Alexander Lightwood estava confuso. Na verdade, isso seria um eufemismo. Ele não entendia porque tinha tantas sensações em relação à Magnus Bane, e o que isso significava. De fato, ele não saía muito como Isabelle e não era tão sociável como Jace. Isso o tornava tímido, retraído e antissocial. Não que ele se incomodasse com isso, na verdade, sua personalidade introvertida nunca tinha o incomodado antes. Entretanto, desde que Magnus havia cruzado seu caminho, isso o incomodava mais do que tudo. Ele se lembra de como as mãos estavam trêmulas no beco, como parecia ter algo segurando sua língua, e como de repente ele tinha que se esforçar o triplo para manter uma simples conversa de dez minutos com o feiticeiro. Parecia que ele tinha perdido a capacidade motora e que havia perdido a habilidade da fala. E agora se sentia mal com isso, se sentia um verdadeiro idiota. Se perguntava se talvez Magnus tivesse notado isso, e se estava pensando se ele era um completo tolo agora. Talvez ele não devesse se torturar dessa forma, mas não conseguia evitar. Era um habito horrível que ele aprendera a cultivar ao longo dos anos. Izzy sempre o alertava de que ele pensava demais, que ele hesitava demais, considerava demais. A irmã costumava dizer que ele estava perdendo o melhor da vida. Dizia que ele estava se esquecendo de viver, e que se arrependeria muito no futuro.
Alec queria ter um terço da coragem de Isabelle, e metade da autoconfiança de Jace. Sabia que Izzy estava certa ao dizer aquelas coisas para ele, mesmo que não admitisse na frente dela. Às vezes ele se pegava se comparando com Jace, em como tudo parecia ser tão simples para o irmão. Como ele era simplesmente charmoso, confiante e encantador. Qualquer um que cruzasse o caminho de Jace se derreteria por completo aos pés dele, e isso fazia com que Jace tivesse o maior dos egos. Também se comparava com Isabelle. Se pegava pensando em como a irmã parecia ter nascido com a graça e a beleza na medida certa. E em como ela parecia possuir o dom do flerte e da sedução, levando todos os homens que cruzassem seu caminho à loucura. Eles faziam isso parecer tão fácil como andar de bicicleta. E Alec, sendo Alec se questionava se realmente fazia parte da família. Mesmo sabendo que Jace não era seu irmão de sangue, e sim por opção, se perguntava se tinha algo errado com ele, o porque de ser assim, e o que podia fazer para mudar isso. Ele sabia que era uma boa pessoa, com ideais e crenças honrosas. Sabia discernir entre o certo é o errado. Não tolerava injustiças, e sempre buscava fazer tudo para o bem de todo mundo. Então, por que ainda assim se sentia estranho? Se sentia do avesso, como se não fizesse parte da família que se esforçava tanto para manter a aparência da perfeição.
Isabelle tinha razão, Alec pensava demais. Ele sabia disso e isso o irritava de certa forma. Ele sabia que isso era uma forma de tortura, como se ele estivesse punindo à si mesmo. Sabia que isso o levaria a loucura algum dia, mas não conseguia evitar. Pensar demais fazia parte de quem ele era, ele era assim e não tinha como mudar. Ele já havia tentado de tudo. Nada tinha se mostrado eficaz. Ele esperava um dia acordar, se sentindo bem consigo mesmo, sem esse peso esmagador que sentia no peito. Esperava poder respirar fundo sem sentir um aperto na garganta o sufocando cada vez mais a cada respiração. Queria ser bom o suficiente. Queria não ter de se esforçar tanto. Queria não falhar sucessivamente. Estava exausto. Às vezes queria simplesmente correr para bem longe e se esquecer de tudo e de todos. O peso que colocaram em seus ombros parecia pesar mais a cada dia, e Alec tinha certeza que um dia seria esmagado por ele. O corpo todo doía mesmo quando não caçava nada por dias. Alec estava certo de que seu cansaço não era físico e sim mental. A mascara que ele usava todos os dias diante da família, da clave e da sociedade em si estava sugando sua energia, sua força de vontade. Eram muitas exigências. E cada vez que Alec cumpria alguma delas, sempre despejavam mais em seu prato. Alec tinha que ser forte, não deixar que suas emoções o controlassem. Ele deveria aprender a controla-las. Deveria estar sempre a postos, esperando uma ordem da clave. Deveria treinar mais, se tornar melhor, mais rápido. Não devia errar um alvo. Não devia demonstrar fraqueza. Não devia ter um ponto fraco. Ele era um Lightwood, deveria sempre ser impassível. A honra de sua família dependia dele, e ele sempre tinha se esforçado para manter o nome da família impecável perante a clave. Todos tinham um enorme respeito pelos Lightwoods, o que o deixava aliviado de certa forma, pois sabia que não estava fazendo um péssimo trabalho, como imaginava. Todavia, no fundo ele sabia que o responsável por isso era Jace. O irmão, mesmo que não fosse de sangue, era de longe o maior orgulho de Robert e Maryse. Alec crescera ouvindo que deveria ser mais como Jace. Mais atento como Jace, mais rápido como Jace, mais forte como Jace, mais habilidoso como Jace. Ele fingia que aquilo não o machucava, não o afetava, porque fora ensinado, fora treinado para camuflar emoções. Mas no fundo, sabia que nunca seria tão bom quanto Jace era, e que nunca traria tamanho orgulho aos pais.
