela estava imune aos ataques bizarros, porque eles aconteceram majoritariamente no curto período de tempo entre o vazamento das fotos e a privatização das contas.

Os comentários estavam lá, e mesmo que ela se esforçasse para apagar os piores, a maioria ainda estava disponível para quem quisesse ver. Isso sem contar os vários seguires que ela ganhara no período de tempo antes de ela descobrir o que tinha acontecido. Mesmo com a privatização das redes sociais, ainda tinha muita gente disposta a encher a porra do saco, e era tanta gente que seria difícil bloquear um por um.

Era duro não poder fazer nada, especialmente depois do ponto final que findara qualquer chance que teríamos de ficarmos juntos. Eu queria poder mudar as coisas, mas talvez eu devesse ter sido mais cuidados ao falar da família dela. Ainda era do pai dela que estávamos falando, não era da melhor amiga ou coisa do tipo, mesmo que ele fosse o pior cara do mundo — ou o melhor —, eu não podia ter sido tão insensível.

Por um lado, eu ainda pensava que aquele fim repentino fosse só uma reação exagerada em relação a tudo — a nós dois e à traição do pai —, motivada pelo medo e pela insegurança, e mesmo que não fosse, ainda doía... E doía muito.

Meu peito parecia pesar incontáveis toneladas. Eu não queria que nós tivéssemos que seguir por caminhos diferentes, não depois de tudo. Eu queria ela ao meu lado, não por um tempo, eu queria ela sempre comigo.

Meu voo de volta para Ann Arbor seria no dia seguinte, não tinha mais volta para nós dois. Nem tínhamos mais tempo para isso.

Joguei o celular sobre a cama e passei as mãos pelo rosto, eu precisava começar a arrumar minhas malas, mas todas as minhas coisas estavam espalhadas pelo quarto — e até pela casa.

A pilha de camisetas estava sobre a cama, perto do bolo que as cobertas desarrumadas formavam no pé do colchão. Eu mal sabia por onde começar, se pelas calças, as camisetas, os casacos, talvez eu devesse começar pelos tênis.

Substancial |LIVRO 2|Onde histórias criam vida. Descubra agora