CAPÍTULO 10

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Alguém sabe me explicar como a senhora Myoui consegue ser tão cruel com nosso pingo de gente? 🤏🏽🥺

Boa leitura 🤍

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Myoui Mina

Além das instruções de Chaeyoung, o caminho todo foi silencioso. Quanto mais nos afastávamos de meu bairro, mais mudava meu humor. Quando paramos em frente a uma casa em mau estado, me virei para Chaeyoung.

- Essa é sua casa?

Ela balançou a cabeça.

- Não. Alugo um espaço na casa.

Deixei o carro no ponto morto, arrancando meu cinto.

- Mostre para mim.

Eu a segui pelo caminho irregular, verificando se tinha armado o alarme. Torcia para os pneus estarem no carro quando eu voltasse. Na verdade, torcia para que o carro estivesse lá.

Não tentei esconder meu desgosto ao olhar em volta para o que eu presumia o que fosse considerado uma quitinete. Eu considerava um lixo. Um colchão, uma cadeira velha, uma escrivaninha que também servia de mesa eram as únicas peças de mobília no cômodo. Um balcão baixo com um forno elétrico e uma geladeira pequena compunham a cozinha. Havia meia dúzia de caixas empilhadas perto da parede. Um cabide pendurava as roupas amarrotadas e blusas que Chaeyoung usava. Fui até a única porta no cômodo e a abri. Um banheiro minúsculo com um chuveiro tão pequeno que eu sabia que nunca conseguiria usá-lo.

Fechei a porta e me virei para Chaeyoung. Ela me observava com olhos nervosos. Nada disso fazia sentido para mim. Fiquei na frente dela, segurando meu olhar em seu rosto.

- Você tem algum problema do qual eu deveria saber?

- Como disse?

- Tem problema com drogas? Ou outro vício?

- O quê? - Ela arfou, colocou a mão no peito. Rodei as mãos no ar.

- Por que está morando desse jeito? Eu sei quanto você ganha. Pode bancar um lugar decente. Em que está despachando seu ganho, garota?

Ela estreitou os olhos e me encarou.

- Eu não tenho problemas com drogas, Mina. Tenho outras prioridades para meu dinheiro. Não importa onde durmo.

Encarei-a de volta.

- Importa para mim, Chaeyoung. Isso é uma calamidade. Você não vai mais ficar aqui. Arrume suas coisas. Agora de preferência.

Ela colocou as mãos na cintura. Indignada.

- Não. Você não pode impor isso pra mim.

Dei um passo à frente, encarando seu olhos. O espaço era tão pequeno que, quando ela recuou, bateu as costas na parede. Fiquei cara a cara com ela, mesmo de uma forma ameaçadora, deu para analisar seu rosto. Seus olhos, apesar de bravos, estavam claros. Travando seu olhar, peguei seu punho, puxando sua manga para cima. Ela quase rosnou ao puxar o braço de volta, segurando-o no ar, fazendo a mesma coisa com o outro.

- Sem sinal de agulhas, Mina. - Ela cuspiu e me empurrou para trás. - Não uso drogas, sua desequilibrada. Não fumo, não cheiro nem as injeto em meu organismo. Satisfeita? Ou quer procurar mais? Devo mijar em um potinho para você?

- Não. Acho que tenho de confiar em você. Se eu descobrir que está mentindo, todo esse acordo será desfeito.

- Não estou mentindo.

Recuei.

- Tudo bem, desculpe. Mas isso não está em discussão: você sairá daqui hoje à noite. Não vou arriscar que Joohyun a encontre morando em um lugar como este.

- E se não lhe for oferecido o emprego? O que faço depois? Duvido que vai me deixar ficar com você.

Sorrir.

Ela tinha meia razão.

- Com o seu novo salário, você poderá bancar alguma coisa decente. - Olhei em volta de novo. - Você não vai levar esses móveis, você não precisará deles.

- Não são meus.

- Graças a Deus.

- Você é metida, sabia disso? São velhos, mas ainda úteis e limpos.

Ela fechou a cara.

Eu tinha de admitir que o lugar era cuidado e limpo - mas ainda era horroroso.

Ignorei o sarcasmo dela.

- Essas caixas vão?

- É mesmo necessário fazer isso agora?

- Sim.

Ela pareceu pensar por uma eternidade, como se analisasse toda a sua vida, e por fim suspirou.

- Sim. As caixas vão.

- Certo. Vamos colocá-las no banco de trás. Seu, ahn, guarda-roupa pode ir no porta-malas. O que mais você tem?

- Algumas coisas pessoais.

Coloquei um cesto de roupa suja na sua frente.

- Coloque-os aqui. Jogue fora toda comida que tiver.

Um olhar estranho passou por sua expressão.

- Não tenho nada... a não ser alguns muffins.

A encarei, Chaeyoung desviou o olhar.

- Comer é um problema também? Por isso que você é tão magra, garota.

Ela jogou a cabeça para trás.

- Você ao menos vai tentar ser educada? Ou vai poupar o esforço para quando estivermos em público?

Levantei a primeira pilha de caixas.

- Acho que você vai descobrir. Agora, vamos pegar as suas coisas. Você não vai voltar aqui.

[...]

Abri a porta do quarto de hóspedes, entrando e acendendo a luz depois de colocar algumas caixas que havia trazido do outro lado da cidade. Juntas, depois de algumas viagens, levamos tudo para o quarto dela. Dei um passo para trás e visualizei a situação. Não era muito. Eu estava tentada em querer saber por que ela tinha tão pouco, depois decidi que não valia a pena a discussão. Podia dizer pela tensão em seus ombros e na forma como seus lábios estavam apertados, que eu a tinha pressionado o suficiente pela noite.

- Chaeyoung, confie em mim. Será melhor assim. Agora, quando eles te perguntarem, você pode dizer com sinceridade que moramos juntas.

- E se seu plano falhar, minha vida estará despedaçada.

- Se meu plano falhar, sua vida estaria despedaçada de qualquer forma. Ji-eun nunca confiaria em você para deixá-la trabalhando lá; ela a despediria e você não teria nada. Deste jeito, você terá algum dinheiro no banco, vou me certificar de que arranje um emprego e pode morar em um lugar melhor. De uma forma ou de outra, precisa ser bem melhor do que onde você morava. - Ela me encarou. - Nesse meio-tempo, você ficará em um lugar seguro e muito mais confortável. Quando seguirmos em frente, você pode decorar o quarto de acordo com seu gosto. Você tem acesso a todo o apartamento. Além da academia, há uma piscina grande e uma área de spa lá embaixo, e te garanto que seu banheiro é luxuoso.

- Há uma banheira? - Ela perguntou, um traço de desejo em sua voz.

Senti-me estranhamente bem ao poder responder que sim, e abri a porta com um floreio, mostrando sua banheira enorme. Pela primeira vez, vi um sorriso de verdade no rosto dela. Deixava sua expressão mais tranquila, iluminando seus olhos. Eles tinham uma tonalidade incrível.

- É sua, Chaeyoung. Use-a quando quiser.

- Vou usar.

Fui até a porta dela.

- Ajeite-se e durma um pouco. Amanhã o dia será longo e difícil, e precisamos nos preparar para o fim de semana. - Hesitei, mas sabia que precisava começar a tentar. - Boa noite, Chaeyoung.

- Boa noite, Mina.

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