Ele não odiava o Jace, Alec o amava mais do que tudo. Apenas estava cansado de ser comparado ao irmão o tempo todo, tendo que viver à sombra de Jace. Um suspiro cansado escapa do lábio de Alec, e ele fecha os olhos com força. As vozes dentro de sua cabeça estavam muito altas hoje, mais altas do que o normal, e isso estava desgastando ele. Uma batida na porta de seu quarto o tira de seus devaneios, e ele se levanta, indo lentamente em direção a porta. Lá estava o pai, parado com uma feição que parecia ser confusa. Alec voltou lentamente até a cama e se jogou nela, exausto. Ouviu o pai fechando a porta do quarto e se sentou, pronto para enfrentar o que quer que fosse.
- Esteve aqui o dia todo? - perguntou o pai. Alec apenas assentiu com a cabeça. - Você perdeu a reunião... esqueceu que era hoje?
- Não esqueci, apenas estava dolorido demais para comparecer. - Alec respondeu. - Eu pedi para o Jace...
- Ir no seu lugar? Ele foi! - o pai rebateu, o interrompendo. - Entretanto, não era obrigação do Jace ter ido hoje. Era sua. - Alec fechou os olhos se preparando para mais uma discussão infernal.
- Pai...
- Sem desculpas Alexander. Acha que eu não tenho notado? Você anda por aí, avoado, despreocupado... diria até que um pouco atormentado.
- Talvez eu esteja... - Alec disse baixinho na intenção que o pai não ouvisse.
- Isso é ridículo. Você é um caçador de sombras, suas emoções não dominam você. Você as domina!
- Desculpa... só não tenho dormido direito e estou cansado. Vou me esforçar mais. - Alec disse.
- Eu realmente espero.
- A missão de hoje, acho que deveríamos seguir pelo norte e...
- Você não vai na missão de hoje. - Robert o interrompeu novamente. Alec o encarou perplexo.
- Como assim? Eu me preparei para essa missão por semanas... eu dei o meu melhor...
- Bem, então talvez o seu melhor não seja bom o suficiente. - o pai ditou amargamente. - Jace está assumindo a missão. Vim apenas avisá-lo, dizer que não precisa mais se preocupar com isso também.
- Pai, isso não é justo. O senhor sabe disso, sabe que eu me esforcei ao máximo e...
- Não, eu não sei Alexander. Como disse, o seu melhor, o seu máximo... não é o suficiente, não para a clave, não para sua mãe, não para mim. - disse o pai. - Sugiro que se esforce mais. Por que não aprende com o Jace? Seu irmão tem muito à oferecer, e você muito à aprender. Você é um Lightwood, haja como tal. - disse o pai antes de sair do quarto e bater a porta.
Alec encarou o nada por alguns minutos antes de se deitar novamente na cama. Estava frustrado, machucado, triste e até com um pouco de raiva. Se perguntava se algum dia seria bom o suficiente para alguém. Com esse pensamento e com o coração doendo, Alec caiu em um sono profundo, desejando esquecer tudo o que tinha acontecido.
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Se Eu Não Posso Ter Amor, Eu Quero Poder
Fanfiction- Se eu não posso ter amor, eu quero poder! - Magnus disse com um tom de voz alterado. Todos estavam olhando para ele agora, exatamente como ele havia planejado. - Magnus, não faça isso! Você vai se arrepender! - Magnus ouviu o pedido da amiga, que...